Imaginem a minha surpresa, ao descobrir que ao solicitar este livro, eu adentrava em um novo universo. E não estou falando isso por termos aqui histórias ambientadas em um mundo distópico e futurista… e sim, porque eu não fazia ideia que a autora JANELLE MONÁE, era também uma super mulher; cantora, compositora, ativista, uma artista multifacetada, que já coleciona dez indicações ao Grammy!

Eu só posso estar vivendo dentro de uma caverna… Então sim, estou impactada e encantada pelo que encontrei, pois não se trata apenas de uma reunião de contos, e sim de uma das peças do universo criado pela Janelle para o álbum musical “The Dirty Computer”, e que conta ainda, com um filme que está disponível no YouTube totalmente gratuito e que serve PERFEITAMENTE, para te introduzir na leitura, o que torna a experiência muito mais visual, recomendo fortemente que você o assista antes de iniciar a leitura.

Mas voltando ao livro em si, temos aqui uma proposta muito interessante e diferente de TUDO que eu já li. Este aglomerado de contos, conta com a colaboração da Janelle em todos eles, mas também tem como cocriadores autores incríveis, e juntos eles criam enredos distópicos, que abraçam o afrofuturismo e a ficção científica especulativa, debatendo temas como; raça, identidade, opressão, memória e resistência, ou seja, você vai ser virado do avesso, colocado para pensar e refletir e ainda vai ter a maneira como enxerga o mundo transformada.

Cada uma das cinco histórias apresentadas apresenta uma perspectiva única sobre esse universo. Os contos são ao mesmo tempo “poéticos” e desafiadores, nos inserindo em um futuro onde o avanço da tecnologia custa a individualidade humana. As memórias são manipuladas, o livre-arbítrio é constantemente questionado e a identidade apagada. A única coisa que segue intocada, é o espírito de resistência, de luta, dos personagens que desafiam as amarras atuais e buscam por sua liberdade.

O primeiro conto é também o que deu nome ao livro A BIBLIOTÉCA DE MÉMORIAS, ele nos apresenta Seshat, que se enxerga como uma “mãe” da cidade, responsável por coletar e controlar as memórias da população que vivem sob o regime autoritário da Nova Aurora. Um trabalho que ela ama e exerce com perfeição, até passar a questionar sua lealdade ao sistema e abraçar a revolução.

Em NUNCAMENTE, segundo conto, nos conduz até o hotel Pynk, um refúgio para as almas marginalizadas, que seguem resistindo e desafiando as noções tradicionais de gênero e pertencimento. Vai te deixar questionando pontos importantes, principalmente sobre aceitação e união.

O terceiro conto, A CAIXA TEMPORAL, que também foi o meu favorito, explora temas como amor, a importância de preservar as memórias em tempos de repressão, resistência e responsabilidade coletiva. Um casal Akilah e Raven, descobrem uma maneira de manipular o tempo, criando um espaço seguro onde podem expressar suas individualidades, uma arma poderosa e perigosa.

“O tempo é abundante, se permitirmos que assim seja.”

O quarto conto, SALVAR ALTERAÇÕES, acompanhamos duas irmãs Larry e Amber, que vivem em uma espécie de prisão domiciliar, sob constante vigilância da Nova Aurora, por serem filhas de Diana Melo, alguém que ousou se rebelar contra o sistema. Párias sociais, todas às três, vivendo quase que reclusas e isso as marca profundamente, interferindo em suas relações e convivência, as expondo a situações constrangedoras… Até que ela se depara com uma oportunidade muito especial.

O quinto e último conto, A CAIXA TEMPORAL ALT(AR)ERADA, a história se passa em uma cidade fantasma chamada Freewheel, onde o controle da Nova Aurora é menos rígido. Vamos acompanhar as crianças que vivem ali, que criam arte a partir de objetos descartados e que vão embarcar em uma viagem que trabalha temas como esperança, recomeços, criatividade e futuro. Ele fecha o livro muito bem.

O que posso dizer, é que o livro como um todo é um GRITO, um CARINHO, e um ALERTA que nos chacoalha sobre os perigos do radical, do controle excessivo, e o que eles podem nos tirar e sacrificar. Devemos buscar por um mundo longe do conformismo, ocupando espaços que nos são devidos, buscando por um futuro de liberdade, de amor, individualidade, de respeito. Que inclua, que resista, que celebre a diversidade. Apenas leia, e sinta o livro. É de fato uma experiência se jogar neste universo.

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