Violette Toussaint trabalha como zeladora de um cemitério, em uma cidade do interior da França, há 20 anos. Ela cuida do local com muito cuidado e recebe, em sua casa, muitas pessoas que estão sofrendo pelo luto. Ela já virou uma referência na cidade.

Sua rotina de cuidados com o local muda ao receber, em sua casa, Julien Seul, um homem que procura explicações para o último pedido de sua mãe. Antes de morrer, ela pediu para ter suas cinzas colocadas no túmulo de um homem, do qual seu filho nem fazia ideia da existência. Ele está disposto a fazer isso, mas quer saber os motivos desse pedido e, por isso, procurou Violette. Esse estranho acontecimento vai mexer também com Violette. Seu passado e seus segredos vêm à tona e sentimentos, que pareciam adormecidos, despertam.

É muito curioso o fato: saber que todo mundo está adorando uma leitura sem saber sobre o que é o livro. Foi assim com Água Fresca para Flores, eu não sabia praticamente nada, mas percebi um movimento positivo de quem estava lendo o livro. E foi assim, surgiu a vontade de ler essa história.

Fiquei muito surpresa com a estrutura narrativa. Temos o passado e o presente de Violette, um a serviço do outro. Além disso, conhecemos a histórias de outros personagens e da mãe de Julien. Os capítulos são curtos e rápidos de ler, e a autora faz o leitor estar a espera de que algo aconteça, então ficamos o tempo todo de sobreaviso, esperando o pior. 

“Nunca encontramos as pessoas por acaso. Elas estão destinadas a cruzar nosso caminho por um motivo.”

No passado de Violette, descobriremos tudo sobre sua vida, suas relações pessoais e os motivos dela estar trabalhando em um cemitério. Conforme essa narrativa avança, a curiosidade sobre o que aconteceu com sua filha vai aumentando. Eu gostei muito dessa linha temporal, pois há vários momentos de instabilidade e que colocam a protagonista em situação de escolha de seu destino. Ela teve um passado bem pesado e triste em alguns momentos. Isso que faz o sentimento de empatia com Violette crescer durante a leitura. 

A vida de Violette no cemitério é muito peculiar. Ela tem suas roupas separadas em pretas e coloridas, e ela usa de acordo com a situação. Se ela precisa receber alguém de luto em sua casa, usa as roupas escuras. Se ela está em casa sozinha, usa as coloridas. Violette é uma personagem muito interessante e de certa forma atormentada. Eu gostei muito de como ela resolveu guardar os registros dos velórios feitos no cemitério, pois traz algo muito melancólico a narrativa.

“Acreditamos que a morte é uma ausência, quando, na verdade, é uma presença secreta.”

O mais peculiar deste livro é que ele aborda o luto de uma maneira muito diferente e mostra que nem sempre é fácil superar perdas ou mesmo enfrentar o luto. Ao se passar em um cemitério, a história faz o leitor refletir em como esse ambiente é visto pelas pessoas e de como a morte mexe de muitas maneiras com as pessoas. 

Água Fresca para as Flores não surpreende no final, pois a autora dá indícios até mesmo de suas reviravoltas. Mas isso não é negativo, pois os assuntos trabalhados no livro nos fazem refletir sobre nossas decisões, nossos amores, a vida e a morte. Além disso, mostra que precisamos sempre trocar a água das flores.

  • Fresh Water for Flowers
  • Autor: Valérie Perrin
  • Tradução: Carolina Selvatici
  • Ano: 2022
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 480
  • Amazon

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