Mundo Apocalípticos: Histórias do Fim dos Tempos é uma coletânea de vinte e dois contos de ficção-científica focados no pós-apocalíptico idealizado por John Joseph Adams, editor e publishers das revistas eletrônicas Lightspeed e Nightmare. Ele é organizador de várias outras antologias, porém mais nenhuma foi traduzida aqui no Brasil. Mas eu aguardo ansiosa outras publicações!

Quando a Editora Minotauro anunciou em suas redes sociais a publicação desse livro, eu fiquei muito empolgada, pois continha um conto da Octavia E. Butler, minha autora favorita de ficção-científica. E, óbvio, que mais dois outros nomes me chamaram atenção por saber que são autores bastante famosos do qual eu nunca havia lido algo relacionado à ficção-científica deles: Stephen King e George R. R. Martin.

O conto que dá abertura ao livro é O Fim da Confusão Toda que é justamente o do Stephen King. O conto relata a descoberta de uma fórmula para toda a agressividade humana. O irmão do cientista que descobriu isso, vai nos contando como essa descoberta acabou dando muito errada e quem pagou por esse erro foi toda a humanidade. Confesso que eu esperava mais dessa história por ter sido escrita pelo King, mas ainda assim a história é muito interessante, pois nos relata que apesar de queremos agir com boas intenções, isso não significa que devemos fazer algo sem que todas as partes envolvidas saibam.

Algo irá crescer aqui, um dia. Assim espero. Você está lendo isso?

Sons da Fala, da Octavia E. Butler, está entre meus contos favoritos. Nesse conto acompanhamos Rye em sua busca por parentes que ainda pudessem estar vivos. Um vírus se alastrou sobre a humanidade e aqueles que não acabam morrendo são afetados de modo que não sabem mais se comunicar como antes. A fala, a escrita e a leitura não são mais entendidas. Os gestos, murmúrios e grunhidos são a nova comunicação entre as pessoas, como também o próprio punho e armas. Sendo incapaz de ter uma comunicação efetiva, a humanidade vive em guerra consigo mesma além de descontar toda a sua frustração nos outros. Como buscar um verdadeiro entendimento com as pessoas quando não dá para saber em quem confiar?

E nesse mundo onde a única linguagem conhecida por todos era a linguagem corporal, estar armado quase sempre bastava.

Há um outro conto que fala sobre a guerra, que na minha opinião foi o mais tocante de todos. Pão e Bombas da Mary Rickert nos relata, pela visão de uma criança, o sofrimento que outras duas crianças e seus pais sofreram pela guerra e também na comunidade onde moram. Em sua inocência ela não entende que os adultos acabam por ser preconceituosos com a família e que algo terrível pode vir a acontecer. Esse conto me deixou com lágrimas nos olhos, pois de todos os contos, esse parece ser o mais próximo de nossa realidade atual. Foi extremamente doloroso uma cena em que um pão é oferecido e é recebido com lágrimas de medo e tristeza.

Estranho olhar para trás e acreditar que aquela era eu que era menos nós. Você continua sendo quem foi na época?

Não tenho como falar de todos os vinte e dois contos de Mundos Apocalípticos aqui, mas acredito que o livro que se enquadre tanto para os leitores mais afoitos de ficção-científica quanto para os que estão iniciando o gênero, pois por serem contos a leitura pode ser intercalada com livros mais leves.

Essa coletânea de contos de Mundos Apocalípticos é bem diversificada e foge da perspectiva de tantas outras histórias em que o mundo acaba por conta de zumbis, alienígenas ou similares. Tudo o que aconteceu veio por conta dos humanos, sejam eles conscientes disso ou não. Os contos se intercalam entre sombrios, esperançosos e até mesmo catastróficos. Contos em que a humanidade não pode ter nenhuma esperança de redenção e outros em que as catástrofes acabaram por abrir novas portas tecnológicas para a humanidade. O que mais me encantou nessas histórias foi a capacidade de cada autor em criar universos únicos e absolutamente complexos sobre o fim do mundo envolvendo além do científico, o psicológico e o filosófico.

“A gente solta um grande grito de triunfo quando o último carro mergulha, borbulhando, e some abaixo da superfície. A última pessoa a sair do planeta pode apagar as luzes, por favor?”

Alguns poucos contos não me agradaram completamente, mas ainda assim a realização de sua leitura valeu muito a pena. Principalmente porque lendo livros que retratam o fim sempre me dão uma sensação estranha de preparação para o pior. Com a leitura de Mundos Apocalípticos não foi diferente. Se algo assim acontecer, será que estaremos realmente preparados para enfrentar?

  • Wastelands: Stories of the Apocalypse
  • Autor: John Joseph Adams
  • Tradução: Rogério Galindo, Rosiane de Freitas
  • Ano: 2019
  • Editora: Minotauro
  • Páginas: 496
  • Amazon

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