Maddie tem 25 anos e mora com o pai, que tem Parkinson. Seu irmão mora em outro bairro, e a mãe dela mora em Gana, cuidando de um hostel. O pai tem um cuidador, mas Maddie ajuda nos cuidados desde muito nova, então ela dedica boa parte do seu tempo para ele. Além disso, ela trabalha como assistente editorial.
Ao receber a ligação de sua mãe que diz que está voltando, Maddie se vê diante da possibilidade de ir embora de casa e começar sua vida de adulta independente. Quem sabe, aproveitar umas novas amizades, encontrar um namorado, essas coisas que Maddie abriu mão por tanto tempo. É claro que ao começar nesse vida nova, muitos novos desafios também irão surgir.

Maddie é uma menina muito responsável e desde muito cedo ela precisou estar presente cuidando do pai. Sendo assim, ela se viu desde muito jovem abrindo mão das coisas para estar presente nos cuidados com o pai, abrindo mão de viver. Vamos ver como isso foi doloroso para Maddie e como isso, de certa forma, atrasou a vida dela. Por isso, o começo da leitura é bem leve, pois acompanhamos Maddie se descobrindo como uma mulher jovem, vivendo sua vida de jovem, saindo com amigas, descobrindo gostar de alguém. Maddie é muito meiga e ingênua.
O interessante é que o tom do livro vai ficando mais sério conforme a história avança. Isso porque, em um momento triste, Maddie e a família precisam lidar com as consequências do futuro. Além, é claro, de aprender a lidar com os sentimentos. Aqui nesse ponto, a relação da família vira um ponto importante, pois Maddie tem muitos anos de mágoas guardadas dentro dela. Além disso, sua relação complicada com a mãe e com o irmão finalmente ganha destaque.
Consegui ver a evolução de Maddie durante a leitura. E isso foi o que me ganhou. No terço final do livro, as discussões ficam mais sérias, e Maddie consegue ter percepções bem inteligentes sobre sua vida e sua relação com a família. Ela não tem medo de expor seus sentimentos e colocar as cartas na mesa para sua mãe e seu irmão. Foi o momento mais emocionante da trama.
“Muitos supõem que o amor seja direto – prossegue Angelina – quando na verdade é a coisa mais complicada do mundo. Há uma maneira certa, uma maneira preferida para cada indivíduo amar e ser amado por alguém, mas não há uma maneira universal. Acredito que a vida se torne difícil porque precisamos compreender e então administrar o modo como as pessoas que amamos expressam e recebem amor. Não pode ser sua responsabilidade, seu fardo, remodelá-las para transformá-las em quem você gostaria que fossem. No fim das contas, deve aceitar a pessoa por quem ela é, como se comporta, como se expressa emocionalmente, e encontrar uma maneira de viver de forma saudável com ela, ou deixá-la ir embora.”

Outro ponto importante é o fato de Maddie ser negra. A maneira como a autora trabalhou as questões raciais do livro foi bem impactante para mim. Nada parece forçado, mas sim muito orgânico. Maddie é a única mulher negra no trabalho, e, em momentos específicos, vamos ver também essa questão na sua relação com as amizades e no seu relacionamento amoroso. Gostei, pois me vi refletindo sobre esses momentos.
Não gostei da parte de Maddie e seu primeiro “namorado”. Ela é muito ingênua, contudo entendi que, como ela não aprendeu muitas coisas, faltava conhecimento e entendimento da vida. Achei ela imatura, mas eu entendo que isso faz parte do histórico da vida dela.
MAAME é um livro rápido de ler, a autora tem uma escrita bem fluida. Além disso, ela usa recursos bem atuais que os jovens usam hoje em dia, como a procura por tudo no google. E temos trocas de mensagens também que ajudam na fluidez da leitura. Eu fiquei levemente incomodada com esse recurso de tudo que Maddie queria saber ela procurava no google. Mas eu entendo as questões dela, pois não teve muito suporte de pessoas explicando a vida para ela. Além disso, ela não se sente muito à vontade para perguntar essas coisas às suas amigas.
O livro é baseado na vida da autora e de sua relação com seu pai. Sem dúvidas, uma ótima estreia literária de Jessica George, que soube emocionar além de abordar questões atuais.

- MAAME
- Autor: Jessica George
- Tradução: Karine Ribeiro
- Ano: 2024
- Editora: Paralela
- Páginas: 372
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