Mais conhecido pelo seu papel em Black Sails, como John Silver, o ator australiano e agora autor Luke Arnold estreia no mundo literário com o primeiro livro da série Os Arquivos de Fetch Phillips, em O Último Sorriso na Cidade Partida.

Em seu primeiro romance Luke Arnold nos leva para uma realidade em que a magia, há seis anos, deixou de existir e Fetch Phillips parece carregar uma grande culpa em relação a este acontecimento. Sendo um ex-soldado do exército humano, em tempos sombrios Fetch acabou virando um detetive particular/faz-tudo, o que rolar para sobreviver. E é assim que ele é contratado para investigar a morte de um velho professor vampiro, que desapareceu sem deixar rastros.

É neste contexto inicial que descobriremos como está Sunder City. Quando a magia acabou todos os seres. E agora, vampiros, lobisomens, sereias, grifos, elfos e até dragões precisaram lidar com as consequências da falta de magia. Criaturas se adaptaram melhores que as outras, mas outras definham lentamente, afinal, era a magia a energia fundamental para suas existências. Era a magia que tornava todos ali especiais e agora são todos iguais, todos mortais, se virando para sobreviver numa cidade também partida.

Sunder City apesar de seguir, também é um personagem a parte, a cidade que era próspera, agora apresenta as consequências de uma guerra, a sociedade se segura nas pontas dos dedos, tudo se corrompeu depois de “O Coda”. Afinal, o que pode acontecer depois de que todas as criaturas mágicas caíram? Onde todos, que até então eram superiores aos humanos, agora não passam de iguais, óbvio que os humanos aproveitaram essa deixa para ascender.

O interessante que a leitura também proporciona analisar as mudanças físicas que a falta de magia causou, aqui conseguimos perceber estas criaturas precisando lidar com suas identidades afetadas, suas autoestimas, ego e tantos outros sentimentos. Mesmo as criaturas mais poderosas, precisaram se encaixar novamente neste mundo.

E falando sobre nosso protagonista, se engana quem acha que vai se apaixonar por Fetch Phillips. Ele é um anti-herói, inescrupuloso e de índole duvidosa, portanto, você nem sempre vai concordar com suas atitudes e falas, atitudes que me deixaram um tanto quanto intrigada. Eu queria muito saber o que há por trás dos feitos no passado deste rapaz, que lhe causam tanta culpa? E um misto de sentimentos e por isso temas como arrependimento, penitência de certa forma e um pingo de esperança vão estar diretamente ligados a Fetch. Realmente ele acaba sendo um personagem atraente de se ler.

De forma geral há muitos elementos nesta história que farão você curtir muito esta leitura. Apesar de ser uma premissa já conhecida, estes detalhes fazem algo único e instigante. Você vai conhecer os personagens, as criaturas, vai conhecer o investigador durão e rebelde, mas nada como estes daqui capazes de ser um bom entretenimento para fãs da fantasia e também servir como uma ótima porta de entrada para novos leitores.

Comentando sobre a experiência de leitura, eu adorei a mescla que o autor faz no gênero, nos apresentando uma fantasia contemporânea. O nosso mundo exatamente como conhecemos, porém, com a existência das mais diversas criaturas. Conhecer criatura a criatura me fez lembrar muito de World of Warcraft, um jogo de MMORPG do qual jogo há anos e que me apresenta exatamente as mesmas criaturas contidas nessa história. Claramente Luke Arnold usou muitas referências do RPG e da cultura pop para compor sua própria história.

Desta forma é fácil se identificar com a leitura e personificar cada personagem que surge na trama, inclusive Edmund Rye, o vampiro decrepito desaparecido. Foi uma experiência fantástica correlacionar a leitura com elementos dos quais já conhecia e quando percebi a leitura tinha finalizado e já me vi fisgada para os próximos acontecimentos.

A narrativa segue até o final com capítulos curtos, portanto acaba sendo uma leitura leve e rápida, o que contribui diretamente com o ritmo que Luke emprega nas páginas. O enredo é dinâmico e direto, ao mesmo tempo em que nos transporta para flashes do passado de Fetch. Estes pequenos trechos nos fazem entender e desvendar um pouco mais sobre o personagem e de como era Sunder City antes.

O Último Sorriso na Cidade Partida me proporcionou bons momentos e me fez ansiar pelo próximo volume. Este primeiro volume cumpriu seu papel direitinho, é uma estreia sólida para um autor de primeira viagem. O livro envolve, apresenta um universo belamente construído assim como um personagem que amo e odeio, tenho certeza de que ainda há muitos segredos para serem apresentados e que Luke Arnold sabe exatamente como trabalhar cada um deles, eu só não tenho ideia para onde a história seguirá a partir daqui.

Se você curte uma boa história com seres mágicos, mistério, ação e com uma pitada de uma personalidade ácida, tenho certeza de que você vai gostar muito de se deixar levar por estas páginas.
A obra saiu pelo novo selo da editora Ediouro, chamada Trama, um selo especializado em fantasia e thriller e O Último Sorriso na Cidade Partida foi sua primeira aposta no gênero Urban Fantasy.

  • The Last Smile in Sunder City
  • Autor: Luke Arnold
  • Tradução: Giu Alonso
  • Ano: 2021
  • Editora: Trama
  • Páginas: 304
  • Amazon

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