A cidade de Oslo está enfrentando um aumento significativo na criminalidade, a cada dia os policiais e peritos locais são chamados para atender novas ocorrências, mas nenhuma delas até o momento os havia chocado tanto.
Tudo indica que um crime bárbaro aconteceu, há uma quantidade insana de sangue por todos os lados e nenhum sinal da vítima, a única pista deixada pelo criminoso são os números pintados com sangue na parede, o problema é que a monstruosidade volta a se repetir, não apenas uma, mas duas vezes. Como se isso já não fosse o suficiente, uma nova ocorrência chega até as mãos de Hanne Wilhelmsen, a denúncia de uma jovem vítima de estupro.
Hanne ama sua profissão, mas encará-la tem sido um desafio tremendo. Não há investimento no departamento, os crimes aumentam a cada dia e o pessoal para trabalhar nos casos é pouco, a maioria dos casos nem chegam de fato a serem investigados e ela sente que tem falhado como profissional, mesmo que esteja fazendo o seu melhor. Sua vida pessoal também não anda muito bem, ela tem tido dificuldades para equilibrar as coisas, não sabe exatamente como se comportar, ser uma mulher em um meio predominantemente masculino não é fácil, ela precisa se esforçar o dobro e provar a cada dia o seu valor.

Quando finalmente se acalmou, passou a saborear uma espécie de satisfação apaziguadora, pois uma atitude seria tomada; ela ficou atônita. Isso era loucura, pura e simples. Você não pode simplesmente matar pessoas. Mas, se alguém tinha que fazer isso, seria ela.

E é em meio a um verão rigoroso que Hanne precisa se esforçar para tentar solucionar esses dois casos complicados, e é durante as investigações que tudo se torna ainda mais confuso. Entender as motivações, buscar um perfil, tudo se revela um grande desafio diante de tanta burocracia, pouco apoio e nenhuma pista. Mas a equipe de Hanne é inteligente e conforme os dias passam, alguns pontos começam a se ligar.

Números de Azar é uma leitura eletrizante e viciante. Gostei bastante da narrativa da autora e da maneira como ela dá voz a vários personagens, é um verdadeiro mergulho na mente do criminoso, da vítima e de quem investiga. Ao longo das páginas passamos a conhecer um pouco mais de cada personagem e esse foi um dos pontos que gostei na trama, a autora se preocupa em construir personalidades, características e tornar cada individuo necessário e importante para o desenrolar do enredo. Outro ponto muito positivo na obra, é a maneira como a autora abordou as dificuldades enfrentadas por uma vitima de estupro, assim como em seus familiares, é difícil falar deste assunto sem ficar revoltada e inconformada e o livro aborda esse tema de uma maneira bem crua, o que só me deixa ainda mais enojada e sem conseguir compreender o que leva uma pessoa a agredir a outra deste modo.

Entretanto, teve um ponto que me incomodou no enredo, é que a resolução do crime ficou para as últimas páginas e só se revelou o assassino, fiquei esperando por mais explicações, por aprofundamento… não sei explicar exatamente, só sei que para mim faltou um pouquinho mais. Deixou aquele gostinho de que foi bom, mas que poderia ter sido ainda melhor, principalmente diante do desenvolvimento da narrativa ao longo dos capítulos. Mas é importante ressaltar que isso é um apontamento totalmente pessoal e que talvez quando você ler, não venha a te incomodar.

Ela permanecia completamente imóvel, ponderando sobre como agir. Havia sangue por toda parte. No chão. Nas paredes. Até mesmo no teto, havia manchas que lembravam as figuras abstratas de algum tipo de teste psicológico.

Por se tratar de um livro policial, que tem uma investigação, fica difícil colocar em palavras o que li sem soltar spoilers. Mas o que posso garantir a vocês é que nada aqui na trama soa óbvio, a autora sabe nos conduzir por vários caminhos diferentes, criando teorias e suposições. Além de gerar reflexões importantes, é uma crítica a sociedade de modo geral, falando sobre empatia, justiça, humanidade, direito de escolha. Com uma protagonista forte, determinada e muito humana, com anseios, medos e inseguranças, que quer fazer a sua parte, mas que muitas vezes têm suas mãos atadas.

Confira a série Hanne Wilhelmsen

Esse foi meu primeiro contato com a autora e espero poder conhecer outras obras da mesma. Preciso deixar meus parabéns para a Editora Fundamento, diagramação simples e linda, os detalhes realmente fazem a diferença. Beijos, até a próxima!

  • Blessed Are Those Who Thirst - Hanne Wilhelmsen #2
  • Autor: Anne Holt
  • Tradução: Amarilis Okida
  • Ano: 2017
  • Editora: Fundamento
  • Páginas: 206
  • Amazon

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