A família de Elizabeth Winwood está arruinada financeiramente, o que faz com que título e prestígio não signifiquem absolutamente nada para uma sociedade que julga posses e status. Por esse motivo, ter a atenção do Conde de Rule seria um verdadeiro feito, uma benção sobre sua casa, caso ela não estivesse apaixonada e prometida para outro homem, o Tenente Heron. Razão e emoção duelam debaixo do teto da família Winwood, e ninguém se quer imaginou que a mais jovem, a impulsiva Horatia, tivesse suas próprias intenções. Intenções essas, que ela deixa bem claras para o próprio Conde, em uma visita inusitada e reveladora, mas que muda tudo que até então, eles haviam cogitado.

Horatia possui dezessete anos, uma mente afiada e desejos que somente um casamento poderia realizar. Ciente dos riscos que corre e do quanto pode estar expondo sua família, ela se nutre de coragem e faz uma vista ao Conde Rule, e sem pudor algum, aponta seus defeitos, assim como suas qualidades e deixa bem claro, que um casamento com ela seria muito mais benéfico, do que com sua irmã Elizabeth. Rule, no auge dos seus trinta e cinco anos, está bem ciente da diferença de idade entre ambos, mas isso não o impede de notar o quanto a jovem é memorável, com uma inteligência e extrema curiosidade que o cativam. Sua imprudência e impetuosidade chamam sua atenção para algo positivo, e contra sua própria intenção inicial, ele aceita o pedido de casamento da jovem.


Um livro nunca me animou tanto, e me decepcionou ainda mais com apenas um capítulo, um simples virar de página, e o início divertido, curioso, instigante, simplesmente se perde e não o encontrei mais em momento nenhum da trama. Uma proposta de casamento que pode separar prometidos apaixonados, mas que pode ajudar a família a sair da ruina financeira conquistada graças ao vício em jogatinas, o que já sugere um conflito de interesses, ou necessidades se assim julgar mais apropriado. Até que surge a figura de uma irmã mais jovem, impulsiva e até impetuosa, que contra todas as regras sociais aceitáveis, procura o Conde, e se oferece no lugar da irmã, e não somente se coloca a disposição, como também enumera diversos argumentos do quanto o casamento entre eles seria mais “proveitoso”. Aqui comecei a criar teorias, minha mente viajou na expectativa de que iria encontrar um romance que teria o casamento como partida, mas que passaria por um longo processo de aprendizagem e adaptação. E eis minha decepção, quando isso é justamente o que não encontro.

Sua mãe e irmãs ficaram sem fala. Até mesmo Lady Winwood considerou que, evidentemente, a situação tinha superado o poder de seus sais, pois deixou o frasco escorregar de sua mão para o chão enquanto olhava apalermada para a filha caçula.

O romance em Casamento de Conveniência é algo que permanece em segundo, terceiro, eu diria que é até invisível aos olhos do leitor, por muitas páginas. Ele é sugerido em pequenas doses, diante a conversas frias, distantes e quase que “comerciais” entre os protagonistas. É realmente algo muito sutil. E isso me incomodou porque Rule é um personagem encantador, que caminha contra o que sempre encontramos em romances de época/históricos. Ele é gentil, generoso, educado, não estamos falando de um libertino, ou mulherengo, que se apaixona e muda sua vida completamente. Não, Rule é apenas um cavalheiro, que aceita a jovem Horatia em matrimonio e passa a se preocupar com seu bem-estar, reputação, família… Em cuidar que sua inocência não seja usada por seus inimigos, enfim, pequenas atitudes que vamos tendo vislumbres ao longo dos capítulos. E esse personagem é pouco aproveitado, eu nunca vi um suposto protagonista ser tão coadjuvante, ou até mesmo secundário na trama, quanto vi aqui.

Horatia, ou Horry como é chamada, é o grande destaque desta história, a heroína, a jovem que salva sua irmã de um casamento não desejado e que roubaria a chance da mesma de se casar com seu grande amor. A menina curiosa, direta, sincera, inteligente, que encanta com suas pequenas particularidades e que vislumbra no casamento uma mudança em sua vida. E ela estava certa e é isso que acompanhamos no enredo, o florescer de Horatia em mulher, deslumbrada com sua vida abastada, com liberdades, com muita atenção, se tornando uma figura “excentricamente” popular, viciada em jogos, assim como todos aparentemente em sua família, de vez em quando se colocando em situações complicadas. Ela vive seu conto de fadas, um casamento feliz ao seu próprio modo.

Aquela criança de sobrancelhas negras não era nenhuma menininha tola e afetada. Santo Deus!, pensou ele, como a menina o aturdiria! Era melhor, muito melhor do que tinha planejado. A docilidade de Elizabeth não responderia ao propósito com tanta eficiência quanto a turbulência de Horatia.

Vale ressaltar ainda que a obra foi publicada originalmente em 1934. A ambientação, os costumes ingleses, estão muito bem apresentados. O livro entrega um fundo histórico muito rico, detalhado, e isso nos permite vislumbrar de maneira bem palpável tudo que está acontecendo. A autora também possui uma narrativa interessante, um texto com momentos divertidos e uma heroína nada convencional, que irá te encantar e te irritar na mesma proporção.

Apesar de todos os meus apontamentos, fica aqui a indicação de leitura. Eu acredito de verdade que os fãs de Jane Austen, e leitores que gostem de livros com mais conteúdo histórico do que de um romance, que estejam buscando por algo diferente, a leitura será muito mais satisfatória e especial. Até a próxima! Bye.

  • The Convenient Marriage
  • Autor: Georgette Heyer
  • Tradução: Ana Luiza Dantas Borges
  • Ano: 2021
  • Editora: Record
  • Páginas: 336
  • Amazon

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