Atenção! Essa resenha terá spoiler do primeiro volume dessa duologia, leia com sua conta em risco.

Estamos de volta ao Temptation, agora com uma infinidade de possibilidade e tendo Nix como a capitã. Após outra tentativa falha de retornar ao Havaí e mudar o passado, Slate fez uma difícil escolha e optou por Nix, sua escolha também vem seguida da dificuldade de abandonar o vício em ópio, o que o leva a ficar a maior parte do tempo trancafiado em sua cabine, depressivo e em estado de abstinência. Por outro lado, Nix está tendo dificuldades em escolher o novo destino, mapas e mapas a sua frente e nenhum parece perfeito o suficiente, principalmente quando uma profecia recai sobre sua cabeça, ameaçando a vida daquele que ela ama.

Ciente do que isso pode significar e amedrontada pela possibilidade de ficar exatamente igual ao seu pai, Nix entra em desespero, pois ela bem sabe como é sofrer por alguém que amou e perdeu. Seu pai se afundou em tristeza, em um vício terrível, passou a ter uma existência amargurada e destinou a sua vida em buscar uma forma de voltar no tempo e mudar o passado. Estará ela destinada ao mesmo? Tal questionamento faz com que Nix, não questione os riscos reais de uma proposta boa demais que surge a sua frente, visitar uma ilha utópica e encontrar uma pessoa que garante ser capaz de mudar o passado. E é dominada por essa necessidade cega de mudar o passado que ela passa a tomar algumas decisões precipitadas e egoístas. E se nada for exatamente como é? E se a realidade for ainda mais assustadora do que ela imaginou? Estará Nix preparada para lidar com as consequências de suas escolhas?

— Talvez o amor e vida sejam parecidos nesse ponto — sugeriu Rotgut, mastigando um doce. — Não precisam ser eternos para valer a pena.

Se vocês leram a resenha do primeiro livro – O Mapa do Tempo -, perceberam que eu amei a leitura, que a autora havia iniciado muito bem, entregando uma trama cheia de aventuras e reviravoltas, que de fato empolgava pelo que estava por vir. Eu acredito que aqui ela acertou em muitas coisas, por outro lado, sinto que a pressão de concluir uma duologia de maneira a fazer jus a tudo que o primeiro volume representou, tenha pesado um pouquinho na hora de finalizar. É importante frisar que essa é uma percepção minha e que talvez tudo tenha sido proposital, enfim… gostei da leitura, mas fiquei com a sensação de que poderia ter sido ainda melhor, o que não é ruim, porque isso também está ligado as minhas expectativas em relação ao desfecho, e acredito que a autora até foi ousada em algumas escolhas.

Confira a resenha de O Mapa do Tempo

Nix está com tanto medo de se tornar igual ao pai, que ela faz justamente isso. É como se fosse um circulo vicioso, onde aquilo que você jurou jamais fazer, passa a ser exatamente aquilo que você está fazendo. Se o final for exatamente igual ao começo, entende? É uma sucessão de riscos, escolhas precipitadas, egoístas, de não escutar ninguém, não ser capaz de enxergar aquilo que está bem diante dos seus olhos. O medo de não viver, faz com que ela realmente não viva e o presente vira uma guerra infinita contra o tempo.

As palavras dela me surpreenderam. Ela falou com tanta simplicidade, tão tranquilamente, tão sinceramente. Só duas palavras, cinco letras, um sopro, mas nunca outra promessa tivera tanto significado. Ela se virou para mim então, e nos seus olhos, não vi o esquecimento, mas o infinito, e nem as estralas brilhavam tanto quanto seu sorriso.

O Navio Além do Tempo, chega com a difícil missão de concluir uma duologia. Apesar da história ser recheada de aventuras e um final eletrizante, a obra pecou em entregar algumas respostas não satisfatórias e não explorar melhor alguns personagens, o que não aconteceu no primeiro livro. Nix que a princípio se revelou determinada, inteligente e muito forte, agora nos revela uma face mais vulnerável, frágil, amedrontada, e ver isso me partiu o coração, porque pelo menos pra mim, ela sempre foi vista como alguém muito consciente do que buscava, mesmo diante dos problemas com o pai e ausência da mãe. Outro ponto que me incomodou é que a autora levanta um questionamento muito bacana sobre a existência do Kashmir e depois nada, paramos por aí.

Mas, existem pontos interessantes na trama também, como a autora questionar o poder, o que você faria se pudesse voltar no tempo e alterar algo no passado? E se essa alteração ainda que mínima, desencadeasse uma reação absurda no futuro? Você mudaria toda uma história? Estaria preparado para lidar com tanto poder, com essas responsabilidades e até mesmo a culpa? Exatamente, é complexo abordar algo tão intenso. Queremos e pensamos em coisas que gostaríamos que tivessem sido diferentes, mas a verdade é que no fundo não estamos preparados para as consequências que poderiam ocorrer. Por essa razão tal questionamento é tão válido.

De modo geral eu gostei muito da duologia e a recomendo com certeza. Com uma narrativa fácil, fluida, envolvente e personagens carismáticos, a trama prende o leitor e a história se revela atrativa e interessante. Principalmente se assim como eu, você está começando a se aventurar pelo gênero. Pra mim o único erro da autora talvez tenha sido a euforia e a responsabilidade de entregar algo que pudesse agradar o maior número de leitores, o peso de escrever uma sequência quando o primeiro livro é tão bem recebido é muito grande, e essa sede pode tê-la levado aos excessos e ausência de algumas resoluções. Porém, nada disso impede que ela entregue um, ou melhor, quatro possibilidades de fim, sim a autora deixou ao final, três possíveis fins para a trama, além claro do que ela escolheu para a história e todos acompanhados de comentários da sua editora, foi um presente e graças a Deus que ela escolheu o melhor.

Enfim, me despeço com saudades e querendo ter um pouquinho mais do Temptation e as muitas aventuras que esse navio e sua tripulação poderiam nos oferecer. Heidi é uma autora a qual ficarei de olho, aguardando ansiosamente por novas publicações. E antes de me despedir de fato, preciso elogiar a edição maravilhosa da Morro Branco, que trabalho lindo.

Até a próxima! Bye.

  • The Ship Beyond Time
  • Autor: Heidi Heilig
  • Tradução: Sofia Soter
  • Ano: 2019
  • Editora: Morro Branco
  • Páginas: 432
  • Amazon

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