Jesse é uma mulher jovem, com seus 29 anos, já viu, e passou, por muitas coisas na vida. Filha de um pastor da Igreja Luterana, viu durante toda sua infância e adolescência, a mãe submissa se esforçar para manter a aparência de uma “família modelo” para a sociedade americana, com educação era moldada para ser a sucessora de sua progenitora, mas jamais desejou aquilo, nunca se enquadrou nos moldes propostos e que seriam condizentes com uma família de “bem” e que seguisse os preceitos da religião.

Ela se rebelou, foi viver sua própria vida, regada às mais pesadas drogas, dinheiro e muito sexo, saiu de casa para provar de uma realidade que jamais imaginou poder existir atrás das muralhas protegidas pelo seu Deus. Loira Suicida irá relatar, quase que em forma de diário, tudo que passou em suas mais diversas aventuras, a loira fulminante se entregou ao incerto e tirou lições dele, se jogando de cabeça, ficou muito perto de chocar o crânio contra um piso de concreto, mas o fundo do poço é muito distante, e, as vezes, o chão não chega nunca.

Originalmente lançado em 1992 nos Estados Unidos, a obra ainda era inédita aqui no Brasil, chegando somente este ano através da Companhia das Letras. Tido como uma obra feminista muito importante da década de 90, Loira Suicida me decepcionou um pouco, esperava mais, esperava ter ficado com uma ideia diferente sobre os pontos levantados, mas não foi isso que eu senti, pelo contrário.

Queria deixar claro que não sou um especialista em feminismo, mas alguém que procura se informar sobre todos assuntos e aprender mais sobre eles, talvez uma especialista lendo o livro tenha outro pensamento e consiga colher dele os melhores pontos que são esperados para fortalecer o movimento e o poder feminino, porém, acho importante alguém leigo em busca de conhecimento, como eu, dar a sua impressão, já que talvez seja o público como eu que esse livro irá atingir ou que poderia influenciar em uma leitura. E confesso que, para leigos, o livro influencia muito mal ou muito pouco, você não fica com mais vontade de ler sobre feminismo quando finaliza Loira Suicida.

Jesse irá quebrar paradigmas, isso é fato, e ela se mostra muito forte em fazer isso, deixará de viver sob as escolhas indicadas pelo seu pai, não suportará ver a mãe se rendendo a ele e fará a própria vida, com drogas, sadomasoquismo, orgias, sexo por dinheiro… escolhas dela, que em certo ponto do livro mostram que a vida de Jesse é no mínimo triste. Que ter saído de casa e escolhido viver livre e liberta de tudo que sofria com seus pais, com a privação de sua liberdade de certa forma, não foi algo positivo, não construiu uma mulher melhor do que ela poderia ter sido, nem mais feliz, essa foi a percepção que eu fiquei, chegando até em certo ponto imaginar que ler o livro poderia assustar mulheres com os mesmos desejos de liberdade, que mostraria não os pontos positivos e atrativos, mas sim um lado de temores, de medos e de frustrações, como se não houvesse saída para uma mulher no mundo atual.

Talvez o livro seja conceitual e que esteja passando uma informação muito diferente da que eu captei quando o li, mas acho que se o grande público não consegue comprar a ideia do livro, ele não atingiu seu objetivo, então não gostei mesmo.

É claro, porém é necessário que seja mencionado que o livro possui diversos gatilhos, e que é um livro completamente +18, as cenas de sexo são muitas, bem como as de violência sexual e até mesmo de abuso. O livro é muito literal, traz detalhes sobre atos sexuais que são completamente desnecessários e não contribuem em nada para a ideia do enredo, daqueles que você fica até com vergonha de ler, mesmo sabendo que acontece.

Se a obra tem um ponto positivo ele fica com a capa, que é deslumbrante e que até gerou uma cena curiosa aqui em casa. A capa é toda rosa  com uma foto da  maravilhosa da atriz Candy Darling, uma transgênero ícone de Hollywood nos anos 70, que faleceu muito cedo, em 1974, de um linfoma aos 29 anos, mesma idade de Jesse, a personagem principal. Aí entramos na possibilidade do livro ser, talvez, uma homenagem à atriz, falando sobre a vida dela, sobre o seu sofrimento e batalha para ser aceita no meio do cinema sendo uma atriz trans, mas não, nada disso acontece na história. Acho que sim, há uma homenagem ao ícone dos anos 70, que foi uma grande atriz, importantíssima para a época e que quebrou paradigmas como os que Jesse tenta quebrar na obra, mas o livro não funciona assim.

O fato curioso que aconteceu lá em casa foi que pela capa do livro ser rosa, minha filha, de 2 anos, que obviamente não sabe ler nada ainda, se interessou pela capa, chegando a roubar o livro de mim diversas vezes, sob o argumento de que “o livro é rosa papai, rosa é meu” e insistiu incessantemente durante algumas noites para que eu lesse o livro para ela. Eu até tentava trocar o livro para algum gibi da Mônica ou algum livro de animaiszinhos que ela ama, mas ela insistia em ler “o livro da capa rosa”. Acabou que para me livrar do incômodo e saciar o desejo dela peguei o livro da capa rosa e li para ela, obviamente inventando uma história de princesa que batalha contra o monstro verde no final, ela ficou feliz, não soube sequer o real título do livro.

  • Suicide Blonde
  • Autor: Darcey Steinke
  • Tradução: Simone Campos
  • Ano: 2021
  • Editora: Companhia das Letras
  • Páginas: 184
  • Amazon

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