Em 2019, Stella Parker tem a vida que muitas mulheres desejam: ela dedica sua vida aos seus dois filhos e ao seu feliz casamento – o dinheiro também não é problema. Contudo, tudo muda quando sua vizinha, Gwen, aparece numa noite em sua casa com falas e um comportamento estranho. Além disso, na pequena confusão, a vizinha esquece o celular. A partir desse momento, a vida de Stella começa a mudar e o seu passado, até então esquecido, começa a vir à tona.

Em 1987, Julie Waits é uma adolescente que sonha em ter uma vida “normal”. Ela mora com a mãe e, de tempos em tempos, com um novo namorado da mãe. A vida dentro de casa é sempre extremamente complicada por causa desses homens. Isso influencia muito a vida de Julie, principalmente na escola. O novo namorado da mãe não é muito diferente dos anteriores, contudo o comportamento de Julie perto dele precisa ser sempre muito bem calculado.
O primeiro ponto do livro é que Stella Parker parece ser feliz ao levar a vida que leva, contudo, conforme nos aprofundamos na trama, fica claro que ela não está tão satisfeita assim. Ela largou seu trabalho, no qual era bem sucedida, para viver dedicada cem por cento para a família. Mas muitas questões sobre isso surgem como debate no livro. Aquele trabalho silencioso que toda mulher faz e que não é reconhecida por ele ganha destaque também. Stella se preocupa com a limpeza da casa, com as questões da escola dos filhos, com a rotina de todos para que nada falte para ninguém. Mas é claro que esse tipo de dedicação exige esforço, que muitas vezes não é reconhecido.
“Minhas últimas perguntas eram para minha mãe, e eram, de longe, as mais preocupantes.”
Nesse ponto, também teremos o suspense envolvendo a vizinha, o telefone e a ligação de tudo com o passado de Stella. Conforme ela vai investigando Gwen, a vida dela vai ficando estranha até mesmo no seu casamento. E tudo parece ter uma estranha conexão. Essa parte do livro me deixou muito presa na leitura, pois a autora consegue entregar um bom mistério. As paranoias de Stella ajudam bastante no sentimento de curiosidade para descobrir a verdade de tudo.

Na narrativa do passado, na qual acompanhamos Julie, a autora também traz questões de gênero para debate. Contudo aqui os temas são mais “pesados”. Mesmo que em um primeiro momento pareça que a mãe de Julie tem controle sobre a situação do namorado, fica claro que as coisas não são bem assim. Ficamos sabendo que sempre que um deles vira problema, logo a mãe manda-os embora. Contudo, essa convivência tem um custo para sua filha, que já coleciona momentos de tensão com os namorados da mãe.
Todas as personagens aqui são bem complexas e possuem suas nuances, não há mulheres boazinhas nem mulheres ruins, mas mulheres reais. Mas elas ainda são “reais” e tudo pareceu muito fácil dentro da trama que vai ficando cada vez mais complexa. Tive essa sensação principalmente com os acontecimentos envolvendo Stella. Meu problema com o livro foi mais para o final, pois a sucessão de acontecimentos me pareceu meio absurda dentro da realidade.
Mesmo assim, Nosso Tipo de Jogo é um livro que apresenta um thriller que prende o leitor, enquanto fala sobre o quanto somos moldadas pelo ambiente violento no qual crescemos, além de abordar questões de casamento e maternidade.