Muito já se falou sobre o que aconteceu durante a Segunda Guerra, praticamente todas as pessoas sabem sobre as atrocidades feitas nos campos de concentração. Filmes, livros, enciclopédias, documentários, séries, todas formas de informação e entretenimento já se aventuraram neste nicho tão doloroso, importante e interessante de ser lembrado, mas nenhum livro escrito lá, dentro do pior campo de concentração de todos, Auschwitz, havia sido publicado, até o livro de Eddy De Wind, escrito enquanto ele estava lá. Agora temos em mãos o seu relato, falando de seus medos, do que via, do pavor que sentia e de toda sua preocupação com sua família.

O ano é 1943, dois anos antes de a guerra terminar, Eddy e sua esposa, Friedel, são enviados para Auschwitz. Separados, ele vai para o Bloco 10, designado a homens trabalhadores e ela vai para o Bloco 9, o pior de todos, designado aqueles que irão passar pelas piores experiências que um homem já pode fazer com outro, lá a pobre enfermeira ficaria nas mãos de Josef Mengele e Clau Carlberg, dois dos maiores monstros da história mundial. Logo ao chegar em seu bloco ele descobre, pelos outros prisioneiros, o que acontece no local onde sua esposa está, o desespero é imediato, mas ele não pode fazer nada.

O livro não funciona como um diário, nem foi escrito como um. O autor o escreveu depois que já tinha se livrado dos alemães e os russos já haviam chegado ao campo. Após a fuga dos alemães, Eddy passou a cuidar dos soldados soviéticos durante o dia e à noite escrevia sobre tudo que vivera naquele local durante mais de um ano na mão dos monstros nazistas.

Eddy fala sobre sua saudade e preocupação com o grande amor da sua vida, mas também conta sobre o relacionamento que tinha com os outros prisioneiros e com os guardas, relatando todos momentos que vai passando durante sua estadia, relatos chocantes, fortes, que parecem ficção, mas que foram reais, infelizmente.

A obra é bem curtinha, tem pouco mais de 200 páginas, são as memórias de um homem que sofreu na mão de pessoas que fizeram atrocidades com pessoas que eles julgavam inferiores, mas que na verdade, como prova o livro de Eddy, eram muito superiores a todos que apoiaram o nazismo.

Eddy escreve um livro chocante, com cenas reais. A leitura é difícil. Para quem não está acostumado com essas histórias, acreditar que os atos relatados no livro realmente aconteceram, que existiam pessoas tão más como as que De Wind conheceu é pesaroso. Porém é um livro único, muito bem escrito, por alguém que esteve lá dentro, no pior lugar que esse mundo já conheceu, contando suas memórias enquanto torce para que aquele pesadelo acabe e que ele possa reencontrar sua amada esposa.

O autor relata algumas informações inéditas sobre a convivência no campo de concentração, como a briga para ser um dos prisioneiros a trabalhar na cozinha do lugar, já que quem entregava as comidas poderia ir aos outros blocos, incluindo ao 9, onde a esposa de muitos estavam, sendo uma das únicas maneiras de encontrar pessoas próximas.

A edição do livro é bem informativa, com fotografias do escritor e de algumas páginas dos seus cadernos. A fonte agradável e as páginas amareladas facilitam muito a leitura.

Última Parada: Auschwitz é livro forte, real, emocionante e muito necessário, mais uma das tantas obras sobre a Segunda Guerra, mas ao mesmo tempo com uma originalidade única, já que foi escrito dentro de Auschwitz e por alguém que sofreu muito enquanto esteve nas mãos da corja nazista. Livros assim são necessários para que a gente nunca esqueça do que o ser humano é capaz e assim nunca permita tal barbaridade de novo.

  • Eindstation Auschwitz
  • Autor: Eddy de Wind
  • Tradução: Mariangela Guimarães
  • Ano: 2019
  • Editora: Planeta de Livros
  • Páginas: 221
  • Amazon

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