Você gosta de ler sobre serial killers? Sobre crimes que parecem inexplicáveis? Então vai amar este livro.

Esta obra não é parecida com aquelas que estamos acostumados, que pegam um criminoso e o dissecam, falando detalhadamente sobre seus crimes e sua crueldade, este livro vai mais fundo, vai no âmago do assassino, querendo entender o que ele tinha em sua mente para conseguir cometer atos tão cruéis. Guiados pelo psiquiatra forense Richard Taylor, iremos acompanhar uma caminhada pela mente daqueles que matam.

Richard Taylor se utiliza de vários crimes, em sua maioria ocorridos no Reino Unido, onde cria estudos de casos, divididos por tipos de crimes, onde explica porque o assassino teve aquela atitude. Tudo isso baseado em seus estudos, de outros psiquiatras e na história dos crimes, enquanto vai dando informações da sua vida e de como chegou até aquele “paciente”.

O livro tem um estilo mais didático, o que pode desagradar alguns leitores, ele fala de psicopatologias, fala sobre como um estudo é elaborado e as coisas que são importantes serem ressaltadas diante de cada caso, sem detalhar muito o crime em si, focando realmente no cérebro do criminoso.

A obra é claramente voltada para profissionais da área, ou para quem queira um dia se tornar um, imagino que seja uma leitura obrigatória para aqueles que estudam criminologia ou algo parecido.

Temos no Brasil uma obra que lembra muito o que é apresentado em “A Mente do Assassino”. Em “Mentes Perigosas”, a fabulosa Dra. Ana Beatriz Nogueira faz algo muito parecido, porém focado mais em psicopatas e sem colocar os estudos de casos que guiam o livro britânico. É no mesmo estilo, portanto, quem leu o livro nacional com certeza irá gostar desta nova obra, e vice-versa.

O livro apresenta casos de violência sexual, de casos psicóticos, de crianças que matam, de homens que matam mulheres e de mulheres que matam homens, tudo isso baseado em casos reais, onde a mente de quem os cometeu é estudada.

A parte mais interessante dele para mim foi a das crianças. Como sempre acho curioso e assustador tudo que é criado em cima de seres que parecem inofensivos, porém o crime que mais me chamou a atenção foi o estudo de caso de Denis Costas, “o assassino que esqueceu”. E o fato é exatamente este, Dr. Taylor explica como um homem pode simplesmente esquecer de ter cometido um crime tão bárbaro, levantando os mecanismos que podem ter colaborado com esta situação e como eles atuam para descobrir se o assassino está mentindo ou se realmente tem alguma patologia que o levou aquilo. Eu, sinceramente, nunca tinha imaginado que alguém poderia esquecer que assassinou alguém, loucura total.

A Mente do Assassino é o único livro lançado pelo psiquiatra, a qualidade de escrita é muito boa, o que não é surpresa, já que este tipo de profissional está acostumado a elaborar diversos relatórios para seu trabalho, o que torna a escrita algo bem comum para eles, então não é nenhuma aventura para eles entrarem no mundo literário.

Um ponto bem positivo do livro é que ele chegou rápido ao Brasil, lançado originalmente no Reino Unido em 2020, chegou aqui no final de 2022. Você pode até pensar que dois anos é muito tempo para esperarmos por um livro, mas as obras de John E. Douglas e Robert Ressler, por exemplo, que a Darkside Books e a Harper Collins têm lançado nos últimos anos por aqui, foram lançadas no resto do mundo ainda na década de 90, Robert Ressler por exemplo já faleceu há alguns anos, e ainda tem livros dele inéditos no nosso país.

A popularização do true crime ocorreu rapidamente no nosso país nos últimos anos, a Rede Globo recentemente ressuscitou o programa “Linha Direta”, aproveitando o hype que o assunto tem criado em todas outras mídias a quais temos acesso. Para grandes fãs de crimes reais o livro será ótimo, mas tenha a noção de que ele é escrito em um estilo diferente, aqui o foco é a mente, o pós crime. Se sua expectativa estiver ligada ao crime em si, nos detalhes minuciosos de como o criminoso cometeu seus crimes ou de como foram as investigações do caso, irá se decepcionar fortemente.

Há um ponto que pode decepcionar ou agradar fãs do gênero, os casos apresentados são bem desconhecidos do público em geral, a maioria se passou no Reino Unido e talvez seja famoso por lá. Acho que apenas a parte sobre terrorismo apresenta detalhes sobre algo de conhecimento de todos. Isto não foi ruim pra mim, pelo contrário, gostei de saber informações sobre casos novos que eu nunca tinha ouvido falar.

O ponto central buscado pelo Dr. Taylor nem é de fato a repercussão do crime e sim algum fator no cenário onde ele possa expor as ideias dele, seus conhecimentos e exemplifica-los para o leitor.

A Mente do Assassino é diferente de tudo que já lemos, prende o leitor mesmo com um assunto denso e cheio de teorias, é daquelas obras capaz de te fazer lembrar de algum parente que tem as características apresentadas em pelo menos um dos estudos de caso, e deixa a gente receoso até com o olhar das pessoas na rua, quando na verdade é o nosso olhar que está diferente, somos nós que analisamos qualquer um agora, depois de conhecer mentes muito cruéis.

Avaliação: 4 de 5.

  • A Mente do Assassino
  • Autor: Richard Taylor
  • Tradução: Marcelo Barbão
  • Ano: 2022
  • Editora: Globo Livros
  • Páginas: 368
  • Amazon

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