Big Baby é meu segundo contato com o cartonista e ilustrador Charles Burns. Black Hole, a premiada graphic novel lançada em volume único, também pela Darkside, foi uma leitura excelente, portanto, estava com expectativas bem altas para concluir Big Baby.

Também em um volume único, mas dividido em quatro episódios, logo no sumário de Big Baby entendemos que as histórias contidas aqui, foram publicadas originalmente em épocas diferentes através da revista RAW e as publicações foram bem espaçadas, apesar de breves. Big Baby saiu em 1983 e possui apenas 2 páginas, Maldição das Toupeiras em 1986, Peste Juvenil em 1988 e Clube de Sangue em 1991. Foi apenas em 2000 que a editora Fantagraphics Books publicou as quatro histórias juntas.

Conforme o próprio Charles Burns, Big Baby surgiu de uma de suas primeiras criações e o personagem também carrega muitas de suas particularidades. É um reflexo de sua própria infância, que fora rodeada pelos mesmos programas de TV que ajudaram a moldar uma imaginação fértil e ávida. Nosso protagonista, Tony Delmonte, é um garotinho curioso, com uma aparência peculiar e disposto a entrar nas situações mais horrendas. São em algumas dessas situações que avançaremos na leitura e conheceremos um garoto cujo maior passatempo é brincar com seus brinquedos, enquanto explora o mundo ao seu redor.

A primeira história é só um aperitivo, uma introdução ao personagem. Mas as histórias seguintes compartilham o melhor do horror moderno. Em Maldição dos Toupeiras iremos acompanhar a vida de um marido possessivo e sua esposa e a quantas andam a reforma na nova piscina do casal. A curiosidade de Tony o faz acreditar que no quintal dos vizinhos existe uma prisão mantida por homens toupeira. Nesta primeira história já podemos sentir para que lado da narrativa Charles Burns irá seguir e acredite, você vai gostar. Peste Juvenil me lembrou muito Black Hole e depois descobri que ele serviu como um preâmbulo para a história que o autor iria contar anos depois. Aqui descobriremos como surgiu os primeiros casos de uma peste juvenil misteriosa.

Por fim, e talvez a história mais envolvente, temos Clube de Sangue. Tony está em um acampamento para meninos, com sua típica roda ao redor da fogueira, com histórias de fantasmas sendo contadas e noites cheias de descobertas e intrigas entre os adolescentes. Será que nosso Big Baby vai conseguir entrar e ser aceito neste clube?


A premissa parece bem simples, o que de fato é. Mas através da perspectiva de um garoto com ideias engenhosas, alimentadas pelas histórias em quadrinhos que lê e pelos filmes de terror que assiste, perceberemos que nem toda bizarrice que o rodeia é irreal. Mistérios envolvendo monstros, violência e dramas reais se casam muito bem com as histórias e ensinamentos que Burns deseja compartilhar e dão um tom bastante único para a leitura. O modo como o terror flerta com o mundo real faz de Big Baby uma leitura que mantém um equilíbrio e que instiga o leitor mesmo em suas poucas páginas.

Assim como Black Hole, Charles Burns entrega ilustrações nada convencionais, mas que já me conquistaram desde minha primeira leitura. Gosto muito como o estranho está diretamente ligado aos jovens e adoro ver tudo isso contextualizado na realidade dos anos 80. A característica do alto contraste se mantém e acho incrível como utilizando-se desta técnica Burns transmite muita mais expressão aos seus personagens, só utilizando o preto e o branco.

A atmosfera de Big Baby é carregada e por este motivo achei que Tony se revelaria a qualquer momento como o verdadeiro monstro desta leitura. Não foi o caso e ainda bem, mas confesso que esta nuance do personagem, ingênua e amedrontadora na mesma medida, faz com que as revelações de cada história sejam ainda mais interessantes, além de fazer com o que leitor, mesmo que já tenha passado por esta fase, se projete novamente para os verdadeiros horrores da adolescência. Eu adorei a mensagem sutil sobre amadurecimento transmitida.

Ao final da edição, Charles Burns traz um compilado de artes e capas de quando estas quatro histórias foram publicadas pela primeira vez, assim como um breve epílogo explicando sua história com Big Baby, de onde surgiu esta ideia e o modo que ela foi ganhando forma. Vale a pena a leitura. Há espaço até para o autor apresentar o primeiro personagem que ele de fato criou, aos 7 anos de idade. Por fim, deixo aqui minha recomendação de um dos quadrinistas mais incríveis que já tive o prazer de conhecer, ao lado de Daniel Clowes, e que eu pretendo continuar prestigiando.

  • Big Baby
  • Autor: Charles Burns
  • Tradução: Daniel Pellizzari
  • Ano: 2019
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 112
  • Amazon

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