A Melodia Feroz é o primeiro volume da duologia Monstros da Violência que tem seu lançamento programado para o início de junho. Na fantasia contemporânea criada pela autora Victoria Schwab, conheceremos uma realidade onde os monstros nascem da violência e foi por esta premissa proposta que a autora me surpreendeu.

Aqui os monstros nascem de cada ato de violência, os não letais, os originados de homicídios e até crimes mais sombrios, como atentados em massa. É possível surgir dois tipos de monstros mais comuns, os Corsais que são seres completamente alérgicos a luz e que se alimentam de carne e ossos e os Malchais, monstros mais racionais que se alimentam de sangue, tiram suas forças da noite, mas que conseguem viver a luz do sol. Existe também um terceiro tipo de monstro, mais poderoso, porém muito mais difícil de serem encontrado. Os Sunais eram raros e tinham a aparência idêntica aos humanos, eles só se alimentam da alma de pecadores e para isso, é necessário emitir apenas uma nota musical.

A Cidade V é separada entre Norte e Sul e cada uma dessas extremidades é controlado por líderes com ideologias bem diferentes. Collum Harker, um impiedoso controlador que estabeleceu um trato com os monstros do lado Norte. Aqueles que tiverem seu medalhão não poderiam ser tocados. Kate, sua filha, sonha em herdar o império do pai que, por algum motivo, sempre a manteve distante. August é filho de Henry Flynn, um líder que busca a paz e defende os inocentes, ele também sonha em ser como seu pai, porém ele esconde um segredo, ele e seus irmãos são os únicos sunais vivos e juntos formam a maior arma do lado Sul.

Muitos humanos são monstros. E muitos monstros sabem se passar por humanos.

Com ideais tão diferentes e a cada dia malchais e corsais pressionando a linha tênue de paz estabelecida há 6 anos, tudo está prestes a ruir. Por este motivo que, com a volta de Kate a cidade, August é convocado para vigia-la. Precisa estar por perto caso algo aconteça e medidas extremas precisem ser tomadas. Disfarçado como um garoto comum na escola, uma conexão impensada se estabelecerá entre eles e caso a trégua seja derrubada, eles precisarão se unir para sobreviver e descobrirão juntos que existe muito mais envolvido do que uma briga entre duas facções. Facções que pareciam estarem controladas por seus líderes.

A história de A Melodia Feroz me pareceu se encaminhar para algo bastante teen em suas primeiras páginas. Havia uma união estabelecida no ambiente escolar e este cenário normalmente nos remete a histórias que pouco interessam o público mais adulto. Porém, é com muita satisfação que confirmo que o livro vai além, Victoria desenvolve sua história com uma precisão acertada, direcionando o leitor para uma aventura sangrenta e que está longe de perder o foco com ferramentas narrativas desnecessárias.
Apenas com a introdução da história, é possível perceber a grandiosidade deste mundo. E mesmo com um material tão grande, a autora insere o leitor aos poucos em seu universo, permitindo que descubramos o suficiente no tempo certo e com cautela, para que não fiquemos perdidos com tanta informação. Apesar da complexidade inicial, a imersão causada é tão grande que é fácil estabelecer um bom ritmo de leitura e a conexão necessária com o enredo do livro.

Os personagens contribuem e são um dos grandes responsáveis por esta sensação. São eles que cativam e envolvem o leitor com chave de ouro em um livro que já tem um pano de fundo diferenciado em seu meio. August é um personagem bastante interessante, surgido de um ato tão cruel, o personagem paira entre os conflitos de sua existência. Ele é um monstro, mas é latente seu desejo de não ser o que é e a sua relutância em tirar vidas para sobreviver. Ele sonha em realmente se parecer como um humano, além da aparência. Já Kate tem um carácter bastante dúbio. Com uma personalidade confusa, é complicado compreende-la de início, uma garota que parece apenas querer a atenção do pai. Porém, aos poucos a desconstruímos e descobrimos tudo que ela esconde por trás de sua carranca. Descobrimos o quanto os atos do pai a afetam e o quanto isso contribuiu com suas motivações.

Quanto aos monstros criados por Victoria, eles fizeram meus olhos brilharem diante uma ideia tão incrível. Há muita semelhança com o mundo criado pela autora com o nosso. A violência gera violência; a dor, a angústia, a raiva e o desejo de vingança são capazes de despertar o pior no ser humano. E, neste livro, encontraremos estes sentimentos sendo trabalhamos de uma forma nada sutil. Sobre os Sunais individualmente, gostei muito da forma como eles são criados e de como isso pode influenciar em suas personalidades. A forma como se alimentam e a forma como eles devem escolher suas vítimas, traz à tona aquele senso de justiça que sentimos quando atos terroristas acontecem. A devoção dos sunais com seus propósitos me fascinaram por si só.

August e Kate estabelecem uma conexão bastante forte no livro, porém sinto em lhes informar que não há romance aqui. Sabemos que é algo presente e que provavelmente deve se desenvolvido no próximo volume, mas definitivamente ele não é e nem precisa ser o foco desta história. A relação deles, neste meio onde estão inseridos e com origens tão diferentes, prova ao leitor que há muitas diferenças entre eles e que nem sempre isso pode ser superado.

Estava sentado a centímetros de distância da filha de um tirano sanguinário, da herdeira da Cidade Norte. Devia sentir nojo, repulsa. Incômodo, no minimo. Mas não. Ele não sabia ao certo o que sentia. Frequência. Consonância. Dois acordes tocados juntos.

A música, que constrói o título do livro e que ganha uma representação marcante na arte da capa, será inserida na história de uma forma bastante sutil, mas desempenhará um papel bastante significativo. Como sabemos, os sunais, classe de monstros como a de August e seus irmãos, utilizam a música como método ofensivo e defensivo, e a conexão deles com a música é mostrada de uma forma tão bela que quase esquecemos para que ela é utilizada na trama.

Acredito que a autora guardou o melhor para arrebatar os leitores. Gosto da forma que ela brinca com os acontecimentos do enredo, como as revelações surpreendem e como há muito mais nas intrigas e nos jogos de interesses enredados na trama. É difícil prever para onde esta história vai nos levar, e histórias que nos proporcionam tantas alternativas como desfecho com certeza são as melhores. Eu recomendo bastante a leitura, A Melodia Feroz me apresentou algo completamente diferente do que já havia lido. O tom agridoce da trama surpreende o leitor, faz com que dancemos entre a música e a violência, mas na harmonia certa, sem se perder.

  • This Savage Song
  • Autor: Victoria Schwab
  • Tradução: Guilherme Miranda
  • Ano: 2017
  • Editora: Seguinte
  • Páginas: 384
  • Amazon

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