Me fascina conhecer autores antigos, que são considerados clássicos. Logo após tomar conhecimento de ao menos um livro de sua obra, e também de pesquisar um pouco sobre a história da vida da pessoa, sempre fico me perguntando – já me ocorreu com outros autores também: “como eu nunca li nada desse autor antes?” E fico me sentindo péssima por não ter dado valor antes, a um(a) escritor (a) tão incrível antes. Logo preciso me lembrar que o mundo, desde os primórdios, é composto por dezenas de milhares de talentos, e seria impossível conhecer e ovacionar todos. Fico muito feliz quando tenho a oportunidade de conhecer, e reconhecer tais obras.

Foi justamente isto que ocorreu com relação à Patrícia Highsmith. Quando recebi o livro, fiz uma rápida pesquisa sobre a autora, e logo descobri que tratava-se da mente por trás de O Talentoso Ripley, logo percebi que o nível seria alto. Mesmo assim, preferi embarcar pelo livro Em Águas Profundas sem nenhum conhecimento da sua história.

Assim, sou apresentada ao casal Victor e Melinda Van Allen, frequentando uma das festas da cidade local. Cidade pequena, daquelas em que todos os moradores se conhecem e são quase que parte da mesma família. A festa em questão era na Residência dos Meller, e logo percebemos que Vic e Melinda não compõe um casal tradicional. Ainda nos dias de hoje podemos dizer que não trata-se de um casal tradicional, agora imagine em 1955, ano de lançamento deste livro.

Melinda, no auge dos seus trinta e poucos anos, é linda e estonteante e tudo que esperava-se é que estivesse rodopiando seu vestido junto com Vic pelo salão. Ela está sim, girando e dançando pelo salão, porém, não é com Vic – seu marido – e sim com Joel Nash, um jovem praticamente desconhecido por todos os presentes na festa. Os olhares são direcionados de Melinda, para Vic – que parece não demonstrar desconforto com a exagerada interação de sua esposa com o outro homem. Vic está tão entediado com a festa, que em um dos únicos momentos à sós com Sr. Nash., diverte-se confidenciando ao homem que matou o antigo “amigo” de Melinda – que havia sido encontrado morto dias antes em seu apartamento.

Quando Melinda se cansa da festa, lá está Vic, de prontidão para levar a esposa para a casa que os dois moram com a filha Trixie. Melinda gosta de dar jantares para seus pretendentes, regados à muitos drinques, até altas horas da madrugada. Vic, que dorme em um anexo da casa, quase sempre fica até o final dos jantares, mas por vezes, entedia-se com Melinda e o jovem da vez – e seus assuntos sem profundidade – e retira-se para seus aposentos, onde lê e edita livros que irá publicar na sua editora, e cuida das suas lesmas de estimação. Tudo isso sempre depois de dispensar toda a atenção de que Trixie demandar, já que a menina tem uma mãe completamente ausente.

Além da falta de maternidade por parte de Melinda com relação à Trixie, a única outra coisa que parece realmente aborrecer Vic, é quando seus melhores amigos demonstram tristeza e pior – pena – de Vic. Mais do que aborrecido, Vic fica envergonhado, de ser taxado como alguém que não tem forças para reagir a série de insultos que a mulher o dirige. No desenrolar dos fatos, observamos que a simples “brincadeira” de Vic com o Sr. Nash atinge proporções maiores que a desejada, e logo, é o assunto mais falada na cidade e seus arredores.

Sou um pouco chata com autores novos – para mim – e é difícil quando fico realmente tocada com a escrita. Neste caso, o termo correto seria chocada. Fiquei tentando imaginar como foi a recepção desse livro na época que foi escrito, não consigo deixar de lado o ano em que esse livro foi lançado pela primeira vez. O título desse livro é perfeito, de uma maneira que não fica clara logo no início.

Vamos navegando cada vez mais nas profundezas da mente do nosso narrador – Vic – e também de Melinda. O relacionamento é extremamente conturbado e o desenrolar que Patrícia propõe é brilhante. Após o término desta leitura, conversei com um amigo que também havia finalizado, e percebemos que mesmo após as trocas de impressões, ainda ficamos com um pouco de dúvida sobre a personalidade e ações de alguns personagens.

A autora aprofunda demais a psique humana, e fiquei muito tempo após a leitura fazendo análises, que acho, nunca finalizarei. Só me resta ler o máximo de livros possível desta mulher incrível (próximo da lista “O Talentoso Ripley”, com certeza) e também levantar sua bandeira e indicar para o máximo de pessoas que eu puder. Leiam Patrícia Highsmith!

Enjoy!
XO

  • Deep Water
  • Autor: Patrícia Highsmith
  • Tradução: Roberto Muggiati
  • Ano: 2020
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 304
  • Amazon

rela
ciona
dos