Os Crimes ABC | Agatha Christie

08 ago, 2021 Por Clara Vieira

Os Crimes ABC” é um romance de mistério escrito por Agatha Christie e publicado pela primeira vez em 1936. Trata-se de mais um dos mistérios investigados pelo detetive Hercule Poirot e sua dupla, o Capitão Hastings, que é também o narrador desta história. A narrativa começa quando Poirot recebe uma estranha carta assinada por A.B.C., carta esta cujo conteúdo informa que no dia 21 daquele mesmo mês algo iria ocorrer na cidade de Andover.

Apesar de intrigado e desgostoso em relação ao conteúdo da carta, Poirot a deixa de lado após a polícia afirmar que provavelmente não se tratava de nada além de um trote de mau gosto… Até que o dia 21 chega, e um assassinato ocorre. Ao lado do corpo se encontra nada menos do que um guia ABC das estações ferroviárias da Inglaterra. Este acaba sendo apenas o primeiro dos crimes de um assassino em série que parece matar tendo como regra a ordem das letras do alfabeto. Caberá a Poirot, junto com a polícia inglesa, descobrir quem é este assassino antes que ele continue a perpetrar crimes.

 

Os Crimes ABC foi o quarto livro que li da autora britânica, de modo que eu já tinha uma certa ideia do que poderia esperar da história: um mistério envolvente e breve. De fato, foi o que o livro me entregou. Essa é uma história com bastante enfoque no mistério da identidade do assassino. Acompanha-se passo a passo o desenvolvimento do caso e o raciocínio lógico dos detetives, de maneira a deixar o leitor curioso e instigado a tentar resolver o caso conjuntamente com os personagens principais. Não sobra espaço para desenvolvimento de personagens: muito pouco descobrimos sobre a história de vida de Poirot e Hastings, entendendo aspectos de suas personalidades apenas pelos diálogos travados ao longo da narrativa. 

Fica evidente, no entanto, que esta era a proposta da autora: traçar um livro de mistérios envolvente e rápido, no qual o foco é a ação, e não o desenvolvimento de personagens. Agatha Christie foi extremamente bem sucedida em sua proposta, e o leitor que procurar um livro com estas características provavelmente ficará satisfeito ao escolher ler este livro.

Acredito que seja interessante também comentar aqui também como aparece a questão da loucura nesta história. Ela foi escrita em uma época em que a psicologia, tal como a conhecemos hoje em dia, estava em seus primórdios. Como referência, podemos pensar que o primeiro livro de Sigmund Freud acerca da psique, “A Interpretação dos Sonhos”, foi publicado em 1900, e Os Crimes ABC, em 1936. Assim, é claro que muito da forma de se pensar psicologia abordada no livro, como os diagnósticos levantados por um personagem médico, está desatualizada.

Apesar disso, ainda assim o livro traz um aspecto interessante para lidar com a temática: o protagonista Poirot recusa-se a aceitar a “loucura” como explicação genérica do porquê o assassino comete crimes. Esta recusa é positiva porque este tipo de justificativa reforça preconceitos sociais contra doenças psíquicas. Inventa-se a loucura como termo genérico na tentativa de explicar o incompreensível e inconcebível, como assassinatos. Esse tipo de explicação, no entanto, não explica nada: o que é aquilo que se está chamando de loucura? Quem é aquele chamado de louco? Qual o sentido por trás de seus atos?

Esta última pergunta se mostra como mais importante para Poirot do que uma genérica e preconceituosa afirmação de loucura. O detetive passa, assim, a tentar descrever a personalidade do assassino através das pistas obtidas como uma forma de encontrar o sentido de seus atos, e, a partir disso, tentar descobrir sua identidade. É uma abordagem que não caberia a um psicólogo, é claro, mas serve aos propósitos do detetive e  me pareceu evitar os preconceitos relacionados à ideia de loucura que comumente aparecem em muitas obras de mistério e suspense policial. 

  • The A.B.C. Murders
  • Autor: Agatha Christie
  • Tradução: Érico Assis
  • Ano: 2020
  • Editora: Harper Collins
  • Páginas: 240
  • Amazon

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