A incrível série distópica Scythe chegou ao seu final, a trilogia iniciada em 2016 com o lançamento de O Ceifador, chegou ao seu derradeiro episódio no pandêmico ano de 2020, com O Timbre. Hoje vamos conversar um pouco sobre este último livro, além de contar o que eu achei da série como um todo.
Começo falando que O Ceifador nunca foi um livro que me chamou a atenção, sempre passei batido por ele nas livrarias, mesmo que o gênero distopia seja um dos que me encanta, não dava muita bola para a publicação, principalmente por já ter lido outros livros de Neal Shusterman e não ter gostado de nenhum. Mas ver alguns comentários sobre o livro, já sob o furor de seu lançamento em outros países e o iminente encerramento da série, me fizeram dar uma chance para a trilogia.

Atenção! Esta resenha poderá conter spoilers

O primeiro livro da trilogia me encantou de uma forma absurda, as ideias que o autor apresentou, a forma como os assassinos eram os personagens principais da história, como o mundo tinha resolvido o problema de doenças e da morte em geral, tornando os humanos imortais, mas mesmo assim seguindo com problemas. E principalmente a quantidade de ação que está presente neste volume inicial me fez perceber o quanto isso era original e encantador aos meus olhos, eu fiquei sedento por mais daquilo. A Nuvem, segundo livro da série, já tinha sido lançado, e aí confesso que me decepcionei, acho que fui com muita sede ao pote, estava com uma expectativa de ver sangue escorrendo das páginas, de ver o mundo seguir em uma louca luta da ceifa, mas as batalhas épicas cessaram, A Nuvem apresentou uma visão bem política da história, trazendo novos elementos para ela, freando a tônica do livro e mudando seu ritmo.

Na minha percepção é com se o gênero do livro tivesse mudado. Não que o história deixe de ser uma distopia, mas o primeiro livro é claramente um livro de ação acima de tudo, o segundo se torna mais cerebral. Neal consegue inclusive alterar a percepção que o leitor tem sobre alguns personagens entre um livro e outro, sem que seja incoerente ou que não respeite o universo criado por ele.

Sendo assim, eu não sabia o que esperar de O Timbre, enrolei, enrolei, demorei, o ano virou, e não tinha mais saída, precisava deixar meu medo de lado, e lhes digo que o livro é incrível! Que leitura fabulosa, que fim de trilogia magnífico, que sensacional!

Se o primeiro livro é de ação e o segundo é político e estratégico, o terceiro é uma imensa aventura em busca do desconhecido, que pode ser a única salvação para aqueles que ainda restam. Os elementos escolhidos por Neal para construir esta obra são de um primor, de uma perfeição tão impressionante que essa trilogia será lembrada por muitos anos ainda, vai ser daqueles livros que você vai procurar em sebos e a sua finalização corrobora muito para que tudo se encerre em grande estilo.


Em O Timbre vamos saber as reações de Nimbo-Cúmulo, 3 anos após o término de A Nuvem, vendo como o mundo reagiu a tudo que Goddard provocou, como as coisas estão e como ficarão, se ainda há alguma saída, quem ainda é confiável e quem ainda permanece vivo, começando uma aventura em busca da salvação de um mundo inteiro, com direito a enfrentamentos de perigos, planejamento de estratégias e maquinações de alianças pela sobrevivência ou pela fatalidade universal.

O Timbre começa logo com uma cena de ação bem forte, que me animou bastante, remetendo à todas mortes do primeiro volume, mas confesso que ele acaba se tornando bem arrastado, devido aos problemas que ainda devem ser resolvidos na trama e às estratégias que precisam ser criadas. O seu ritmo acaba sendo mais parecido com A Nuvem, o que deixa a sequência sem uma quebra tão grande de ritmo. Mas as melhores últimas 100 páginas livro, meus queridos amigos… você chora, luta, grita e torce junto com os personagens. Arrisco dizer que são as melhores últimas páginas que eu já li, elas passam emoção, dão intensidade à obra de uma forma única, reúnem personagens queridos e temidos pelos leitores da trilogia, dando também um enorme presente a quem acompanhou todos livros, encerrando a história de maneira simplesmente épica.

Com certeza este é o livro mais emocionante dos três, com mais frases de efeito e com muitas cenas chocantes, como um bom final necessita, é o mais completo dos três livros e sem dúvida o melhor deles.

Neal Schusterman mostra na sequência dos livros que sabe transitar com perfeição entre diversos estilos de escrita, sabe definir bem o ritmo das obras, dando a intensidade necessária que elas exigem, mas também tirando na hora necessária, ele sabe falar sobre coisas importantes, chocantes, que emocionam. A maneira como ele constrói a série Scythe é muito impressionante, tendo todos elementos necessários para que uma trilogia seja eternizada na lembrança dos leitores. Saber dividir os livros em partes de sua importância para o desenvolvimento da história como um todo é o grande trunfo dela, e onde os autores acabam se perdendo.

Eu consigo perceber também que apesar da sua perfeição, a série não é o tipo de livro que agrada a todos, ela traz elementos de uma distopia quase inimaginável, envolvendo muita coisa real no seu meio, com um grande grau de reflexão e um pouco de fantasia e super poderes, talvez você não vá gostar disso.

O final dessa leitura me trouxe um sentimento controverso. Não me sinto nem um pouco ansioso por ter em minhas mãos uma nova obra do autor e este sentimento vem de, provavelmente, não ter gostado dos livros anteriores dele. Fico com um medo enorme de ver nas livrarias uma nova obra que pode fazer eu me decepcionar e voltar a imaginar o ele como um autor normal, ou até mesmo chato, como eu achava antes de Scythe. Então, prefiro ficar com minha impressão atual, a de que Shusterman é um baita escritor que acaba de nos entregar uma das melhores trilogias dos últimos anos.

  • The Toll: Scythe #3
  • Autor: Neal Shusterman
  • Tradução: Guilherme Miranda
  • Ano: 2020
  • Editora: Seguinte
  • Páginas: 560
  • Amazon

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