Pobre, ladra e sem poderes. A tríade que resume, mas não tanto, nossa personagem principal: Paedyn Gray. Uma comum nascida num reino onde outrora a Peste deixou como bênçãos pessoas nascerem com dons extraordinários. Uns muito mais interessantes e únicos que outros, e claro, os comuns. Vistos como fracos e contagiosos, os comuns podiam enfraquecer todo um reino pela simples ausência de poder.
Em contrapartida temos o futuro Executor do Rei, o então príncipe Kai, um Notável com um dom fascinante e muito útil. Um príncipe não destinado ao trono, mas à matança. Destinado a servir o irmão, o trono e o reino.

“Eu nunca desejei isso. Nunca desejei ser o que sou hoje. Mas os monstros são feitos, não nascem prontos. E eu não tive escolha. Eu não tenho escolha. Mas não vou negar o que eu sou, e farei o que for preciso pelo meu reino, pelo meu rei.”
Dois lados de uma moeda que o reino insiste em manter, a pobreza e a nobreza. Escalados, pela sorte ou pela Peste, para lutarem num torneio: as Provas do Expurgo. Desafios feitos para que os poderes sejam vistos e exaltados pelos demais Notáveis.
Em um mundo onde pessoas se curam, roubam poderes dos outros, controlam emoções e leem mentes… como uma Comum pode tentar sobreviver? E mais que isso, como ela manterá o disfarce sem que ninguém descubra que seu único talento é roubar e mentir?
Com a ideia do livro, o enredo e sua execução me lembrando bastante muitas outras obras, a autora Lauren Roberts bebeu da fonte comum. Enemies to Lovers, um torneio para honrar algo que não deveria ser sequer mencionado — bem na vibe de Jogos Vorazes, ou até mesmo o torneio Tribruxo de HP. — Desigualdade social numa monarquia e, claro, a cereja do bolo: a protagonista sem dom algum, sem talento, mas que cativa tudo e todos, seduzindo irmãos, trazendo amigos fiéis e um passado tão triste que a fez ficar fria.

Admito que começar o livro foi um tanto complicado, trôpego e sem um começo que realmente prenda a atenção do leitor. O desenvolver da história não fica muito atrás, teria sido um livro mais interessante — no meu ponto de vista — se fosse menor, sem tantas voltas para acabar exatamente onde já esperava desde o início da leitura. No entanto, não é um livro ruim, só um pouco enrolado e algumas vezes mal executado. Entendo o frisson que causa, ainda mais para os leitores mais jovens que estão abraçando a fantasia agora, e que não estavam acostumados com obras como Jogos Vorazes.
Constando como trilogia no GoodReads, Powerless já conta com o um prequel lançado no Brasil, uma novela chamada Powerfull, o segundo volume deve chegar nas prateleiras brasileiras em maio deste ano (2025).
— Você vai ser sempre o prêmio que eu tento inutilmente ganhar?
— É isso que eu sou para você? Um troféu?
— Ah, meu bem, um troféu sugere que eu o ganhei, mereci, mereço.
— Ele se inclina mais, com uma certa reverência se refletindo no olhar.
— Mas se eu tiver você, será porque você deixou.
Não deixo de indicar essa leitura, se você entrar na história sabendo o que esperar: livro longo, com continuação, sem muitas surpresas e bebendo da fonte de muitas outras histórias, trazendo clichês e cenas até engraçadas, mas não tão empolgantes nas lutas e no torneio.

- Powerless: 1
- Autor: Lauren Roberts
- Tradução: Ivanir Calado
- Ano: 2024
- Editora: Rocco
- Páginas: 464
- Amazon