A Professora, por Freida McFadden

ALERTA DE GATILHOS a temas sensíveis – abuso, pedofilia, assassinato, entre outros.

Fui picada pelo mosquitinho da autora Freida McFadden, o que é muito inquietante e complexo de explicar, porque ao mesmo tempo em que acho seus enredos perturbadores, doentios, com plots surreais, eu me pego presa a cada página, louca para desvendar o final. Ela me desperta uma curiosidade voraz, que faz com que eu leia os livros muito rápido, e isso também se dá ao fato de sua narrativa ser fluida, simples, básica… enfim, é como ler algo ruim, mas que ao mesmo tempo é bom, o que não faz sentido, mas que é a única forma que consigo explicar.

“O silêncio paira entre nós. Há tantas coisas não ditas entre mim e meus pais. Porém, a mais importante é a que mais reluto em admitir: Vocês tinham razão (…).

Eve é uma professora do ensino médio. Casada com um homem de beleza exuberante, que também é professor e arranca suspiros e sorrisinhos por onde passa, tamanha beleza faz com que Eve sinta orgulho, e até uma vaidade por ser a mulher casada com ele, ainda que esse fator também a incomode pois a coloca como mediana, simplória ao seu lado. Aos olhos de todos eles vivem uma vida perfeita, mas dentro de quatro paredes vamos descobrindo que as coisas não são exatamente assim.

Na escola, Eve é professora de matemática, exigente e sisuda, já Nate seu marido, é professor de literatura e o completo oposto, carismático e gentil. A história ganha força a medida que nos tornamos cientes de que algo aconteceu entre um professor e uma aluna, um escândalo que fez que com um dos professores mais queridos da escola fosse demitido, no centro de tudo está Addie, uma aluna solitária e claramente desconfortável com toda a atenção que o caso trouxe para ela.

O fato é que Eve, era muito amiga do professor demitido, e já cria uma antipatia imediata contra a aluna que causou todo o alvoroço, principalmente por que ela tem certeza da inocência do mesmo. E quando descobre que ela estará em sua turma, já planeja não pegar leve com ela… e fica ainda mais preocupada, quando descobre que seu marido também dará aula para ela, tomando para si a missão de protegê-lo, afim de que ele também não passe, pelo que Art Tuttle está passando.

“A vida quase passou voando por mim E então ela Jovem e intensa Com as mãos macias E as bochechas rosadas Me mostrou quem eu sou Tirou meu fôlego Com seus lábios vermelhos Me trouxe de volta à vida”

A Professora é o tipo de livro que leva ao pé da letra os ditados, as aparências enganam, e o não confie em ninguém. A verdade aqui é subjetiva. Não temos narrador confiável, os personagens são dúbios, — absolutamente todos — têm algo a esconder. E até mesmo os que nos despertam compaixão, um momento de pena, em outro nos deixa com raiva de nós mesmos por termos tido este lapso de julgamento. É um jogo psicológico onde nada é previsível, onde a confiança é uma armadilha e onde o perigo muitas vezes mora dentro de quem menos se espera. E quando o tão aguardado desfecho chega, ele não apenas surpreende — ele vira tudo de cabeça para baixo. Nos faz repensar cada detalhe lido até ali, e querer estapear nossa cara de tacho. É incomodo, provocador e tão absurdo que mesmo diante de todo o horror, você vai rir.

Eu acredito que ler a autora Freida McFadden, vai ser sempre assim… um gosto, mas não gosto. Principalmente porque não tem como ser racional lendo, é o tipo de leitura feita para virar página, entreter, passar o tempo, se você levar muito a sério o que está aqui, só vai passar raiva e se indignar. A autora se usa de extremos, na verdade ela chega a pisar fora da linha do limite, e beira o fantasioso, a fim de entregar algo que vai chocar. É uma novelona. Mas, é uma novelona que te faz seguir mesmo não amando o que está sendo entregue, que vai te fazer questionar o certo e o errado, que tem ambiguidade moral, manipulação, obsessão, que transforma o cotidiano em um pesadelo, que te entrega personagens imperfeitos e sombrios. Enfim, é o tipo de livro que só lendo para saber se vai ou não gostar.