A Longa Marcha foi o primeiro livro escrito por Stephen King, quando o autor tinha apenas dezoito anos, e publicado posteriormente em 1979 sob o pseudônimo de Richard Bachman. Esta obra já havia sido impressa anteriormente em solo nacional em uma compilação dos quatro primeiros livros de Richard Bachman intitulada Os Livros de Bachman.

Esse volume parou de ser publicado, no entanto, devido ao próprio autor ter retirado a publicação de circulação devido às repercussões de outro dos livros existentes no compilado, intitulado “Fúria”.

O livro banido de Stephen King

Assim, após anos fora do mercado brasileiro, a editora Suma decidiu republicar “A Longa Marcha” fora do compilado original, em edição primorosa. Esta versão conta com ilustrações de início de capítulo que acompanham o desenvolvimento da narrativa, uma boa diagramação, e uma capa belíssima. 

A Longa Marcha conta a história de uma competição na qual cem meninos entre doze e dezoito anos devem caminhar ao longo dos Estados Unidos acima de uma velocidade pré-determinada. Parar, desviar o caminho ou andar abaixo da velocidade permitida constituem infrações. Após três infrações, o participante é eliminado permanentemente. Vence o último que conseguir continuar caminhando.

Esta sinopse, a princípio simples, foi muito inovadora na época em que foi escrita, inaugurando uma temática muito presente em obras de ficção da atualidade: uma competição em que os perdedores pagam com a própria vida. Desde a produção e publicação deste livro, muitas outras obras já foram produzidas com o mesmo tema. A título de exemplo, podemos citar Battle Royale (1999), Jogos Mortais (2004), Jogos Vorazes (2008) e Round 6 (2021). Apesar do sucesso atual da temática, o próprio King aponta, na voz de um dos personagens deste livro, o quanto desde os princípios da sociedade a humanidade já regozijava perante o sofrimento e morte humanas, bastando lembrar das lutas de gladiadores na Roma antiga.

Neste livro, o tema tão popular ganha contornos específicos ao focar nas interações entre os participantes e nas relações que eles desenvolvem em um contexto tão atípico, levando a reflexões sobre vida e morte.

Em se tratando da minha experiência com a obra, demorei para me envolver. Não compreendia a motivação de alguns diálogos e reflexões dos personagens, e me parecia que a narrativa seguia um percurso repetitivo. Constatei também, não sem algum choque, que as obras atuais com a mesma temática tem uma dose muito maior de violência, o que estava me desensibilizando para as agressões sofridas pelos personagens de A Longa Marcha.

Acabei concluindo que este era apenas mais um reflexo da banalização da morte, uma temática extremamente importante e atual. Afinal, quantos de nós não olhamos para as tragédias que aparecem no jornal, nos chocamos por minutos – se não segundos – e logo passamos para a próxima notícia? Como o personagem McVries aponta, parte do problema é que todas aquelas mortes são triviais.

Foi após essa constatação que comecei a conseguir me relacionar mais profundamente com o que estava sendo relatado. King descreve detalhadamente o percurso de alguns personagem ao longo da marcha, fazendo com que compartilhemos dos seus medos e esperanças, e até sentimos parte da exaustão que todos eles eventualmente acabam sentindo.

Soma-se a isso uma parcela interessante de reflexões disparadas a partir das interações entre personagens, gerando um livro inteligente, que recomendo a quem quer que se interesse seja pelo King, seja pelo tema central do livro. Indico este livro também para leitores que queiram conhecer a obra de Stephen King, mas queiram passar longe dos terrores sobrenaturais que o autor frequentemente escreve.

Avaliação: 4 de 5.

  • The Long Walk
  • Autor: Stephen King (Richard Bachman)
  • Tradução: Regiane Winarski
  • Ano: 2023
  • Editora: Suma
  • Páginas: 288
  • Amazon

rela
ciona
dos