Já faz um tempinho que li Columbine, de Dave Cullen, mas empurrei esta resenha o quanto deu, justamente por se tratar de um tema tão pesado e complexo. É importante salientar que a leitura deste livro não é recomendada para menores de 18 anos e pessoas sensíveis.

O Massacre de Columbine High School foi um dos maiores massacres escolares e ocorreu em 20 de abril de 1999. Eric Harris e Dylan Klebold planejaram não só um tiroteio, mas fabricaram bombas, alocadas estrategicamente na cantina da escola e no carro da dupla, para atingirem o maior número de vítimas em seu ataque. Ao todo eles fizeram 13 vítimas, sendo 12 colegas e 1 professor. Após o tiroteio contra a polícia, Dylan e Eric cometeram suicídio no local.

O objetivo do autor Dave Cullen em Columbine é relatar o fato sem as firulas da mídia, trazer à tona a verdade, sem os mitos que foram criados ao longo dos anos e pela imprensa. A crítica a mídia é bastante forte ao longo da leitura e notaremos isso a cada relato e atenção que o autor dá para todos os envolvidos no massacre.

Mesmo não sendo o maior tiroteio em massa norte americano, foi o primeiro na era digital, ou seja, foi amplamente divulgado, inclusive, graças a imprensa, em tempo real. Devido a isso, grande parte do que sabemos sobre o fatídico dia está distorcido ou equivocado. Neste livro, Cullen trará luz aos verdadeiros fatos e aponta todos os erros que foram propagados na época e que permanecem vivos até nos dias de hoje.

Devido a isso, a leitura de Columbine se mostrou importantíssima. Sendo um dos primeiros repórteres a chegar à cena, Cullen demorou 10 anos para completar sua obra, que promove uma discussão mais do que válida sobre a postura da imprensa, que segundo o autor, tentou de todas as formas encontrar a real motivação por trás dos atos de Eric e Dylan, uma resposta que até hoje não se mostra nítida.

Toda esta movimentação em volta do caso, deixou de lado os verdadeiros fatores que contribuíram para o massacre, como discussões envolvendo saúde mental, movimento antibullying e a facilidade em que dois jovens estadunidenses, dentre 17 e 18 anos, conseguiram comprar armas de fogo.

Para chegar a este livro que temos em mãos, Cullen estudou milhares de evidências policiais, entrevistou vítimas, familiares e outros profissionais que também cobriram o caso. Além disso, o autor teve acesso aos diários de Eric e Dylan (presentes na edição), assim como vídeos gravados por ambos. Apesar de todas estas informações, como disse acima, os motivos do ataque continuam incertos, o que se sabe é que ambos, Eric Harris e Dylan Klebold, queriam um ataque semelhante ao do Atentado de Oklahoma (1995) e queriam ser lembrados por isso.

O autor faz um paralelo em sua narrativa sobre o antes do ataque, falando um pouco sobre a vida dos dois jovens, suas relações de amizade e também familiares, o durante (a cobertura pela mídia) e o depois, acompanhando a jornada dos sobreviventes e as consequências do ataque. Columbine nos confronta com a importância de entendermos acontecimentos como este, do porquê acontecem e somos pegos tão de surpresa. Aprender sobre as vidas relacionadas ao dia 20 de abril de 1999 é só o início para tirarmos esta fumaça de incerteza sobre o caso, entendermos os erros cometidos naquele dia para que cada vez menos se repitam.

É impossível não comentar sobre a reação da família Klebold. Por vezes me coloquei no lugar de Sue, mãe de Dylan, que até aquele dia, nunca notara qualquer traço relevante de rebeldia no filho. Ver esta mãe de repente neste furacão e ao mesmo tempo perceber, que ela também acabara de perder um filho é realmente muito impactante. Mesmo não tendo qualquer culpa no acontecido, a culpa que Sue sente te faz refletir sobre o ódio direcionado a ela, “que deveria ter percebido alguma coisa”. Até hoje, Sue é uma ativista sobre saúde mental.

Mesmo que narrado de uma forma muito respeitosa e responsável, tanto com as vítimas e as famílias de ambos responsáveis pelo massacre, notei que Dave Cullen tende a culpar muito mais Eric do que Dylan por todo o planejamento do massacre, esta imparcialidade dele acaba influenciando na nossa opinião também, portanto, é interessante fazer a leitura e conseguir analisar todos os fatos para tirar uma conclusão. Não que eu discorde do autor, mas achei interessante pontuar isso para vocês.

Essa é uma leitura densa e nada fácil, mas eu recomendo demais. É um trabalho definitivo, que aborda todos os âmbitos do caso, mas muito mais do que isso, também critica o espetáculo midiático que foi feito na época, uma cobertura sem limites éticos que tanto dificultam, ainda hoje, em casos semelhantes.

No vlog acima compartilho um pouco com vocês a minha opinião sobre a leitura!

  • Columbine
  • Autor: Dave Cullen
  • Tradução: Eduardo Alves
  • Ano: 2019
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 480
  • Amazon

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