Uma das coisas que eu mais gosto é escolher uma leitura pelo título e/ou pela capa e me surpreender positivamente. É claro que isso nem sempre acontece, mas eu tenho muita sorte fazendo isso. Foi assim que escolhi fazer a leitura de Cidades Afundam em Dias Normais, eu amei o título. Felizmente, eu adorei muito essa história também.

Alto do Oeste é uma Cidade no Cerrado Brasileiro. Há quase 20 anos afundou sem explicação dentro de um lago. Foi tudo muito gradual e demorado, sendo que assim, seus habitantes conseguiram ir deixando a cidade aos poucos. Contudo, o inesperado aconteceu, a seca ataca o cerrado e o lago que cobria a cidade secou, revelando Alto do Oeste e suas ruínas. Kênia, uma ex-moradora, decide ir até a cidade fotografar o lugar e buscar respostas a pergunta: O que faziam os moradores enquanto a cidade afundava? O que Kênia não esperava era que também ia saber mais de si ao mexer nessas lembranças.

A verdade de deforma a partir do momento em que alguém a registra.

Quando eu comecei a leitura, já achei genial a ideia principal do livro. Imagina uma cidade ficar coberta de água durante quase duas décadas e depois voltar, por causa da seca do rio. É claro que isso merecia um documentário. Melhor ainda se for gravado por alguém que morou lá antes da cidade ser coberta por água. Eu estava muito otimista com essa sinopse.

A escrita da Aline Valek é muito gostosa e fluída. Achei genial o modo dela apresentar a história, a narrativa é focada no presente e acompanhamos Kênia e seu colega argentino nas entrevistas para o documentário. Assim sempre que alguém vai contar algo, somos transportados para o passado para conhecer aquele personagem e o que acontece com ele. Além disso, temos um caderno de recordações de Tainara, que foi escrito como um trabalho escolar. E assim ficamos sabendo o que aconteceu com a dona do caderno, Tainara, mas também com os outros moradores do local, principalmente com Kênia.

Apesar de parecer que Kênia é a personagem principal aqui, eu divido esse papel dela com a Tainara. A narrativa do caderno de lembranças me ganhou, e eu ficava muito envolvida cada vez que entrava nessas lembranças. É muito interessante ver como lembrar de alguns acontecimentos que estão sendo narrados impacta Kênia. Há muitos outros personagens em destaque, a professora/diretora, Érica, é simplesmente uma mulher incrível. Eu adorei ela. É muito legal acompanhar o passado e ver depois porque alguns personagens resolveram voltar para cidade tantos anos depois. Ou então ficar com aquela curiosidade de saber o que aconteceu com os que não voltaram.

Aline Valek descreve muito bem a cidade no antes e no depois, eu tenho a imagem dela muito viva em minha cabeça, consigo até ver a água avançando pela cidade. É aquele típico livro que não há grandes reviravoltas e nem grandes acontecimentos, mas há muito envolvimento pelas histórias desses personagens. Eu fiquei ligada a toda a cidade e seus moradores, acompanhei as brigas, as lutas e as superações de cada um como se eu mesma estivesse ali na cidade.

Apesar de não ter concordado com o final, eu entendi porque a autora achou justo terminar a história daquela maneira. Cidades Afundam em Dias Normais é aquele típico livro que ganha o leitor aos poucos, a gente acha que nada está acontecendo, mas quando vê estamos apaixonados pelos personagens e suas histórias. Um livro que fala sobre o poder das relações e das marcas que o passado deixa tanto na gente quanto nos lugares.

  • Cidades Afundam em Dias Normais
  • Autor: Aline Valek
  • Tradução: -
  • Ano: 2020
  • Editora: Rocco
  • Páginas: 256
  • Amazon

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