No primeiro volume da série de livros futuristas, Carbono Alterado, nos apresenta um mundo onde é possível viver milhares de anos, talvez até atingir a imortalidade. Isso porque é possível armazenar a consciência de um ser humano em um drive e, quando o corpo morrer, basta “baixar” a consciência da pessoa em um novo corpo, ou em uma nova “capa”, como eles chamam na história.
E é com esse cenário que conhecemos Takeshi Kovacs, um ex militar que abandonou os serviços para entrar em uma vida de crime, mas acaba sendo preso e “armazenado”. O armazenamento consiste em, quando uma pessoa comete um crime, ela fica armazenada em seu drive, sem poder ser instalada em um novo corpo pelo tempo que sua pena durar.
Porém, Kovacs é liberado de seu armazenamento para solucionar um assassinato. Entretanto quem o contrata é a própria vítima, um bilionário centenário que busca saber quem o matou e porquê. O problema é que a polícia encerrou o caso com a conclusão de que foi suicídio e não quer colaborar mais com as investigações. Agora cabe a Kovacs resolver esse mistério enquanto tenta lidar com seus próprios conflitos do passado.

A vida humana não tem valor. Você ainda não aprendeu isso, Takeshi, depois de tudo que já viu? Ela não tem valor intrínseco nenhum. Máquinas custam dinheiro para construir. Matérias-primas custam dinheiro para extrair. Mas gente? – Ela fez um barulhinho de cuspe. – Sempre dá pra arranjar mais gente. Pessoas se reproduzem como células cancerosas, quer você as queira ou não. São abundantes, Takeshi. Por que deveriam ser valiosas?

Logo de cara o leitor já é bombardeado de informações sobre esse mundo futurístico do século XXV, onde as pessoas têm a possibilidade de viverem séculos e onde a vida humana se expandiu para outros planetas. A tecnologia é hiper avançada e é possível viajar para os outros mundos colonizados em uma questão de minutos.

É um pouco difícil de acostumar a escrita demasiadamente detalhista do autor e imergir completamente na trama central que é o mistério que ronda a morte de um centenário nativo do planeta Terra. Isso porque o autor tomou o cuidado de pensar em cada detalhe deste universo futurístico, como o governo, os conflitos sociais, a tecnologia e o modo de vida das pessoas. Percebemos que, mesmo séculos a frente e tecnologicamente mais avançados, alguns problemas da sociedade nunca mudam, talvez apenas só se diferencie nos detalhes.
Vemos isso pelo modo como a polícia local está sobrecarregada, devido ao grande número populacional e, consequentemente, ao aumento da violência. A vida é ainda menos valorizada, agora que é possível passar de um corpo para outro após a morte. Além disso, os ricos continuam no topo da sociedade, já que podem pagar por “capas” melhores e com mais frequência.

Além disso, nesta sociedade proposta pelo autor, as pessoas dificilmente se reúnem pessoalmente para qualquer atividade, já que é possível fazer praticamente tudo virtualmente. Isso só ilustra como, na verdade, estamos mais próximos dessa realidade do que imaginamos. Talvez a intenção do autor tenha sido mesmo evidenciar como somos dependentes da tecnologia e como ela pode acabar voltando-se contra nós.

Carbono Alterado é eficaz em passar a sua mensagem, entretanto, o livro tem um fluxo alto de informações que pode acabar confundindo o leitor. Você tenta entender a narrativa principal ao mesmo tempo em que precisa absorver os detalhes dados a todo momento pelo autor sobre esse universo. Acredito que a série, que será produzida pela Netflix, ajudará a entender melhor a história, já que deixei passar alguns acontecimentos secundários da trama por estar ocupada tentando entender outros. Talvez o apelo visual da série ilustre melhor esse cenário, permitindo ao espectador acompanhar o mistério principal com mais atenção.

É um livro que tem uma premissa interessante, mas que pode funcionar muito melhor em uma série de televisão do que funcionou em um livro. Porém é provável que fãs de ficção científica gostem bastante dessa história.

Resenha em Vídeo

  • Altered Carbon
  • Autor: Richard Morgan
  • Tradução: Edmo Suassuna Filho
  • Ano: 2017
  • Editora: Bertrand Brasil
  • Páginas: 490
  • Amazon

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