Lady Killers é mais um livro que integra o selo Crime Scenes da Darkside Books. Nele conheceremos nomes femininos que marcaram a história, que revelaram suas faces mais sombrias antes mesmo do aparecimento de um dos maiores seriais killers já conhecido.

O livro reúne a história de quatorze mulheres e seus crimes ao longo de todos estes anos e como alguns ainda reverberam até hoje. Iniciamos a leitura por uma figura já conhecida por mim e talvez a que possua a trajetória mais enigmática. Já falei sobre Elizabeth Báthory aqui no site, mas descobrir mais sobre sua existência me fez relembrar do porquê seus feitos em vida (ao lado do príncipe Vlad III) inspirou Bram Stoker a criar o vampiro mais conhecido do mundo. Suas centenas de crimes eram cruéis e muitos dos seus métodos de tortura foram documentados.

Outros casos interessantes roubam a cena, como o das irmãs Raya e Sakina que acabaram virando lenda no Egito e a o de Oum-El-Hassen e Kate Bender que se destacaram por apresentarem outros métodos para saciarem sua sede de sangue. Usando métodos extremamente mais violentos, a Família Bender arquitetava todo um plano para roubar e matar viajantes, Kate se tornou um mito pois nunca foi capturada.

Os capítulos trazem muitas informações sobre estas mulheres, desde trajetória e métodos que cometiam seus crimes e a autora Tori Telfer não deixou de opinar sobre cada caso, sendo inclusive, imparcial em muitos deles. A autora humaniza certos atos, o que permite que o leitor crie uma certa empatia sobre as assassinas diante a época em que a maioria vivia e as condições que eram submetidas. O tiro que poderia sair pela culatra acaba fazendo com que Lady Killers seja uma leitura mais interessante do que se propôs a ser inicialmente, pois ao final, em suas últimas considerações, a autora justifica suas opiniões e se abre com o leitor, explicando o quanto se viu, muitas vezes, com uma sensação incomoda de responsabilidade moral. Apesar de ter ciência de seus deslizes ao longo da narrativa, Tori sabe da importância de olhar para o mal e tentar compreendê-lo.

Há algo em comum na personalidade de todas as mulheres apresentadas neste livro, todas eram solitárias e o casamento e a maternidade não serviram como conforto. O modus operandi difere em alguns casos, mas muitos dos contidos aqui tem em comum o envenenamento, uma arma silenciosa e tão letal quanto um machado. Ao final da leitura percebemos o quanto estas assassinas eram inteligentes e tinham o poder de manipular todos a sua volta ao seu bel prazer, pois muita foram descobertas depois de anos e provavelmente outras nem foram.

A verdade é que pouco se sabe e pouco se documentou sobre assassinas. A desinformação sobre os casos protagonizado por assassinas mulheres é tanta que a própria pesquisa da autora acaba se revelando falha e limitada, como a própria destaca em suas considerações finais. Isso é só um reflexo de como a nossa sociedade, ao longo dos séculos, não aceitou que mulheres poderiam cometer atos tão hediondos e é exatamente isso que Lady Killers tenta mostrar aqui, assassinas em séries existiram e existem, mulheres podem ser tão cruéis e letais como os homens e a ideia de “sexo frágil” é algo equivocado diante a capacidade que muitas delas tiveram de executar a sangue frio. Esta realidade confronta a submissão feminina, criada por uma construção social de séculos.

Neste viés é interessante analisar como a autora faz um paralelo histórico sobre a imagem da assassina mulher, que foi minimizada para ocultar a violência feminina. Neste contexto é mais fácil transformá-las em bruxas e monstros como se elas não pudessem ser reais. Esta perspectiva possibilitou que muitas assassinas matassem durante anos sem serem descobertas.

Devido a isso, todos os casos aqui são bem antigos, o mais recente é protagonizado por Nannie Doss (1950), porém, ao final a Darkside inclui, de uma forma muito mais resumida, uma a Galeria Letal, composta por nomes mais recentes, como as irmãs Delfina e María de Jesús (1954 – 1964), a brasileira Heloísa Borba Gonçalves (1971), Juana Barraza (2003), Irina Gaidamachuk (2002) e talvez a mais conhecida, Aileen Wuornos, que teve sua vida adaptada nos cinemas e foi interpretada por Charlize Theron. Todos estes casos pecam por serem apresentados de forma muito breve e acredito que a editora poderia ter preparado (até em outra edição) algo mais completo e detalhado.

Ao final de Lady Killers, se você se interessa por criminologia e cinema, a influenciadora Adriana Cecchi fez uma playlist com algumas indicações de filmes e séries de TV que tem como protagonistas lady killers. Vale a pena conferir e a experiência completa ainda mais esta leitura.

Por fim, Lady Killers é uma obra fundamental para fãs do tema e para aqueles que assim como eu, desejam compreender a mente humana. Mas que principalmente, sabem que estas mulheres eram mentes maquiavélicas, egoístas e perversas ao ponto de estarem dispostas a tudo para conseguirem o que mais desejavam. E conseguiram, sem arrependimentos.

  • Lady Killers: Deadly Women Throughout History
  • Autor: Tori Telfer
  • Tradução: Daniel Alves da Cruz e Marcus Santana
  • Ano: 2019
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 384
  • Amazon

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