Publicado originalmente em húngaro em 1950 e silenciado durante décadas pelos efeitos da Guerra Fria e pelo antissemitismo, O Crematório Frio chega finalmente ao público brasileiro mais de setenta anos depois de sua primeira edição. O livro, escrito pelo jornalista e sobrevivente József Debreczeni, é um testemunho cru e perturbador dos horrores vividos nos campos de concentração nazistas.

Debreczeni foi capturado em 1944 e passou por Auschwitz e outros campos, até ser enviado para Dörnhau, o chamado “crematório frio” – um hospital onde prisioneiros já fracos demais para trabalhar eram simplesmente deixados para morrer. Sua narrativa impressiona não apenas pela riqueza de detalhes, mas pela forma como descreve a desumanização sistemática a que ele e milhares de outros foram submetidos. O número tatuado no braço substituía o nome, e a identidade era diluída até restar apenas um corpo explorado até o limite.
“Aqueles que conseguiram voltar para casa sabem o que significava quando alguém ia para a esquerda. Mas naquele momento não sabíamos. O momento decisivo se esvaiu misteriosamente no meio dos outros.”
Mesmo eu já tendo lido vários livros sobre o holocausto, fico impressionada como sempre aprendo uma coisa nova. As atrocidades eram tantas que sempre tem um absurdo novo a ser relatado. Desde as primeiras páginas quando József relata como foi passar dias e mais dias em pé do trem até chegar ao crematório frio. Fica evidente como o instinto de sobrevivência das pessoas era algo impressionante.
O que mais me chamou atenção na leitura foi compreender como funcionava o sistema dentro dos campos de concentração. Os nazistas faziam dos próprios prisioneiros seus capangas, separando eles em hierarquias e dando privilégios para alguns. Isso me impressionou muito, pois é claro que para sobreviver e para a sobrevivência de amigos e familiares, os prisioneiros aceitavam essas condições.
Assim como tantos outros relatos sobre esse momento horrível da história, esse livro é necessário. József relata tudo de forma direta e sem rodeios, o que deixa a leitura muito mais impressionante. No final da leitura, um posfácio maravilhoso, que resgata a importância de textos como esse que servem de registros históricos, além de servirem como alerta a esses novos tempos, de extremismo, em que vivemos. Importante manter viva a memória do Holocausto e de todos que sofreram com ele.

- Hideg Krematórium
- Autor: József Debreczeni
- Tradução: Zsuzsanna Spiry
- Ano: 2024
- Editora: Companhia das Letras
- Páginas: 256
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