Apaixonados por clássicos do suspense e terror possivelmente conhecem a fundo todos os detalhes da trajetória, personalidade e crimes cometidos por Norman Bates ao longo do famoso Psicose. O livro de Robert Bloch, bem como a adaptação para o cinema de Alfred Hitchcock, conquistou uma legião de fãs que, além de interessados em acompanhar os passos de um assassino solitário, buscavam uma narrativa bem construída cujo clima de suspense e apreensão eleva-se a cada instante.

Embora aclamados pelo público, além de muitíssimo comentados e indicados por aficionados por terror e suspense, ressalto que meu primeiro contato com a personalidade e comportamento de Norman Bates não ocorreu por meio do clássico Psicose, mas sim pelo seriado produzido pela A&E.

Composta por cinco temporadas subdivididas em dez episódios, a série Bates Motel proporciona ao espectador a oportunidade de compreender o passado de Norman Bates, os eventos que marcaram sua adolescência, a complexidade e profundidade dos problemas mentais que, mais tarde, dariam suporte aos assassinatos e crimes cometidos. Contudo, aqui também conheceremos suas breves amizades e romances, sua relação conturbada com o irmão, mas, principalmente, as nuances confusas, perturbadoras e questionáveis de seu relacionamento com a mãe, Norma Bates.

O gatilho essencial para o desenvolvimento da narrativa interliga-se a busca por distanciamento entre Norma Bates e seu passado, além do obscurecimento de suas conexões com o recém falecido marido. O novo começo ansiado por mãe e filho tem início por meio da compra de uma propriedade composta por um hotel de beira de estrada e uma antiga mansão. Porém, como em toda boa história, o sonho de Norma logo apresenta verdadeiros traços de realidade, direcionando os mais diversos problemas e desafios, assim como alguns perigos que surgem por descuido, ingenuidade ou ignorância, para que esta mãe solteira venha a enfrentar – e aqui não podemos ignorar o fato de que existem traços marcantes de comentários e discursos feministas na figura de Norma Bates.

Embora o início do seriado apresente-se muito mais focado aos anseios de Norma do que a trajetória do famoso Norman Bates, pouco a pouco a narrativa direciona o espectador para as nuances da relação entre mãe e filho, assim como para os indícios da condição do protagonista e os crimes que cometeu desde a adolescência até a fase adulta.

Um aspecto que chama a atenção em Bates Motel é a forma com que o seriado cria duvidas e brinca com os sentimentos e interpretações do espectador. Apesar de, no quesito técnico, construir-se como uma produção de qualidade, ainda que sem fazer uso de fotografia impecável ou cenários deslumbrantes, perdendo ou deixando de aproveitar a chance de elevar o nível dos aspectos visuais, a série conquista pelas atuações acertadas do elenco além da forma com que constrói sua narrativa. Aqui, em diversos momentos seremos tentados a indagar – principalmente nas primeiras temporadas – se Norman Bates não seria um caso trágico de garoto cuja criação e traumas possibilitaram a criação de um monstro. Questionaremos as motivações, os pensamentos, a personalidade e o próprio caráter do personagem pois, na mesma medida em que ele se monstra sombrio e perigoso, também é capaz de manter relações amigáveis com outras pessoas, sendo responsável por alguns atos que muitos poderiam vir a considerar como nobres e provenientes de um bom coração.

Por outro lado, a série também nos leva a questionar até que ponto a relação entre Norman e Norma Bates é saudável e fundamentada no extremo cuidado de uma mãe para com seu filho ou se existe algo mais nesse relacionamento do que os olhos podem observar. Sem bater na tecla da possibilidade de atitudes incestuosas entre mãe e filho, coisa que, aparentemente é ressaltada ao longo do filme e livro Psicose, a narrativa de Bates Motel segue por um caminho um tanto quanto mais sutil, levando o espectador a refletir sobre o que lhe foi mostrado. Aqui, não se trata apenas de superproteção, do excessivo controle de uma mãe para com a vida de seu filho, mas de atitudes e momentos que se encontram no limiar do saudável, demonstrando a tentativa de brincar com a mente do espectador e, confesso ter caído nesta estratégia, uma vez que em diversos momentos me vi simpatizando com Norma Bates por acreditar que algumas de suas motivações eram puras e corretas.

Com ritmo mediano, cenas bem desenvolvidas, narrativa muito bem construída e, principalmente, com atuações acertadas e repletas de nuances – destaque para a maravilhosa Vera Farmiga, nossa eterna Lorraine Warren, e Freddie HighmoreBates Motel amplia e aprofunda a história de Psicose, oferecendo aos fãs a chance de compreender e conhecer nuances, detalhes e a própria trajetória de personagens que marcaram sua experiência com a leitura do livro ou do filme de Alfred Hitchcock. Apesar de interessante indicação para os fãs, o seriado também se destaca como maravilhosa porta de entrada ao mundo e contexto de Psicose – lembrando que aqui ressalto minha experiência enquanto leiga ao universo da obra original – oferecendo aos apaixonados por séries uma história de qualidade que não pretende ser algo mais do que é, não ignorando, porém, o fato de que a qualidade é importante para direcionamento e conclusão de uma história.

Livre de sustos, fantasmas vingativos e sangue em abundância, Bates Motel é a indicação perfeita para quem busca aproveitar o Mês do Terror na companhia de assassinos, relacionamentos conturbados e histórias repletas de nuances. Além disso, para aqueles que sempre sentiram curiosidade com relação à Psicose, aqui está uma indicação interessante para conhecer um pouco da famosa história.

 

  • Bates Motel
  • Lançamento: 2013
  • Criado por: Anthony Cipriano, Carlton Cuse e Kerry Ehrin
  • Com: Vera Farmiga, Freddie Highmore, Olivia Cooke
  • Gênero: Suspense, Mistério, Drama
  • Duração: 10 episódios – 45 minutos

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