Sempre fui muito contra livros de contos, corria deles como o diabo foge da cruz. Achava que o enredo não podia se desenvolver de uma forma agradável em histórias tão curtas. Algo sempre parecia faltar. Eu queria saber mais sobre os personagens, sobre o mundo onde viviam, sobre tudo que envolvia aquelas narrativas. Mas, como já falei aqui algumas vezes, fiz um curso de escrita, onde aprendemos a escrever principalmente a partir daquilo que lemos. E então, os contos foram inseridos na minha vida de uma maneira completamente diferente, catapultando a ideia de experiência que eu tinha com eles.

Porém, os contos do mestre Stephen King sempre foram os que eu gostava de ler. Eram bem desenvolvidos, mesmo sendo histórias curtas. Muitos deles passavam das cem páginas, um tamanho que eu já julgava adequado para que uma história conseguisse ter começo, meio e fim. E justamente este livro foi o primeiro de contos do King que li depois de mudar minha opinião sobre esse estilo literário. E a experiência não poderia ter sido melhor.

Créditos: Editora Suma

Li Mais Sombrio tentando aprender durante cem porcento do tempo, observando como um dos maiores escritores de todos os tempos iniciava suas histórias, quais técnicas escolhia para desenvolvê-las e como seus finais tomavam forma aos poucos. Foi como ter acesso à melhor aula literária que se pode ter.

A genialidade que King emprega em seus contos neste livro é fenomenal. Utilizando uma variedade de características, ele passeia por vários temas e formas de construção textual. Dentre os doze contos que compõem esta obra (cinco deles nunca antes publicados), temos alguns curtos, com pouco mais de dez páginas, e outros longos, ultrapassando uma centena delas.

Os contos mais longos seguem sendo meus favoritos; é inegável que eles conseguem nos prender mais à trama, fazer nossa atenção ficar totalmente imersa nos enredos e nos proporcionar viradas narrativas memoráveis, com momentos impactantes daqueles que arrepiam de forma inesquecível. Dentre esses contos longos, um em especial me deixou catatônico, sendo, sem nenhuma dúvida, o melhor do livro e talvez um dos melhores que já li na vida.

Trata-se de O Sonho Ruim de Danny Coughlin. Nele, Danny, um rapaz inocente e de ótimo coração, avista um corpo sem vida em um sonho. O sonho é tão penetrante e nítido que ele resolve ir até o local onde seus pensamentos noturnos haviam passeado. Chegando lá, realmente há um corpo, de uma mulher, já sem vida. Ele quase não pensa duas vezes e liga para a polícia — afinal, alguma família deveria estar procurando desesperadamente por aquela mulher.

O problema é que ninguém acredita que ele descobriu aquilo por causa de um sonho; os policiais o colocam como principal suspeito do crime, e não demora muito para ele ir parar atrás das grades. Agora, Danny se culpa por ter feito aquela denúncia, principalmente da maneira como foi feita, e nós acompanhamos toda a angústia de um homem que parece ser inocente e acaba perto da cadeira elétrica por ter tentado ser bondoso.

O conto é perfeito, um favorito imediato. Daquelas histórias que fazem a gente chorar de pena do personagem principal, vendo todo o seu sofrimento, sem ter a menor ideia se aquilo que está sendo contado é realmente a verdade por trás de tudo que aconteceu.

Outros contos da coletânea também são excelentes. Dois Fios da Mãe Talentosos, Willie Esquisitão e Cascavéis (sequência inédita de Cujo) também ganhariam cinco estrelas minhas, caso fossem analisados separadamente. Porém, alguns contos mais curtos acabaram equilibrando minha avaliação final. O Quinto Passo e Finn me pareceram fracos, sem conseguir passar o mesmo sentimento de contentamento que senti com as outras histórias.

Stephen King, para variar, ainda insere diversos fan services, estilo easter eggs, em suas narrativas, dando aquele quentinho no coração de quem ama esse autor maravilhoso. Agora, o leitor que fugia dos contos não se importa mais em ter receio do próximo livro neste estilo do autor. Pelo contrário, agora até torce para que aconteça mais vezes, para assim aprender ainda mais com ele.

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