Muito antes de Drácula existiu Carmilla, a vampira de Karnstein. A ficção gótica, escrita por Joseph Sheridan Le Fanu, foi publicada entre os anos 1871 e 1872 e é considerado um clássico da literatura britânica. No enredo somos apresentados a primeira vampira feminina da literatura, que inspirou diretamente obras como Drácula, ao lado do conto O Vampiro, de Polidori.

A história é narrada por Laura, uma garota perto dos seus 19 anos que perdeu sua mãe muito cedo e que vive sozinha com seu pai em um castelo de Estíria, Áustria. É ela quem narra os dias passados na companhia da misteriosa Carmilla e os eventos estranhos que ocorreram na região desde a chegada repentina dela. A hóspede inesperada chega para fazer companhia para Laura, que logo se vê envolvida pelos encantos de Carmilla. E aqui, mesmo que debata o romance sáfico com certa prudência do qual a época exigia, claramente Le Fanu apresenta o início de um relacionamento amoroso entre as duas personagens.

O autor se utiliza da sedução e do erotismo nas ações de Carmilla, visto que a atração lésbica entre as duas é a principal dinâmicas que Carmilla utiliza para se aproximar de suas vítimas. Sem dúvidas essa foi a principal característica que Bram Stoker pegou para seu próprio vampiro e que também inspirou inúmeras outras histórias em que apresentam vampiros sedutores, um outro exemplo claro dessa influência são As Crônicas Vampirescas de Anne Rice.

A história é uma novela, portanto, além de muito envolvente, a leitura flui muito facilmente. Logo somos fisgados e queremos muito desvendar os segredos de Carmilla e por quais motivos ela escolheu Estíria para mais uma estadia. Eu adorei a personagem e como ela se apresenta de forma extremamente sedutora. Sua relação com Laura nos causa receio, pois logo passamos a temer pela vida da garota, que além de encantada pela sua nova amiga, se prova bastante inocente.

As facetas de Carmilla são muito bem trabalhadas, mesmo que em tão poucas páginas. Ela caminha entre sua graciosidade e seus rompantes repentinos e acessos de raiva. Aliás, a vampira apresenta diversas habilidades, provando ser uma história com originalidade. A vampira de Karnstein se transforma num gato preto, ao invés de um morcego e também tem a habilidade de atravessar paredes.

Após finalmente ler Carmilla, percebi o quanto é estranho a obra ser pouco comentada na literatura, obra essa que é de suma importância para o gênero do vampirismo e que inspirou a criação de um dos vampiros mais conhecidos. Se você não conhece Carmilla conheça logo, eu tenho certeza de que você vai reconhecer muitos elementos presentes nesta história em outras, assim como a presença de Baron Vordenburg, o caçador de vampiros presente na obra. Inclusive, se você é um fã apaixonado pelo tema, o conto retirado de Drácula, chamado o “O Hóspede de Drácula” apresenta uma influência muito mais óbvia à Carmilla, que em seu primeiro manuscrito, revelava que o castelo do vampirão se localizada em Estíria e não em Transilvânia. Curioso, não?

A edição da Darkside Books está deslumbrante e conta com belíssimas e encantadoras ilustrações da italiana Isabella Mazzanti e um texto de apoio e tradução de Inéias Tavares.

  • Carmilla
  • Autor: Sheridan Le Fanu, Mazzanti
  • Tradução: Enéias Tavares
  • Ano: 2022
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 192
  • Amazon

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