Eu começo essa resenha muito animada, pois em A Conspiração da Condessa, temos dois protagonistas que já nos são velhos conhecidos. Sebastian Malheur, o famigerado cientista que não tem medo de ousar em suas palestras e Violet Waterfield, a condessa viúva de Cambury. Integrantes do grupo, os irmãos excêntricos. Eles sempre causam por onde passam.
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Violet, uma mulher criada para ser uma dama, alguém que se adaptasse perfeitamente ao que lhe era exigido, recato, elegância, não pensar, não ter opiniões próprias, que vivesse a sombra do marido e lhe desse herdeiros. Só que Violet nunca foi essa mulher, e quando se viu casada, e com o livro rígido de sua mãe sobre a conduta que uma dama deveria ter, se oprimiu, renegou a sua própria essência. Por muitos anos tentou a ponto de arriscar sua própria saúde para dar ao conde um filho, seu tão desejado herdeiro, e não conseguiu e assim passou a viver um outro tipo de relacionamento, um que a reduzia a menos que nada.
Consegue se imaginar, vivendo esse tipo de vida? Uma vida onde você não pode ser você mesma, ter suas próprias vontades, desejos, se rejeitar, negar sua inteligência e competência? Exatamente, cruel e desesperador. E é justamente com a morte do marido, que Violet consegue trazer à tona uma pequena parte de si mesma, uma que a consome e queima, uma parte brilhante, inteligente, uma cientista. Mas ainda que isso seja admirável aos nossos olhos, não era aos olhos da sociedade… onde já viu uma condessa, e pior ainda, uma MULHER, ser cientista, e não apenas uma intelectual, mas uma que fale de herança genética e órgãos reprodutores de plantas. Que absurdo!
E é aí que Sebastian em nome da amizade e do amor que sempre nutriu pela condessa, fala mais alto. E ele mergulha de cabeça nessa paixão dela pela biologia, flora, e assume não só a autoria de seu trabalho, como também se dispões a apresentar as palestras que ela escreve.
O Sebastian que conhecemos nos outros livros, como um devasso, despreocupado, um homem que mesmo sendo constantemente atacado por suas palestras e a maneira “leviana” que usa em seu linguajar, dá risada e segue em frente, ainda está aqui, só que desta vez, cansado. Ele não quer mais viver uma “mentira”, depois de tanto tempo vivendo a vida que era para ser da condessa, ele simplesmente cansou, e quer parar.
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Existem problemas pessoais que colaboram para que essa decisão seja tomada, Sebastian quer impressionar o irmão, quer provar para ele seu valor, seu intelecto, quer encontrar sua própria vocação, ele sabe o quanto isso vai afetar a vida da Violet, ele compreende os riscos, e está preso no meio dessa complexidade sem fim. E além de tudo isso, ele ainda precisa lidar com um amor que ele escondeu por muito tempo.
Eu amo o romance que se constrói ao longo da narrativa. Aqui temos um romance de época, que explora um slow burn, nossos protagonistas são melhores amigos, e isso há muitos anos. Eles se conheceram quando criança, moravam em terras próximas e viram praticamente um ao outro crescer. A intimidade, a camaradagem, a forma leve como eles convivem e se sentem próximos um ao outro é palpável, e a tensão sexual também. Ainda que eles tentem muito – ou nem sempre -, se controlarem. Eles são ótimos juntos, ainda que suas personalidades sejam dissonantes, é o verdadeiro imperfeito, perfeito um para o outro. Eles possuem características em comum, são capazes de tudo pelos que amam, para proteger suas famílias, e lutam bravamente por aquilo que acreditam.
“A garganta de Violet se fechou. Ele era um idiota. Ela queria gritar com ele, mandá-lo fugir, se salvar. Apaixona-se por outra mulher, uma que não visse o amor como uma série de farpas no próprio coração. Ela queria fazer tudo isso —e, ainda assim, não queria que ele fosse embora.”
Eu amei ler A Conspiração da Condessa. O foco do enredo não é o romance, sim… pasmem, e é isso justamente o que eu mais amo na escrita da autora, ela entrega um texto encorpado, com muitas camadas, diálogos inteligentes, momentos fofos, segredos e tensão, ou seja, é uma trama bem estruturada, repleta de reviravoltas, com muitas críticas sociais, como por exemplo o papel da mulher na sociedade, sua luta por igualdade de gênero e como essas mulheres corajosas e determinadas desafiavam as convenções de maneiras sutis, mas poderosas, ainda que constantemente fossem caladas e roubadas.
Conheçam os outros livros da série Os Excêntricos
Se tiverem a oportunidade, leiam a série Os Excêntricos, porque cada livro é importante e necessário a sua maneira e eles seguem uma linha temporal. Courtney Milan, nunca vai te entregar apenas um romance com pequenas intrigas e final feliz, existe muito mais, ela vai te dar desenvolvimento de personagens, companheirismo, apoio mútuo, pano de fundo histórico, ainda que com liberdade criativa. É de fato ótimas histórias, que entregam sagacidade, esperança, humor e amor. Já muito ansiosa pelo próximo livro da série.
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- The Countess Conspiracy
- Autor: Courtney Milan
- Tradução: Caroline Bigaiski
- Ano: 2023
- Editora: Arqueiro
- Páginas: 320
- Amazon