Jake e Alice tinha acabado de se casar, um dos presentes que receberam no evento foi um convite para participassem da reunião de um grupo secreto e seleto. O principal assunto do clube eles sequer sabiam, mas mesmo assim foram até o local marcado. Lá eles descobrem que o pacto é um grupo de pessoas casadas, muito bem organizado, com diversas regras e a ideia principal do grupo é bem simples: pessoas casadas, seguindo regras, criarão famílias bem estruturadas, serão bem sucedidos e terão uma vida melhor e com mais conforto.

Não demora muito para que Alice comece a não concordando com algumas regras do clube, ela e Jake parecem ter infringido alguma das leis e não sabem o que acontecerá quando os responsáveis descobrirem.

O Pacto traz uma estrutura muito interessante, o clube secreto é extremamente organizado, contando com integrantes ligados a vários países  e uma forma bem interessante de “espionar” principalmente os novos integrantes. O desenvolvimento dele é rápido e isso faz o interesse do leitor aumentar cada vez mais, esperando que o mais novo par de marido e mulher comece a se meter em encrencas ligadas à participação do clube, e isso acontece logo.

A leitura se mostrou extremamente interessante, com ideias absurdas mas que mesmo assim fazem o leitor refletir sobre a vida, principalmente para mim, que sou casado há mais de 10 anos. A ideia de “Felizes para Sempre”, o pensamento de ser bem sucedido, a importância de uma família bem estruturada, são pontos que constantemente são postos à prova durante nossa vida, além de serem elementos importantes para que exista um sucesso nessa fase, tudo isso é apresentado no livro de uma maneira diferente.

A ideia central é que casais, já bem sucedidos e mais experientes que os novos integrantes, sirvam de exemplo para os recém casados, afinal, pessoas casadas há 30, 40, 50 anos, já sabem os desafios que um novo casal irá enfrentar. Então criaram algo que pode ser visto como uma cartilha, onde mostram as práticas que os pombinhos deverão seguir. E nela são previstas as mais diversas coisas, desde regularidade sexual, até prazos para que o cônjuge tenha conseguido crescer na vida de alguma maneira. O fato é que ela não é uma simples cartilha, é um livro de regras, e quando regras são quebradas penalidades devem ser impostas, e devo lhes dizer que nem Jake, nem Alice, se darão muito bem com as regras. Para piorar, quando você é punido as regras passam a fazer ainda menos sentido.

De forma geral achei o livro muito interessante, ele realmente superou minhas expectativas e a originalidade do enredo é inegável, além do assunto trazer certa complexidade, ele divide opiniões. Certamente alguns leitores acharão abominável o fato de um clube secreto como O Pacto existir, outros com certeza irão dar valor às coisas que o grupo prega, mesmo que discordem da forma como agem, mas o livro sem nenhuma dúvida faz o leitor refletir sobre a importância que há na instituição chamada matrimônio para a sociedade como um todo, e foi em cima disso que eu mais refleti.

Eu casei cedo, minha esposa era jovem também, apenas 20. Meus pais e os pais dela também casaram jovens, assim como nossos avós, que só deixaram de viver lado a lado quando alguém acabou falecendo. Mesmo viúvas nossas avós não arranjaram outros maridos. Isso significa que dou muita importância ao casamento ou que eu julgue que apenas casais que nunca irão se separar podem ter sucesso? Não, óbvio que não.

Contei essa história particular para mostrar que talvez nós já vivamos no pacto, eu e minha esposa com certeza, porque a instituição matrimônio tem uma importância muito grande em toda família, há décadas. O livro me fez pensar como seria recebida pelas pessoas o anúncio da nossa separação, com certeza seria um choque tremendo, mas não seria algo aterrorizante, nossas famílias nos apoiariam mesmo que separados. Mas o contrário, a pressão pela continuidade de um casamento também existe e poderia provocar inclusive permanência da mulher em uma relação abusiva, como vemos em tantas histórias por aí.

Então o Pacto não seria algo tão secreto, já que a sociedade cobra isso, cobra casamento, sucesso e filhos. Quantos casais colocam crianças no mundo apenas para agradar suas famílias e seguir os moldes da sociedade?

Por outro lado, ter pessoas apoiando um jovem casal, mostrando a eles que haverão brigas, que existirão discussões, que problemas vão surgir para colocar à prova o amor entre duas pessoas, quase que diariamente, situações nas quais você achará mais fácil largar tudo e recomeçar de novo, ou que irá jurar para si mesmo que nunca mais irá se relacionar com alguém, ter alguém para mostrar que as coisas são difíceis, mas valem a pena e não deixar você desistir é mesmo muito importante. E pode faltar para muitos pares, já que nem todos terão o apoio familiar e de amigos.

O Pacto tem apenas um defeito como livro, fiquei esperando que a ação que o suspense deveria apresentar acontecesse a todo momento, era como uma bomba relógio infinita, mas que em algum momento ela é detonada, mas demora muito para acontecer, apenas no finzinho da história. E  ela estoura rápido e logo seus resquícios já são recolhidos, fazendo faltar um pouco daquilo que norteia um bom livro de ação e suspense.

De qualquer maneira O Pacto precisa ser lido, é daqueles livros que você lê enquanto reflete sobre as problemáticas, que apresentam coisas absurdas para você, mas que ao mesmo tempo você se pergunta se aquilo não tem algum sentido. Você reage a leitura, seja concordando com o que é exposto ou apenas rejeitando aquilo de forma veemente. E eu, sinceramente, acho que O Pacto causa é o que de mais necessário precisa ser causado pela literatura, pensamentos, reflexões, debates e a busca de um ideal no qual nunca conseguiremos chegar.

Leiam O Pacto, sem precisar criar uma seita pró casamento, mas tendo a certeza de que com apoio de pessoas importantes para nós, conseguimos tudo que queremos na nossa vida.

  • The Marriage Pact
  • Autor: Michelle Richmond
  • Tradução: Celina Portocarrero
  • Ano: 2020
  • Editora: Globo Livros
  • Páginas: 464
  • Amazon

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