Publicado em 1963, com dois métodos de leitura, O Jogo da Amarelinha, de Julio Cortázar é uma das maiores obras da literatura latino-americana. Cortázar inovou a escrita de romances da época com a proposta de uma leitura que fugia da forma tradicional. É claro que o autor manteve no romance a opção de leitura em ordem de capítulos, do 1 a 56. Contudo é na segunda forma que está a inovação, a ideia é que o leitor siga a (des)ordem de capítulos recomendada pelo autor, assim a leitura deve começar pelo capítulo 73, seguindo pelo 1, 2 116 3 84…. Além disso, quando escolhemos ler o livro dessa maneira, não há final, pois há um ciclo sem fim nas indicações de Julio Cortázar.

Independente da forma escolhida pelo leitor, a trama central é focada em Horácio Oliveira e Maga. A narrativa é dividida em 3 partes: Na primeira,“Do lado de lá”, acompanhamos o casal Horácio e Maga em Paris, seus encontros e suas reuniões com os amigos. Na segunda parte, “Do lado de cá”, Horácio está de volta à Argentina e está morando com seu amigo Traveler e com sua esposa, Talita. Já na terceira parte, “De outros lados”, encontramos os capítulos prescindíveis. Aqui a ideia é apresentar um conteúdo extra para as duas primeiras partes.


Eu sempre tive uma obsessão por esse livro, mesmo sem saber sobre o que era seu enredo. Quando a Companhia das Letras anunciou a nova edição, eu fiquei enlouquecida para finalmente conhecer a história. Dentre as duas formas de leitura, eu quis já começar pela mais completa e difícil, a segunda. Hoje, com a leitura feita, eu posso dar a seguinte recomendação: leia primeiro a forma linear, para somente depois de saber bem a história ler a segunda, pois com a situação bem explicada, o excesso de informação extra não te deixará confuso.

É complicado e delicado falar da escrita de Julio Cortázar, ele não segue uma linha, o que é muito significativo nessa obra, pois a proposta do livro é fugir do convencional da época. Com isso, há capítulos descritos tanto em primeira quando em terceira pessoa; capítulos de todas as extensões e capítulos que ao meu ver fogem totalmente da trama central, como frases filosóficas, trechos de livros, entre outros. E na terceira parte da obra, que deve ser lida caso você escolha o segundo tipo de leitura que está a maior quantidade de trechos filosóficos. A leitura dessa forma também é bem mais lenta, pois o vai e vem e a procura pelo capítulo específico demandam tempo. Por isso, esse livro deve ser lido com muita calma.

Maga foi minha personagem favorita, ela tem uma opinião forte e muita personalidade, é muito preocupada com seu filho e aproveita sempre os momentos com Horácio. Contudo Horácio me irritou em alguns momentos, por mais que gostasse de Maga, algumas atitudes não me convenceram. Apresentou ciúmes desnecessário e falta de empatia em relação a Maga. Tudo isso vai ter consequências em sua vida e vemos elas na segunda parte da narrativa. Apesar de gostar mais de Maga, foi a segunda parte que eu mais gostei, a que se passa na Argentina. O casal que acolhe Oliveira é muito engraçado e dá um toque mais leve a leitura.

Essa nova edição, traz alguns textos extras. Em A História de O Jogo da Amarelinha nas cartas de Julio Cortázar, há dezenas de cartas escritas pelo próprio autor a muitos de seus conhecidos contando sobre o livro seu processo de escrita. Há também cartas de quando ele enviou exemplares do livro depois que ele foi publicado. Este conteúdo é bem bacana, pois dá para saber bem qual o objetivo do autor e o que as pessoas acharam do livro na época. Mais três textos completam a riqueza de informações extras sobre a importância do livro: O Jogo da Amarelinha, por Haroldo de Campos; A Atualidade de O Jogo da Amarelinha, de Julio Ortega; e O Trompete de Deyá, de Mario Vargas Llosa.

Eu consigo compreender a importância do livro , além disso admiro muito a escrita do autor, contudo eu queria ter gostado mais do livro. Por isso, acredito que em outro momento da minha vida devo reler essa obra. O Jogo da Amarelinha em sua des(estrutura) é um protesto de liberdade. Dentre suas páginas há amizade, alegria, medo, amor, Resumindo, um livro sobre a vida.

  • Rayuela
  • Autor: Julio Cortazar
  • Tradução: Eric Napomudeno
  • Ano: 2019
  • Editora: Companhia das Letras
  • Páginas: 592
  • Amazon

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