Eva é a famosa mulher do dedo podre. Sabe aquela sua amiga que sempre acaba ao lado de um cara péssimo, traidor ou grosseiro? Essa amiga pode até ser você mesma e você divide essas péssimas experiências com a protagonista dessa história. Eva tem 30 anos, e é uma romântica incorrigível. E quem poderia culpá-la? O último conselho dado pela mãe dela antes de falecer era justamente para ela encontrar aquela estrela que traria a verdadeira felicidade. E a garota não perdeu tempo. Desde o jardim de infância ela caça essa famosa e tão sonhada estrela, mas o que a mãe não contou é que essa tarefa seria tão difícil. Depois de se deparar com tantos homens horríveis ela acredita que finalmente conheceu o príncipe encantado. Para segurar esse amor ela é capaz de qualquer coisa, até mesmo de abandonar a família, o gato e o melhor amigo enquanto pega um avião que a levará para o outro lado mundo.

Mas dessa vez o azar não estava pra brincadeira e não só o príncipe gostava de outro príncipe, como também torrou toda a conta bancária dela e fez o favor de macular a cama dos dois quando levou o boy magia pra casa. É isso! Eva realmente não tem sorte no amor. Até o namorado dela conseguiu conquistar um gato daqueles, enquanto ela ficou chupando o dedo. Agora a única alternativa é voltar pra casa, recuperar sua vida e continuar de onde ela parou. Porém ela nem imagina que enquanto ela corria atrás de um sonho, todos seguiram em frente e que o ela conhecia como certo já não existe mais. O pai casou e não contou pra ela, o gato foi levado pelo melhor amigo, e ele, bom, ele está namorando uma mulher tão linda quanto insuportável. Parece que não tem mais lugar pra ela nessa nova realidade e fazer um barraco de dimensões extraordinárias não dará certo dessa vez.  Acontece que pra piorar ainda mais essa situação, ela se descobre apaixonada por alguém totalmente inalcançável, e proibido. Poxa destino, quando você pretende parar de brincar?

Meu namorado estava na cama com outro cara – e que cara, meu Deus! Só que esse não é o foco! O foco é que eu sou uma tremenda chifruda.

Nossa protagonista é o retrato de muitas garotas por aí. Então houve de imediato uma identificação com a personagem. Ela é engraçada, as falas entusiasmadas são recheadas de piadas sobre comiseração, mas também sobre como ela deve ter jogado pedra na cruz, ou queimado bruxas nas fogueiras, afinal esse tipo de azar não pode ficar sem justificativa. Quando você começa acompanhar essa história, várias merdas já aconteceram, e sem conhecer Eva ao certo, você morre de pena da garota e torce para que ela tenha o final feliz, já que é quase como torcer pra si mesma. Só que após mais alguns capítulos de lágrimas, gargalhadas e vergonha alheia, você ta morrendo de ódio da protagonista e maldiz a autora em seus desejos mais secretos. Calma lá! É tudo questão de ponto de vista vocês poderiam pensar, mas depois de ler 448 páginas de manha, egoísmo e chiliques infantis, fica bem difícil defender.

Eva é um dos tantos pontos negativos da trama que tinha tudo para ser um clichê gostoso e divertido, mas falaremos dela depois. O enredo parece um recorte de toda comédia romântica que você já tenha visto na sessão da tarde. Recomeços, drama, paixão entre melhores amigos, um pouco, bem pouquinho mesmo de amadurecimento, lágrimas e sorrisos… Enfim, seria uma história completa se não fosse tudo um exagero. Ah os exageros! Tudo é muito cinematográfico, tudo é demais, a Eva fala demais, pensa demais… Eu amo narrativas em primeira pessoa, mas nesse livro ela foi cansativa. Frases curtas impuseram um ritmo frenético na leitura, algo que cansa mesmo o leitor mais assíduo. As primeiras 100 páginas passam voando, e as seguintes também, mas é como ouvir um incessantes falatório na mente. Não ajuda que os diálogos e falas sejam irreais demais para serem verossímeis. Eu amo um clichê, mas ele precisa ter um mínimo de coerência, ou se aplicar apenas em determinado momento da trama. Tem de haver um espaço para originalidade do autor.

Eu fiz tudo por Eva, e ela simplesmente decidiu ir embora. Eu não sabia o que fazer para que ela compreendesse que eu era muito mais que um amigo que não aceitava sua escolha, que eu queria ser a escolha.

Escutei diversas vezes que nada se cria, tudo se reinventa e eu amo ver minhas histórias favoritas ganhando novos personagens, novas nuances, novos tons. Mas tem que haver algo novo e Caçadora de Estrelas poderia ter trazido esse algo se seguisse um único rumo e detalhasse com cuidado certos aspectos importantes da história. Teve de tudo na trama, mas foi raso e mal aproveitado. Não vou mentir e dizer que foi tudo totalmente odioso. Mas me incomoda perceber que a Raiza certamente sabe escrever uma boa história, visto que os personagens secundários são tão brilhantes, principalmente o Gabriel, e que ainda assim tenha entregado um enredo tão fraco e medíocre. Talvez fosse possível ignorar alguns defeitinhos se a narradora não fosse tão mesquinha e orgulhosa quanto a Eva. Eu poderia escrever uns 10 parágrafos sobre os motivos que fazem da Eva uma das personagens mais chatas e desagradáveis de todos os tempos, mas vou deixar esses julgamentos para você enquanto se aventura nessa leitura. Irei pontuar apenas alguns que são essenciais para que a resenha faça sentido.

Em primeiríssimo lugar: Eva é extremamente egoísta. Ela está sempre desesperada para viver a própria vida, mas não aceita que os outros façam o mesmo. Ela é uma filha péssima, que não se importa com os sentimentos do pai em momento algum, pelo contrário, faz de tudo para fazer da vida dele e da madrasta um inferno. Em segundo lugar: Ela é uma amiga tóxica e abusiva. Eu até entendo que o Gabriel aceite as imposições malucas dela em nome do amor, mas muito me admira que ela não veja a si mesma na posição de exploradora. Ela gasta o dinheiro do rapaz, invade a casa dele e se acha no direito de escolher onde vai dormir, rouba o carro dele da garagem, manda ele escolher entre a amizade deles e a namorada, mas não pensou duas vezes quando largou ele chorando na frente da casa dela e correu pros braços de um desconhecido. Terminei essa leitura tem quase 20 dias e sigo full pistola com essa personagem. Se eu conhecesse qualquer pessoa como a Eva, eu atravessaria a rua só pra não correr o risco de vê-la participando da minha vida de alguma forma. Meu conselho pro Gabriel: Corre!

– Se você ama alguém de verdade, você fica, Eva. Não importa quanto doa se despedir, ou do que tenha que abrir mão, você fica. – Ele é incisivo. Eu sabia que Gabriel tinha razão, mas naquele momento me parecia sacrifício demais pensar em me destruir por alguém, não importa quanto amasse essa pessoa. Eu sou mesmo uma criatura muito egoísta, ainda bem que ele me ama assim.

Eu, que antes torcia pra mocinha conhecer o amor verdadeiro e ser feliz, só me via querendo esganar a infeliz, e berrar ACORDA PRA VIDA MINHA FILHA, O MUNDO NÃO GIRA AO REDOR DO TEU UMBIGO. Então apesar do ranço, eu continuei lendo pois tinha esperanças que o amadurecimento viesse e voilá, uma nova e renovada mulher surgisse… A Raiza Varella inseriu no enredo, antes leve e até mesmo engraçado, um puta plot twist, daqueles que te deixam literalmente de boca aberta. Um dramão meus amigos, saído diretamente das páginas mais tristes de Nicholas Sparks. Eu chorei? Muito. A Eva chorou? Muito. Houve espaço para o desenvolvimento dela como ser humano? Porra, 448 páginas! Isso aconteceu? Eu estaria mentido se dissesse que houve um milagre. O único momento em que não houve excessos talvez tenha sido no desfecho, que prefiro não comentar se é triste ou feliz já que você precisa conhecer e tirar as próprias conclusões.

Por fim, eu só queria um Gabriel na minha vida. Que homem meus amigos! Os capítulos narrados por eles são verdadeiros presentes no meio de tanta loucura e eu senti pena de tudo o que ele passou, enfrentou e aguentou para viver o amor que sempre desejou. O pai da Eva também foi um bálsamo na história. Um homem disposto a diversos sacrifícios para criar os filhos, um verdadeiro exemplo do que é o amor fraterno. Vê-lo encontrando a felicidade após tantas decepções foi lindo e realizador. A amizade entre os personagens masculinos foi meta de vida, e acho que se a Eva não fosse desse jeito todo aí, ela também poderia ter protagonizado bons momentos ao lado da amiga e das novas pessoas que de certa forma invadiram sua vida.

Eu peço desculpas do fundo do coração se minhas palavras parecem duras demais, mas eu gosto de ser verdadeira acima de tudo e fiquei sim indignada com que encontrei na obra. Mas também dou o braço a torcer e reforço que vejo na autora um potencial enorme para nos fazer suspirar. Espero ter a oportunidade de ler outras coisas escritas por ela e espero que você também se dê essa oportunidade.

  • Caçadora de Estrelas
  • Autor: Raiza Varella
  • Ano: 2018
  • Editora: Verus
  • Páginas: 448
  • Amazon

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