Della e Suki passaram por muitos momentos dolorosos juntas, a mãe foi presa e o namorado dela ficou cuidando das meninas, contudo ele foi uma pessoa horrível no tempo que ficou com elas. Com muito medo do que pode acontecer, elas conseguem se livrar dele e vão para uma casa de acolhimento. As duas vão precisar superar, cada uma à sua maneira, os acontecimentos passados para seguir com a nova vida.
Eu sou apaixonada pelos livros A Guerra que Salvou a Minha Vida e A Guerra que me Ensinou a Viver, por isso fiquei muito feliz com um novo livro da autora. Ao contrário dos livros anteriores, aqui a autora vai falar de um tema mais pesado e delicado.
Que Kimberly Brubaker Bradley é uma excelente escritora eu já sabia, mas aqui ela provou de vez que tem um jeito muito sensível e bonito de falar de assuntos pesados. Fica muito claro desde o início da narrativa os abusos sofridos pelas meninas, mas em nenhum momento se fala diretamente sobre o assunto. Isso mostra a sensibilidade da autora de mostrar que cada um tem seu tempo para assimilar os acontecimentos e lidar com seus traumas.
Della tem 10 anos e é uma fofa. Por ter sido cuidada e protegida durante tanto tempo pela irmã, ela acha que Suki é a única pessoa capaz de cuidá-la. Consegui perceber sua preocupação com a irmã, mas ela também sufoca muitas vezes, pois ela se coloca sempre como prioridade. É muito fofinho vê-la ganhando coisas e fazendo coisas de criança e só sendo uma menina inocente da sua idade. Uma coisa que me incomodou um pouco foi como ela forçava o assunto dos abusos com a Suki e de como ela queria que a irmã fizesse o que ela achava certo, não parecendo respeitar o tempo e o limite da Suki.
Já Suki é a adolescente que mais sofreu nessa história. Agora livre do namorado da mãe, ela pode finalmente viver em paz. Contudo, é impressionante ver como essa nova realidade dá um choque em Suki. Parece que agora que ela e a irmã estão livres, ela pode sofrer e se mostrar frágil. Ela precisou aguentar muita coisa pela irmã, então compreendo o que ela passa quando chega a casa de Fran. Uma nova vida, uma vida feliz e normal, traz sentimentos que entram em conflito com o que ela tinha guardado em seu interior. Fiquei muito feliz vendo ela trabalhar, conversando com outras pessoas e tendo uma boa vida na casa acolhedora. Outros personagens aparecem nesse caminho e vão ser essenciais para cura de Suki.
“Talvez, se mais pessoas sentissem que podem falar a respeito, essas coisas não acontecem com tanta frequência.”
Eu gostei muito de como conhecemos o trabalho das pessoas que acolhem crianças em suas casas. A autora mostra o processo, as obrigações da pessoa que acolhe e tudo que envolve ter crianças e adolescentes morando temporariamente nessas casas de acolhimento. Também ficamos sabendo que muitas dessas pessoas, ao contrário do que se espera, são pessoas ruins e que se aproveitam negativamente da situação.
O que não é o caso de Francine, a mulher que recebe em sua casa as meninas. Ela é uma mulher muito consciente da maldade do mundo e está disposta a ajudar essas meninas, assim como já ajudou outras tantas. Ela ganha dinheiro por isso, deixa claro que é como se fosse um trabalho para ela, mas também é muito humana ao tomar todas as decisões que precisa para o bem das irmãs. Ela faz tudo que precisa e é, de certa forma, muito carinhosa e preocupada. Eu gostei muito dela, pois entendi que o envolvimento nesses casos precisa ter um limite, afinal seu lar é temporário para essas crianças.
Com certeza é um livro com gatilhos e bem pesado em alguns momentos, mesmo que a autora mostre tudo com muito cuidado. Mesmo com tudo isso que falei, eu senti que faltou algo para mim. Sem dúvidas é um ótimo livro, contudo acredito que o assunto foi pesado para mim e automaticamente criei um distanciamento da história, tipo uma defesa. A História que Nunca Contei vai além de um livro sobre abuso, ele fala sobre acolhimento e família.
- Fighting Words
- Autor: Kimberly Brubaker Bradley
- Tradução: Mariana Serpa
- Ano: 2022
- Editora: Darkside Books
- Páginas: 240
- Amazon