A luta contra o racismo está cada vez se expandindo mais em todos lugares do mundo, a cada dia que se passa mais pessoas se engajam pela igualdade social, essa ideia tão imbecil de que há diferenças entre as pessoas apenas por causa da cor da pele delas nunca deveria ter existido entre nós terráqueos.

Mas o racismo é algo tão inerente em nossa sociedade atualmente que nós sequer imaginamos todos os lugares aonde negros se sentem oprimidos pelos brancos, um exemplo disso é o que é retratado em Horror Noire, um livro que fala sobre a representatividade negra nos filmes de terror durante toda história do cinema. Para contribuir com a narração histórica da negritude nos cinemas, a Dra. Robin R. Means Coleman desenvolveu uma pesquisa com a influência e impactos sociais dos negros nos filmes de terror desde 1890 até os dias de hoje.


O gênero do horror é um lugar possível de se fazer críticas provocativas raciais bem como uma alternativa na cultura popular. É por este motivo de Horror Noire é um soco no estômago a cada explicação dada sobre como os negros eram tratados no cinema, especificamente em filmes de terror, onde sua presença se limita muitas vezes a uma única participação. Para os leitores negros é uma revisão de sua história, para os brancos é um livro chocante sobre igualdade racial, mostrando que até os filmes mais renomados do gênero tem seus defeitos.

A leitura começa com uma introdução feita por Ashlee Blackwell, editora, mestre em artes e coprodutora do documentário Horror Noire, que se originou baseada na pesquisa de Coleman (ainda não disponível no Brasil). Na introdução Ashlee fala sobre como chegamos à atual situação racial nos filmes de terror. Ela traz informações reveladoras logo de começo, mostrando a real ideia desta obra. O prólogo que vem na sequência mostra o desejo do sentimento de igualdade racial e a importância que ela teria para chegarmos a um equilíbrio na nossa sociedade e a iminente necessidade de isto acontecer logo e de uma vez por todas.

Após uma série de partes introdutórias, com o início da leitura mostrando o que acontecia nos primórdios do cinema até a década de 30, o nome do capítulo é “O Nascimento do Bicho-Papão Negro no Imaginário”, que falará sobre como os negros sequer tinham a chance de fazer o papel dos vilões nesses tipos de filmes, já que todos atores eram brancos, o que não impedia que estes já fossem as criaturas terríveis da ficção, a única diferença é que atores brancos pintavam seus rostos de preto para interpretar negros, o chamado Black Face, talvez uma das situações mais bisonhas e condenáveis que o cinema já presenciou.

O livro evolui criticando a postura dos filmes em capítulos divididos por décadas, mostrando no seu desenvolvimento o que foi sendo modificado com a passagem do tempo, sem deixar de exemplificar todas barbáries que foram feitas durante a história.

A obra além de contar com opiniões muito bem embasadas e críticas exemplificadas, também conta com uma edição muito informativa, com muitas fotos, citações e histórias reais capazes de revoltar até o mais “sem-noção” dos seres humanos. A edição se encerra com uma série de fotos de pôsteres de filmes de terror com protagonismo negro, uma edição digna e de um peso social único.

Falando sobre livros como A Noite dos Mortos Vivos, Blacula e até mesmo King Kong, a obra se limita a livros de terror, e esse é seu único defeito. Gostaria de ver um livro sobre o racismo que envolve todo o cinema, como Hollywood privilegia e paga melhor atores brancos, como eles viram os queridinhos das telonas e como, por exemplo, demoramos quase dois séculos de cinema para termos um filme só com negros, como “Pantera Negra”, e um protagonista negro no maior filme de ficção-cientifica da história. Finn, surgiu para mostrar toda importância da representatividade negra em um filme aclamado durante tantas décadas como Star Wars.

Resenha escrita em parceria com Joice Cardoso

Único, necessário, chocante, revoltante e acima de tudo original, os adjetivos positivos para esse livro são praticamente infinitos, todos deveriam ler sobre isso, principalmente aqueles que gostam de filmes de terror, ver como o racismo foi construído e desconstruído com o passar dos anos é fundamental para entendermos a sociedade em que vivemos e o que podemos fazer para deixar ela melhor para nossos filhos e netos.

Horror Noire é fundamental e leitura obrigatória, uma obra necessária e que encoraja o leitor a desmontar a imagem racializada do gênero e acende um debate sobre o poder do horror.

  • Horror Noire: Blacks In American Horror Films
  • Autor: Robin R. Means
  • Tradução: Jim Anotsu
  • Ano: 2019
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 464
  • Amazon

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