Acabei recebendo este livro através de uma ação do Grupo Editorial Record e depois de todos os elogios que o mesmo recebeu no Mochilão da Record, eu corri para conferir a leitura. A princípio, devido aos meus outros compromissos, fiquei de dar apenas uma olhadinha no primeiro capítulo e o que aconteceu foi que eu não consegui largar mais a história, não consegui abandonar aqueles personagens e ficar de fora de todo o mistério que envolve O Casal Que Mora ao Lado.
O thriller é uma aposta da editora e nele adentraremos na história de um jovem casal de pais. Marco e Anne Conti são convidados para um jantar entre amigos na casa ao lado e o convite apareceu em uma boa hora, pois Anne já não sai de casa há muito tempo. Cora é um bebê muito agitado e tem apenas seis meses idade e como seria uma noite para adultos, ela não poderia ir junto. Na última hora, a babá telefona avisando que não poderá ficar com a bebê e para não estragarem os planos, não restou outra alternativa a não ser deixarem a pequena Cora sozinha, apenas na presença da babá eletrônica. Eles estariam a poucos metros de casa e de meia em meia hora se revezariam para darem uma espiadinha na criança. Tudo ficaria bem, não ficaria?
Durante o jantar Anne não consegue relaxar totalmente, ela se sente uma péssima mãe deixando a filha sozinha em casa e o fato da vizinha Cynthia estar se insinuando para o marido também a incomoda. Após apresentar os primeiros indícios de que bebera demais, Anne decide que é hora de voltar para casa e com um pouco de insistência, Marco cede aos pedidos da esposa. Ao voltarem para casa, o pior pesadelo de suas vidas inicia, eles se deparam com a porta entreaberta e ao subirem as escadas até o quarto de Cora percebem que ela não está no berço, nem por perto, em lugar nenhum.

O detetive Rasbach observa as desavenças se aprofundando na relação do casal. A tensão que ele detectou assim que chegou ali se transformou em algo mais: culpa. A linha de frente sólida que os dois formavam nas primeiras horas da investigação começa a ruir.

Narrado em terceira pessoa pela perspectiva de três personagens, a cada capitulo conseguiremos nos envolver pelos diferentes pontos de vista da narrativa. Será possível compreender como Anne e Marco lidam com a situação e de que maneira isso os afeta individualmente. A propósito, fazia um bom tempo que não me rendia a uma leitura em terceira pessoa de forma tão imersiva, a narrativa da autora é ótima e ideal para este tipo de gênero, e os capítulos curtos contribuem ainda mais.

Shari Lapena conseguiu tecer um elaborado de tramas, cheias de reviravoltas e descobertas a cada página. O livro é um bom thriller, uma história ousada com personagens mais do que complexos, personagens que apresentam falhas reais, o que faz com que o leitor se identifique ainda mais com o enredo. As personalidades de cada personagem são reveladas a cada linha, porém, percebemos que autora nunca entrega verdadeiramente todos os detalhes, ao ponto que o desvendemos completamente, um grande trunfo na construção narrativa, algo que nos vicia pela leitura.

O fato dos pais serem consideramos os principais suspeitos do caso é apenas o início das muitas surpresas que encontraremos ao longo da trama. E isso não é spoiler! Aos poucos desvendaremos nuances de Anne que na verdade não é uma mãe tão exemplar assim e de Marcos, que também se mostra bastante desestabilizado desde o nascimento da filha. O casal que antes fora perfeito revela-se não tão estruturados quanto pareciam ser.

O casal ao lado, Cynthia e Graham, também se mostram indiferentes a situação dos vizinhos e despertam a curiosidade do leitor. Onde eles se encaixariam naquela rede de mentiras? Os personagens secundários são igualmente intrigantes e todos, sem exceção, contribuem com a atmosfera misteriosa que envolve a leitura. Talvez, o único que tenha ficado deslocado, no meu ponto de vista, é o Detetive Rasbach, mas eu entendo que em tramas assim, a polícia sempre está a um passo atrás. Apesar disso, é Rasbach que irá ponderar os vários lados e as várias possibilidades que irão aparecer no caso de Cora. É ele que direciona o leitor para o que pode estar acontecendo entre os depoimentos dos suspeitos e na montagem dos acontecimentos, é a visão externa que precisamos para termos um equilíbrio na história.

Como recebi este livro envolto de uma frauda com um cheirinho de bebê, o perfume acabou penetrando nas páginas e está, mesmo que não intencional, experiência sensorial acabou contribuindo com a leitura. Mesmo desaparecida, a presença de Cora é tão marcante que chega a ser impossível não se sentir angustiada com toda a situação. É possível até sentir uma certa empatia pelos pais e familiares, mesmo quando estamos completamente desconfiados de todos e temos todos os motivos para julga-los. Nisto a autora conseguiu transmitir sentimentos bem palpáveis.

Eu li este livro de uma só vez, pois a história além de envolvente é completamente viciante. Não tem como se concentrar em outra coisa quando só pensamos em todas as revelações e em todos os segredos desvendados nesta história. O leitor até pode crias suas hipóteses quanto ao suspense do livro, mas são tantos fatos e questões novas acontecendo e aparecendo que é impossível que o leitor não se surpreenda com o desfecho. A autora conseguiu com maestria conduzir o leitor a uma montanha russa de emoções em um contexto onde qualquer um pode ser o suspeito e ser capaz de tudo. Recomendo, para ontem!

  • The Couple Next Door
  • Autor: Shari Lapena
  • Tradução: Márcio ElJaick
  • Ano: 2017
  • Editora: Record
  • Páginas: 294
  • Amazon

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