Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932, é considerado um dos livros mais influentes do século XX e está na lista de distopias que todos devem ler. Apresentando uma Londres de 2540, o autor mostra uma sociedade controlada pelo autoritarismo, que controla a humanidade através de tecnologia e da doutrina do hedonismo, a busca por prazer como finalidade da vida humana.

Agora, esse clássico ganha sua versão gráfica, adaptada e ilustrada pelo quadrinista britânico Fred Fordham. Aqui, vamos encontrar o mundo de Huxley bem apresentado tanto nas cores quanto nos traços. Com diálogos rápidos, mas cheio de profundidade, essa graphic novel é uma ótima para quem nunca leu a obra original e, é claro, para os fãs desse clássico.

Londres, 2540, o governo totalitário, na tentativa de acabar com guerras que ameaçam a espécie humana, decide controlar o nascimento de novos bebês. Assim, para melhor controle de quem nasce, os seres humanos passam a ser criados em laboratórios. Mesmo antes de nascer, eles são determinados por castas e já tem suas vidas determinadas. Mas o psicólogo Bernard Marx sente-se constantemente estranho nessa realidade e se compara com outras pessoas. Tudo muda quando ele descobre  uma reserva histórica. Lá as pessoas levam a vida de uma maneira muito diferente, com os costumes de antes da mudança do governo. Sem pensar duas vezes, ele decide que precisa ir até lá, mudando a vida de muitos.

É claro que quando um governo controla a reprodução, inclusive condicionando os seres humanos a serem o que eles querem desde o nascimento, a educação não é uma prioridade. As crianças são criadas em laboratórios, sem carinho, e sua educação está totalmente relacionada às regras do governo, não há acesso a coisas subjetivas como literatura e arte, que são exemplos de coisas que consumimos e que precisamos pensar criticamente sobre elas. Quanto menos as pessoas pensam sobre a vida que levam e sobre o que poderiam fazer, melhor para o Estado. Aqui o governo determina as funções que cada um terá já no laboratório. Então os bebês são separados por castas, Alfa, Beta, Gama e Delta.

Assim, há o tema mais legal da obra, o hedonismo, a busca por prazer. Mas para que isso tenha o efeito desejado pelo governo, é distribuído para a população uma droga, Soma. É ela que atua no organismo da pessoa, deixando-a sempre feliz. Assim, mais uma vez, a população não precisa de nada, pois está sempre feliz e não sente necessidade de nada, pois está satisfeita com o que tem. Aliado a isso, vemos esse prazer também nos relacionamentos românticos. Pois com essa filosofia, o Estado incentiva o sexo sem compromisso e que só é possível ser feliz tento vários parceiros. Mas uma estratégia para que as pessoas não criem laços e não questionem o governo.

“Oh, admirável mundo novo. Oh, como é admirável esse mundo novo, povoado de pessoas assim!”

Bernard Marx é um alfa. Ele está entre a elite da sociedade, contudo parece que algo não saiu como esperado, pois ele não está satisfeito com a vida que leva. Ele se sente inferior. Ao ir à reserva e ver outra realidade, ele vai se questionar ainda mais sobre as normas e se colocar contra o sistema. Mas num mundo onde todos são felizes, como se rebelar?

Do outro lado, há Lenina Crowne, uma beta feliz. Seu destaque está em aceitar sem questionamentos o sistema no qual ela está inserida. Acho que ela é o destaque da história, pois gosto de ver nela a dualidade do que ela sente em relação a Bernard e a John. Além disso, ela sofre com as diferenças entre a sua realidade e a realidade da reserva. Nela temos a personificação do que é a busca pelo prazer imediato.

John é um personagem curioso. Ele nasceu na reserva, então sua visão de mundo, obviamente, é outra. Ele não estava condicionado a nada e foi um leitor ávido sua vida toda, o que ajudou a moldar seu pensamento crítico. Através dele, vamos ver os dilemas de não se sentir pertencente em nenhum dos dois lugares que ele vive. A relação dele com Lenina é outro destaque, pois os dois levaram vidas muito diferentes, então não se entendem um ao outro. Eu gosto muito dos questionamentos que ele faz, mas sinto que na cidade ele está pior, pois no que ele acredita, está longe de ser uma realidade.

Outro destaque é ver como o autor consegue trabalhar o mundo de fora/mundo de dentro. Ao fazer esse contraponto entre nossa realidade é uma realidade dominada por um governo que controla até o que as pessoas vão ser na vida, vamos nos questionar sobre liberdade, individualidade, diversidade, relacionamentos, conformismo, a busca por prazeres e o papel da tecnologia.

As cores estão ótimas e vários quadros possuem um tom de cinza perfeito para a ambientação da narrativa. Gosto muito quando as falas são rápidas, mas mesmo assim compreensíveis. Rapidamente já estamos por dentro da realidade criada por Aldous Huxley. Eu gostei muito de ver o final ilustrado, pois acredito que ele ajuda no impacto final. Gosto muito de reencontrar histórias através de graphic novels, sempre me faz repensar a trama.

Avaliação: 3 de 5.

  • Brave New World: A Graphic Novel
  • Autor: Aldous Huxley, Fred Fordham
  • Tradução: Luisa Geisler
  • Ano: 2023
  • Editora: Companhia das Letras
  • Páginas: 240
  • Amazon

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