Yeongju é uma jovem que decide abrir uma livraria de bairro depois de passar por empregos e se frustrar. Assim, depois de muito refletir, ela decide investir em seu sonho de infância, abrir uma livraria de bairro. Mas abrir um negócio não é uma tarefa fácil, ainda mais em um bairro comum. Com esse desafio pela frente, veremos que muitas questões rondam os pensamentos da protagonista, e, assim como ela, seus clientes vivem dilemas diariamente. Agora, além dos livros, as pessoas que passarem pela livraria vão ajudá-la. 

A primeira coisa que você precisa saber sobre esse livro é que ele faz parte de um nicho literário conhecido na Coreia como de “ficção de cura”. Esses livros têm como premissa apresentar histórias simples, o mais semelhante possível com a realidade para que o leitor reflita sobre as situações do dia a dia. As histórias têm como cenários livrarias, cafeterias, lojas de conveniências e saunas (muito comum lá na Coreia), e abordam temáticas com relações familiares, incertezas, busca por mudanças. Tudo da forma mais próxima ao contexto de vida real da sociedade. 

Logo nas primeiras páginas, percebemos as preocupações de Yeongju com o novo negócio. Ela vai se questionar sobre o que busca para sua livraria de bairro e como conduzir de uma maneira que agrade tanto ela quanto a seus clientes. Yeongju é uma mulher que ama livros e o que eles podem fazer pelas pessoas, mas ela vai aprender que seu amor pela literatura não é tudo quando um negócio depende de dinheiro e boa administração.

Sendo assim, já temos a primeira questão envolvendo a livraria: o que é uma boa livraria? o que os clientes precisam além de bons livros? Com essas e outras questões em mente, Yeongju coloca um café na livraria, contrata um barista, lê diariamente os livros que vende e oferece palestras. Tem um momento muito legal na história no qual a protagonista fala sobre seu modo de  indicar um livro para os clientes, contudo ela chega a conclusão de que, antes de tudo, ela precisa também conhecer sua clientela. Outro ponto importante é a questão dos best-seller, pois Yeongju não quer ficar limitada a eles e gostaria de oferecer outras histórias a seus clientes. Contudo, ela entende a importância de ter em suas prateleiras os livros mais vendidos.

“Quando precisa descobrir se está feliz em algum lugar, ela pensa nestas três perguntas: Eu me sinto bem neste espaço? Eu consigo ser eu mesma e me amar como eu sou neste lugar? Eu me sinto valorizada aqui? Para Yeongju, aquela Livraria preenchia todos os requisitos.”

E a história das pessoas que frequentam essa livraria de bairro que vamos acompanhar. Sendo assim, temos esse espaço servindo de local para que essas pessoas busquem histórias, mas também que compartilhem suas próprias narrativas. Muitos laços irão surgir, e as questões debatidas ali dentro vão refletir na vida pessoal de cada um. É claro que veremos um impacto maior em Yeongju, uma mulher coreana, que deveria estar querendo para sua vida o que a sociedade coreana acredita ser melhor para as mulheres de seu país. Contudo, sua visão sobre trabalho, relacionamentos e seu futuro estão em outra direção. 

Por todas essas questões, que sentimos, numa conversa aqui e ali, como num dia a dia normal, empatia pelos personagens e certa conexão com algum tema abordado. A questão profissional se apresentou com maior intensidade durante toda a trama. E foram essas partes que eu mais gostei e me vi fazendo relações com questões profissionais atuais em minha vida. Todo mundo quer um bom trabalho, com um bom salário, mas, muitas vezes, as pessoas dentro do que já fazem querem mais reconhecimento. Assim, nem sempre ganhar bem faz todo mundo feliz. Além disso, refletir sobre fazer o que se gosta também é uma preocupação de muitos, e mais uma vez, veremos os personagens refletindo sobre algo da vida profissional.

Aliado a isso, está o contexto de morar sozinho. Vivemos em um mundo onde “viver” está cada vez mais caro, dependemos uns dos outros com frequência. Muitos filhos demoram para sair de casa ou até mesmo não conseguem decidir tão facilmente o que querem da vida. A vida de um adulto sozinho é muitas vezes complicada, pois manter financeiramente uma casa não é fácil. É a partir da relação de  Minjum, o barrista, com sua mãe, que vamos refletir essas e outras questões envolvendo família, expectativas e principalmente relação filho x mãe.

Assim, a livraria acaba se tornando um lugar que vai além de sua proposta inicial, com palestras, com  clube do livro e um espaço de aconchego para leituras. Outro ponto importante é o uso das redes sociais aliado a divulgação da livraria. Yeongju está sempre divulgando os livros que chegam e que ela leu, além de anunciar os eventos e informar sobre o funcionamento da cafeteria.

Bem-vindos à Livraria Hyunam-Dong é um livro que de certa forma tem uma pegada de paz, de aconchego. Nada muito extravagante acontece, muito pelo contrário, é um livro calmo e que acompanha os dilemas comuns da vida das pessoas. Assim, vamos aos poucos lendo e se conectando com o espaço e querendo falar para os personagens que entendemos como eles se sentem, pois os dilemas vividos por eles são comuns a todos nós. 

O final pode parecer mais longe da realidade, depois de o livro todo me parecer ser pé no chão. Mas acho que a autora tem um propósito, deixa o final mais leve depois de tanta reflexão sobre a vida. Acredito que dar um incentivo aos leitores de que tudo na vida é passível de mudança e que podemos sim ter realizações, levando em consideração a ficção de cura, faz muito sentido.

Avaliação: 4 de 5.

  • 어서 오세요, 휴남동 서점입니다
  • Autor: Hwang Bo-Reum
  • Tradução: Jae Hyung Woo
  • Ano: 2023
  • Editora: Intrínseca
  • Páginas: 272
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