A agente Mercedes Ramirez está de volta, depois de tudo que passou após descobrir o tenebroso Jardim das Borboletas, vivendo de perto as coisas mais horrendas que um ser humano é capaz de fazer com outro, ela se mantém fria e calculista para enfrentar algo ainda mais pesado.

Se você, assim como eu, tinha achado que nada mais forte que os dois primeiros livros da série “Colecionador” poderia surgir, que o pior já tinha passado e que a escritora iria diminuir o ritmo de tragédia em suas obras, estávamos redondamente enganados, quando tudo parecia não poder piorar: piora!

Mercedes acaba de chegar em casa e encontra um garoto coberto de sangue, a criança está agarrada ao seu ursinho de pelúcia, como se ele fosse a única coisa importante que restasse na sua vida, e na verdade era, já que os pais dele estão mortos. Agora a agente do FBI está ali, com uma criança coberta de sangue na frente da sua casa, ela não sabe nem como o garoto chegou ali, como sabia seu nome, seu endereço… e ainda vai precisar descobrir o que fazer com ele e toda a história que tem para contar.

O que a agente tem para investigar agora é um possível caso de pedofilia, e aparentemente o garoto do ursinho não é a única vítima, o que pode indicar que exista um ciclo de pedófilos, que estão abusando em série de crianças e criando até um mercado relacionado a isto. Além de tudo isto temos o assassinato dos pais do garoto, que precisa ser investigado também, mas que revelará coisas ainda mais obscuras e assustadoras dentro dessa história completamente horrenda.

Olha… precisa ter estomago para aguentar a literatura proposta pela doce Dot Hutchison, crianças sempre foi meu ponto fraco em livros, seja para terror, suspense, romance, quando envolve criança na história já pega meu coração, me lembro dos meus filhos, penso que aquilo poderia estar acontecendo com eles e minha conexão com a história se dá de forma imediata.

Não foi diferente desta vez, pelo contrário, dava pra imaginar que a coisa ia ser pesada já pelo título e por conhecer muito bem Dot e ter sacado pelos seus dois primeiros livros que o sangue iria correr solto por suas páginas, e que teríamos crianças envolvidas no meio de tudo isto. As Crianças Daquele Verão é um livro forte, como os dois primeiros são, cheio de gatilhos e de cenas perturbadoras. A escritora não tem nenhum medo de causar mal estar em quem lê, mas também não é aquela autora que gosta de chocar apenas por chocar, que coloca cenas fortes para ser diferente ou chamar atenção, como vemos bastante por aí.

Dot Hutchison escreve com maestria, constrói uma narrativa diferente de tudo aquilo que estamos acostumado a ver, sem medo de causar desconforto e também sem colocar o mal estar como objetivo principal na história, seu enredo é coerente, muito bem desenvolvido e construído, começando logo de cara com a ação, sem enrolar, indo direto ao ponto que gostamos, entregando em suas primeiras páginas aquilo que será o objetivo principal do resto do livro.

Rosas de Maio, segundo livro da série, é uma obra muito próxima ao primeiro livro da série, tanto que se passa apenas 4 meses depois do final de Jardim das Borboletas. As Crianças Daquele Verão é o livro mais distante do universo da série, muda o objeto central, o estilo de suspense, as pessoas afetadas, os gatilhos que são expostos, mas continua com a mesma pegada, com algumas informações anteriores e importantes para o novo livro, mostrando que a escritora, além de saber muito bem como colocar as palavras em suas páginas, ainda conseguiu notar que o assunto dos dois primeiros livros já tinha sido explorado até o seu fim para aquele enredo, inserindo novos elementos à trama, sem perder em nada na sua qualidade.

Gostei demais do livro, mas é BEM difícil de ler, algumas passagens do livro são simplesmente repugnantes, o embrulho no estômago vai às últimas consequências e você precisa se controlar para se manter são durante a leitura. Outro ponto muito legal da história é que desta vez temos uma única visão dela, vamos observar tudo a partir do ponto de vista de Mercedes e não mais tendo a narrativa dividida entre outros personagens e agentes do FBI. Ela toma o protagonismo, merecido, para si, e o carrega muito bem, outra clara manobra da escritora, que funciona bem demais.

Admiro muito escritores que se arriscam, que testam modelos, que alteram o formato de seus livros no meio da série, mudando o assunto, a forma de abordar, e até mesmo a maneira como eles são narrados, é de uma coragem absurda e me faz virar fã do escritor na mesma hora.

A série já foi encerrada nos Estados Unidos, e tem mais um volume, chamado “The Vanishing Season”, algo como “Temporada de Desaparecimentos”, que já mostra que para encerrar essa história teremos mais um livro chocante e assustador.  Espero que em breve chegue por aqui esse quarto livro de uma série que com certeza ficará na minha memória, essa é daquelas que vale a pena, mas você precisa ter calma e saber que estará entrando em algo bem complicado de ler.

E ai, tem coragem?

  • The Summer Children
  • Autor: Dot Hutchison
  • Tradução: Marcia Blasques
  • Ano: 2022
  • Editora: Planeta de Livros
  • Páginas: 304
  • Amazon

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