Vivendo em constante vigilância a fim de evitar que humanos se aproximem de seus territórios, seu lar e sua família, Jake Sully se transforma em obstáculo para todo e qualquer empreendimento humano em Pandora. Quando antigos inimigos ressurgem, ele parte com a família em busca de abrigo, encontrando acolhida e proteção na tribo Na’vi. Agora eles precisarão aprender os costumes, cultura e habilidades de uma nova comunidade enquanto se preparam para a chegada inevitável daqueles que mais lucrariam com o desaparecimento de Jake, Neytiri e todos aqueles que acreditam e defendem a vida em Pandora.

Sucesso de bilheteria, a sequência de Avatar (2010) trata-se do mais puro e encantador exemplo de onde se consegue chegar quando se tem tempo, recursos, uma ideia e pessoas empenhadas em concretizá-la. Treze anos após conquistar o mundo com a beleza e detalhes de sua Pandora, Avatar: O Caminho da Água retorna para nos assombrar com nossos maiores demônios, mas também relembrar quanta bondade, cuidado e respeito podem existir em nossos falhos e humanos corações. .

Por entre o delicado equilíbrio existente em um mundo alienígena, acompanhamos um filme sobre o significado de família e lar, destinado às infinitas formas de família que existem nesse curioso lar que chamamos de Terra.

Embora a trama não contenha construções ou elementos surpreendentes, não tencionando direcionar-se para uma tentativa de originalidade e inovação que muitas vezes não passam de estratégia de marketing elaborada para atrair o público, ainda consegue ser cativante e instigante à sua própria maneira.

A necessidade de abandonar o antigo lar e reestruturar toda a sua vida em um novo e misterioso lugar é tão palpável para Jake e seus filhos quanto seria para qualquer pessoa que já precisou deixar sua zona de conforto para trás e seguir em direção ao desconhecido. Como na vida que trilhamos para além dos limites da tela do cinema, Avatar nos relembra que uma comunidade pode conter todo o tipo de pessoas. Algumas estarão dispostas a auxiliar seus processos de familiarização, outras apenas ignorarão o fato de que existem novos membros e alguns casos isolados, tentarão dificultar toda e qualquer tentativa sua de se estabelecer. Mas é por aqueles que acreditam e confiam em nós, que mesmo em suas falhas e deslizes nos apoiam e tentam, novamente e novamente, que seguimos juntos, ofuscando os problemas e superando-os juntos… pois como uma das principais mensagens do filme tão bem expressam, sozinhos, não somos nada e nada conseguimos.

Por outro lado, existe no longa metragem a construção de uma reflexão clara e sensível sobre o profundo distanciamento da humanidade de toda e qualquer vida ou ambiente natural. Confortáveis em nossas quatro paredes, cercados por uma comunidade construída de concreto, vidro e metal, visualizamos somente as consequências do que produzimos após anos e anos de crescimento, apropriação, modificação de um planeta colorido e repleto de vida.

Com frequência esquecemos de nossa herança animal, ousamos ignorar a importância do equilíbrio, transformamos seres em objetos e mercadorias, fingimos que o outro não sente dor, medo ou saudade, brincamos com preciosidades em busca de mais sucesso, mais dinheiro, mais recursos, mais conhecimento, pouco importando o que destruímos ao longo do caminho. Mas, em sua simplicidade e clareza, em sua delicadeza e respeito, o filme talvez não nos peça para revolucionar a vida como a definimos, mas quem sabe tentar reconectar-se com um mundo tão mundo quanto o nosso. Com o verdadeiro lar em que vivemos, reconhecendo que o outro – seja quem for – é tão digno do lugar onde vive quanto nós!

Por fim, unindo minha voz a de tantas e tantas pessoas, afirmo que Avatar: O Caminho da Água é uma obra prima, um espetáculo cinematográfico e um verdadeiro encanto graças ao trabalho impecável realizado por meio de computação gráfica. Com as devidas exceções, tudo no filme é digital, construído por mentes criativas com o auxílio de potentes recursos gráficos e computacionais.

Dos seres alienígenas aos mais adoráveis exemplares da flora de Pandora, do movimento dos cabelos ao brilho no olhar de um ser senciente, dos detalhes das construções, passando pelo reflexo da água e chegando aos mínimos detalhes desse mundo que tanto gostaríamos de conhecer, tudo é pensado, elaborado, projetado para garantir que o espectador sinta-se imerso naquele universo, sinta a vida que pulsa pelos limites confusos de uma verdadeira ficção.

E com tantos detalhes, tantas nuances, tanto som, cores, texturas e a complexidade que é viver neste mundo tão rico, as três horas e doze minutos de filme mal se percebem passar. Talvez a palavra correta para expressar o que James Cameron, os estúdios Disney e todo e cada profissional que trabalhou nesse projeto fizeram, seja imersão. Afinal, quando as luzes se apagam e a tela se ilumina, esquecemos o mundo real e entramos, de coração e alma, nesse universo tão peculiar. Mas talvez, o que James Cameron, os estúdios Disney e todo e cada profissional que trabalhou arduamente para concretização do projeto realmente tenham feito, seja reacender o amor, a magia e o brilho nos olhares daqueles que sempre amaram o cinema.

A sua própria maneira, unidos por uma série de desconhecidos que compartilham a sala silenciosa e escura do cinema, Avatar: O Caminho da Água nos permite lembrar que o cinema ainda pode ser mágico, que aquelas horas “perdidas” podem definir-se tão preciosas quanto qualquer momento vivido para além da grande tela iluminada, pois foram compartilhadas em família, entre amigos, com desconhecidos que dividem o mesmo mundo que nós, e que, talvez, também tenham finalizado o filme com a certeza de que por entre cenários fantásticos, trilha sonora impecável, atuações de tirar o folego e um universo único, a magia do cinema ainda vive!

Avaliação: 5 de 5.

  • Avatar, The Way of Water
  • Lançamento: 2022
  • Com: Zoe Saldana, Kate Winslet, Sam Worthington, Sigourney Weaver
  • Gênero: Fantasia, Ficção científica
  • Direção: James Cameron

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