Enfermeiro da Noite, Anjo da Morte, Charlie ou simplesmente Charles Cullen, um dos maiores serial killers da história mundial, o homem que foi responsável por incontáveis mortes em seu local de trabalho. E quando eu digo incontáveis, são incontáveis MESMO, porque mesmo que as investigações tenham levado à confirmação de 29 assassinatos, este número muito provavelmente seja bem maior.

Charles trabalhava como enfermeiro, tendo passagem por diversos hospitais de diferentes estados americanos, o que complica muito mais as coisas, já que desde bem cedo ele cometia seus crimes, muitas vezes levantando suspeita em seus colegas e acabando demitido, o que não impedia em nada que ele fosse contratado por outro lugar e retomasse seus crimes imediatamente.

Em O Enfermeiro da Noite vamos conhecer um assassino cruel, que deveria trabalhar para fazer justamente o contrário do que fazia, salvando vidas, e detalhes sobre as investigações que levaram à sua prisão e a condenação a 129 anos de prisão. A narrativa é construída de uma maneira um pouco cansativa, a história muitas vezes está no mesmo lugar: com Cullen matando seus pacientes, e pelo modus operandi ser praticamente o mesmo em todos casos, a repetição das cenas ocorre constantemente.

Por conta disso, acabamos não descobrirmos quase nada sobre suas vítimas. E eu sempre tenho vontade de saber esses detalhes pois, a história de quem morreu é mais interessante que a do assassino, principalmente para uma produção literária. Se não conhecemos as vítimas ficamos sabendo belos detalhes de quem foi responsável por prender o assassino em série, os investigadores e todas informações sobre como eles começaram a chegar perto deste assassino.

Uma das partes mais interessantes da história, é quando o investigador sabe que Charles está matando, mas ainda não tem provas suficientes para colocá-lo atrás das grandes, em um momento até o próprio Cullen sabe que está perto de ser preso, mas suas atitudes começam a ser ainda mais surpreendentes.

Este é o primeiro livro do jornalista Charles Graeber, que faz um trabalho bem minucioso sobre os crimes do enfermeiro, comparado até mesmo ao que Truman Capote fez em “A Sangue Frio”, contando detalhes de tudo que envolveu os crimes.

Cullen foi preso em 2006, o que torna o caso relativamente recente, menos de 20 anos atrás. E o livro-reportagem foi lançado originalmente, em 2013 e quase 10 anos depois recebemos o livro em sua primeira edição aqui no Brasil. Quem me acompanha a mais tempo sabe que já falei várias vezes sobre como crimes reais é tratado de maneira diferente nos Estados Unidos que aqui no Brasil.

Os americanos têm obras sobre true crime, tanto em formato de série ou documentários quanto na literatura, há muitos anos, e nós vimos este estilo de produção se popularizar por aqui apenas depois da chegada do Youtube e do Streaming, onde série documentais e conteúdos sobre crimes atraíram muito público. Para vocês terem noção do que estou falando, os livros da série Mindhunter, escrito por John Douglas, foram lançados na década de 90 nos EUA, bem como os de Robert Ressler, da série Mindhunter Profile.

Então, apesar de Enfermeiro da Noite ter sido adaptado pela Netflix, com Eddie Remayne no papel do assassino e Jessica Chastain, no papel da enfermeira Amy, a obra chegou apenas para dar mais luz ao filme no Brasil.

Como um todo, o filme é bom, mas poderia ter uma construção melhor, fala bem sobre o assassino, conta sua vida desde o inicio, falando sobre a relação com seus pais e tudo mais, mostrando como ele acabou virando enfermeiro e tudo que perturbava sua cabeça em a medicações, é intrigante e muito assustador. Fiquei imaginando como seria estar internado no hospital e lendo este livro, seria muito tenebroso, afinal, nossa vida está literalmente nas mãos dos enfermeiros, um erro, proposital ou não, nos colocaria em um caixão facilmente.

Este inclusive foi o principal motivo para Cullen demorar tanto tempo para ser preso, ele matava pessoas que, em sua maioria, já se esperava que morressem, afinal, estavam internadas, então a morte era algo fácil de acontecer e difícil de provar.

E ai, o que você acha de nunca mais ter tranquilidade ao entrar em um hospital? De mudar completamente sua experiência quando for fazer um exame de sangue ou tomar uma injeção? Você não pode deixar de ler o Enfermeiro da Noite, garanto que você nunca mais vai olhar para enfermeiros da maneira que olha, afinal, você não tem certeza do que ele está carregando dentro daquela seringa.

  • The Good Nurse
  • Autor: Charles Graeber
  • Tradução: Mariana Vargas
  • Ano: 2022
  • Editora: Intrinseca
  • Páginas: 416
  • Amazon

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