O Livro do Cemitério, de Neil Gaiman, foi originalmente publicado em 2010 e em 2017 esta história ganhou também uma adaptação para os quadrinhos. As adaptações do enredo são de P. Graig Russel e a cada capítulo será ilustrado por um ou dois artistas diferentes, além do próprio organizador. Os nomes que assinam as artes são: Kevin Nowlan, Tony Harris, Scott Hampton, Galen Showman, Jill Thompson e Stephen B. Scott.

Nesta trama seguiremos a história de Ninguém Owens, ou apenas Nin. O menino, quando bebê, foi adotado pelos ocupantes do cemitério que ficava próximo de sua antiga casa, onde sua família foi brutalmente assassinada. Sem ter noção do que acontece, Nin acaba sobrevivendo ao massacre orquestrado por Jack Frost, que tinha a intenção de eliminar todos os membros da família. Nin acabou sobrevivendo ao engatinhar para fora de casa e subir uma colina próxima ao cemitério, onde Sr. e Sra Owens o encontra, dois fantasmas do local.

Após muita discussão entre os membros do cemitério, fica decidido que o bebê deve permanecer no local e ser criado ali. E quem fará a ligação de Nin com o mundo exterior será Silas, um ser misterioso, que vagueira entre o mundo dos vivos e dos mortos. Ele é seu guardião e o responsável por providenciar tudo que Nin precisar para viver, como roupas e comida.

Neste primeiro volume, acompanharemos Nin e sua trajetória, o modo como ele interage com o povo do cemitério e todo o aprendizado que ele vai adquirindo. Ao longo dos capítulos iremos perceber ele crescendo, então é como se cada um fosse um conto diferente, pois há saltos bem grandes de tempo em relação um ao outro. A diferença é notada através das ilustrações também, que ganham traços e características diferentes a cada novo capítulo.

 Nas primeiras aventuras, iremos acompanhar Nin interagindo com outros vivos, como a pequena garotinha Scarlett Perkins, sua incrível tutora Miss Lupescu, que fica com ele quando Silas precisa passar alguns dias fora e também algumas criaturas bem horrendas, como os ghouls. Mas nesta primeira parte da narrativa, o que mais se destaca sem dúvidas é a relação de Nin com os outros moradores do cemitério.

Sua relação com os Owens é realmente a de uma família e percebe-se que eles o protegem de forma única. Todos os fantasmas lhe ensinam valores e compartilham o que sabiam em vida e é muito interessante ver uma criança interagindo com valores, ensinamento mais antigos e fragmentos de um recorte histórico diferente do seu, visto que muitos fantasmas dali viveram em outros séculos.

Nesta leitura acompanharemos Nin até o início da sua adolescência, quando ele conhece um fantasma chamada Elizabeth Hempstock, que fora executada por acreditarem que ela fora uma bruxa e por este motivo está enterrada numa área diferente do cemitério, sem lápide e em solo considerado não sagrado. Aqui existe uma brecha para o público, juvenil ou não (pois a leitura deve entreter todas as idades), buscar informações e entender o porquê existirem estas diferenças. O início da amizade de Elizabeth e Nin só começou, mas já possível perceber que será uma amizade bastante importante para o garoto.

A leitura finaliza com um cliffhanger bastante interessante, que traz o leitor de volta para o mistério da trama inicial, o motivo por trás do assassinato da família de Nin e do porquê ele ainda estar sendo procurado pelo assassino de seus pais.

O Livro do Cemitério é uma leitura intrigante, que inicia de forma pesada, mas que vai ganhando forma através do realismo mágico apresentado pelo autor. A leitura é cheia de ensinamentos, fantasia, elementos sobrenaturais e há até espaço para um pouquinho de humor! É por este motivo que achei que P. Craig Russel conseguiu equilibrar a atmosfera sombria criada pela história de Gailman, sem se perder nos detalhes que fazem da leitura algo leve e fluído.

Aliás, algo me chamou bastante a atenção ao longo da leitura que é a presença da Senhora Cinzenta. Não demorei a perceber que ela é a morte e que está presente desde o início da história, quando os fantasmas decidem adotar Nin, até a últimas páginas deste volume, quando temos certeza que Nin tem uma relação muito próxima a ela. O que faz todo o sentido visto as circunstâncias que ele foi parar no cemitério, o seu lar agora. Espero vê-la mais nesta história.

A continuação foi lançada agora em 2019 pela Editora Rocco e em breve volto para eu comentar o que achei do segundo volume e conclusão da história de Ninguém Owens, do seu guardião vampiro, sua tutora lobisomem e seus amigos fantasmas.

  • The Graveyard Book, Volume 1
  • Autor: Neil Gaiman, P. Craig Russell
  • Tradução: Ryta Vinagre
  • Ano: 2017
  • Editora: Rocco
  • Páginas: 192
  • Amazon

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