E se você pudesse visitar mundos distintos, encontrar seres extraídos de um livro e personalidades cuja semelhança com o detetive de Conan Doyle é primorosa? E se tudo isso fosse possível devido a mágica presente na natureza da linguagem? Você aceitaria viver para sempre se a contrapartida fosse estar entre os livros ou em seu encalço?

Essa é a vida e o trabalho de Irene, uma bibliotecária à serviço da organização secreta chamada Biblioteca. Para nós, devoradores de livros, poucos prazeres na vida se equiparam ao encanto de estar rodeado por altas e abarrotadas estantes de livros. Mas, quando o seu lar é um ponto de convergência entre os mundos e sua missão é se aventurar porta à fora para caçar livros raros e manuscritos mais raros ainda, correndo o risco de sucumbir perante os perigosos agentes do Caos, você aceitaria?

(…) os livros expostos com destaque em todos os aposentos haviam sido limpos, mesmo estando com as lombadas impecáveis e sem marcas. Tinham o ar triste e intocado de literatura feita para ser exibida, mas nunca efetivamente usada. Era profundamente deprimente.

É impossível ver ou ouvir falar nesse livro sem, no mínimo, ficar intrigado. Genevieve Cogman traz, nesse primeiro volume da série, um misto de referências, elementos e recursos já familiares, mas de uma forma bem equilibrada e divertida. Ao longo da leitura tive aquele velho sentimento de déjà vu, mas apenas poucos minutos antes de escrever sobre A Biblioteca Invisível que identifiquei de onde recordava tal semelhança.

Motivos para ler a série A Biblioteca Invisível

Vejam só, em meados de 2005, assisti um filme chamado O Guardião: Em Busca da Lança Sagrada – em inglês, The Librarian – dirigido por Peter Winther e protagonizado por Noah Wyle, Sonya Walger, Bob Newhart e Kyle MacLachlan – você pode lembrar desses nomes de Falling Skies, Lost, The Big Bang Theory e Duna, respectivamente – que foi ao ar no canal televisivo TNT. Eis que o filme, rendendo mais duas sequências e uma série com quatro temporadas, apresenta um bibliotecário cuja missão é resgatar artefatos históricos perdidos para a organização secreta que trabalha. O roteiro é bastante divertido, pontuado por ação, aventura e várias referências ao mundo nerd, sem dúvida você notou a semelhança com Indiana Jones e certamente Genevieve se inspirou nesse clássico com Harrison Ford para construir sua Biblioteca.

A história nos apresenta a jovem Irene que praticamente nasceu na Biblioteca, dando continuidade ao legado de seus pais também bibliotecários. Já de supetão nos encontramos no meio de um resgate – ou roubo – executado pela versátil garota envolvendo colégios internos para garotos, necromantes e gárgulas sentinelas. Após escapar da perseguição das estátuas vivas, usando nada mais que a palavra – eis aqui a mágica do bibliotecário que faz da gramática sua aliada mais poderosa – Irene retorna à Biblioteca e se reporta à sua superiora; clássica cena envolvendo espionagem e agências secretas. Mal o livro recuperado é arquivado e já lhe é designada uma nova missão e, dessa vez, com um aprendiz bastante misterioso de nome Kai; é aí que coisas interessantes e dignas de um filme de James Bond começam a acontecer.

A autora nos entrega uma história envolvente e repleta de personagens interessantes que nos fazem sentir o saudosismo das boas horas de leitura fantástica; afinal, temos lobisomens, vampiros, criaturas feéricas, dragões e máquinas simbiontes que flertam entre os irmãos Grimm e o mundo steampunk. Além disso, o mundo apresentado neste primeiro volume da série traz tipos diferentes de tecnologia que o leitor reconhecerá facilmente da nossa realidade. Contudo, sempre que os personagens encontravam um elemento importante em sua jornada, monstros tentavam destruí-los e isso se tornou um pouco cansativo e óbvio para mim. Bem como as descrições das lutas que considerei bastante rasas e confusas, se comparadas com outras obras literárias.

Analisando a fundo as problemáticas envoltas na história, o leitor verá que a eterna luta entre o bem e o mal, a luz e as trevas, a Ordem e o Caos se mantém forte e bem definida; muito embora o conceito aplicado no que parece ser o arqui-inimigo da Biblioteca tenha sido um pouco incompleto, o que eu espero que seja amplamente desenvolvido nos próximos volumes.

Vale ressaltar a beleza e esmero com que a edição foi feita pela Morro Branco; prontamente o livro salta aos olhos implorando para ser lido e degustado. Apesar das minhas poucas ressalvas, a autora nos apresenta uma história fluida repleta de mistérios, aventuras, intrigas e diversas referências históricas que tornam este livro tão divertido, gostoso e leve quanto um filme familiar – muito embora, vez ou outra, aspectos sombrios venham à tona, mas nada que o faça ter pesadelos na calada da noite.

Esta obra é uma ode à literatura, uma declaração de amor aos livros. Com fortes inspirações em fantasia, ficção científica – conceitos de multiverso que espero serem mais aprofundados e explicados posteriormente –, espionagem e no método investigativo de Sherlock Holmes, A Biblioteca Invisível é o seu tipo de livro se esses atrativos somados à aventura, romance inesperado, magia, tecnologia e, óbvio, bibliotecas lhe agrada. Certamente espero ansiosa pela leitura dos outros volumes da série, afinal o que poderiam Irene e Kai desvendar ou até, porque não, tramar nos mundos alternativos?

  • The Invisible Library
  • Autor: Genevieve Cogman
  • Tradução: Regiane Winarski
  • Ano: 2016
  • Editora: Morro Branco
  • Páginas: 368
  • Amazon

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