Dica de Game – Night in The Woods

21 out, 2022 Por Viviane Papis

Na pacata cidade de Possum Springs, Mae Burrowski, uma gatinha antropomorfizada nos seus 20 e poucos anos, retorna indefinidamente para casa, após ter desistido da universidade, bem na semana do Halloween. Ao voltar, encontra uma cidade bem diferente de suas memórias e infância; algo mudou. Os detalhes parecem errados, o clima está mais sombrio e paira um ar de que a cidade se transformou sem o conhecimento dos moradores.

Com essa premissa, o jogo Night in The Woods (Noite na Floresta, em tradução livre) leva o jogador a explorar, através do olhar cínico e imaturo de Mae, a pequena cidade transformada e descobrir o que se passou para ocasionar essa mudança. Mae interage com a cidade como um organismo vivo e com seus moradores, recuperando os relacionamentos que abandonou ao partir para à universidade.

O jogo em si transcorre em um ritmo lento, acompanhando a rotina da gatinha Mae de volta à casa dos pais e buscando restabelecer as raízes que havia cortado. Acordamos junto de Mae, exploramos a cidade do seu jeito felino, pulando nos postes, escalando telhados e árvores, e interagindo com cada morador que permanece na cidade em decadência. Apesar da dinâmica tradicional de platformer (jogos como Mario Bros.), a narrativa apenas se desvela com as escolhas que o jogador fizer das interações e explorações.

Dessa forma, a história que Mae encontra em Possum Springs é aquilo que o jogador constrói com suas escolhas. Podemos escolher fazer parte da banda de Mae, com qual amigo ela irá interagir cada noite, o quanto ela irá explorar cada canto da cidade ou recuperar o relacionamento com os pais. Cada escolha determina o que será descoberto da história e o quanto Mae é capaz de alterá-la.

A despeito do ritmo lento, o jogo é muito bem-sucedido em aprofundar questões humanas relacionadas à história de cada personagem e mergulhar nos mistérios que pairam não apenas sobre a cidade de Possum Springs como a respeito da própria existência, no jeitinho que Mae é capaz de compreender. Nos deparamos com questões relacionadas a até onde somos colocados e forçados a enfrentar certas situações, quais nossos limites de escolha e ainda quais são nossas responsabilidades diante disso.

Assim, o jogo presenteia essas escolhas ao jogador, que é levado a lidar com suas consequências, ainda que incompreensíveis a princípio. Há ainda um ar lovecraftiano em se deparar com o desconhecido e da sensação de estar no mesmo lugar de sua infância, mas tudo ao seu redor parecer errado, com um detalhe ou outro que não encaixa, enfrentando com o desconhecido e abominável à sua espera para pisar em falso e ser engolfado na escuridão.

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Diante desse cenário tão desconhecido, a protagonista Mae deve lidar com seu passado e enfrentar os novos desafios, que se assemelham a uma versão distorcida da vida adulta em um mundo em constante crise e colapso iminente. Mae se apresenta cínica, egoísta e ácida, condescendente ao se ver em uma situação desconfortável e ter de reconhecer seus erros e atitudes do passado. Nas suas interações com seus pais e os melhores amigos Bea e Gregg, Mae se vê obrigada a demonstrar e mergulhar no seu lado vulnerável, o que lhe dá um caráter muito humano e humilde com o desenrolar da narrativa.

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Me apeteceu ser uma protagonista tão detestável, pois me permitiu além de me divertir com seu humor ácido, empatizar mais com os coadjuvantes e fazer escolhas extremamente absurdas e que eu nunca faria na realidade por não me importar muito com as consequências, me permitindo assim explorar a narrativa de ângulos diferentes e inesperados. Acredito que ter uma protagonista polêmica foi mecanismo consciente e intencional dos desenvolvedores do jogo diante de falas de Mae tão degradantes e críticas nas suas interações com outros ao seu redor.

Night in The Woods, lançado em 2017 pelo estúdio Infinite Fall, se tornou ao longo desses anos um jogo queridinho indie, reconhecido por sua estética encantadora e assombrosa e pela profundidade na construção da narrativa. Infelizmente, o jogo está disponível apenas em inglês até este momento, mas facilmente acessível pela Steam para Windows, macOS, Linux, e nos consoles PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch, assim como em sua versão para IOS e Android para os que quiserem se aventurar.

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