Mike Flanagan já era “o” cara para mim. Com uma lista de sucessos sob sua direção como A Maldição da Residência Hill, A Maldição da Mansão Bly, Missa da Meia-Noite, Doutor Sono, Hush dentre outros, não tinha como eu não ser louca por tudo que ele lança. Inclusive, nas últimas edições do nosso especial do Mês do Terror, eu participei sempre resenhando algo dele. Acho que posso dizer que já é uma tradição, e eu não sou louca de fazer algo diferente esse ano (não quero 7 anos de azar!).

Mike iniciou a série – primeiro episódio – batendo um recorde que quem conhece o seu estilo, acharia quase impossível! A série entrou no Guinness Book pela quantidade absurda de sustos aleatórios (jumpscares) em apenas um episódio – foram 21 sustinhos em “O Último Capítulo”. Flanagan considera essa forma de fazer terror preguiçosa, mas disse em entrevista que considerou importante para o contexto em que os sustos estavam inseridos. E eu concordo totalmente, mas para que vocês entendam melhor sobre o que estamos falando, vamos à história da série?

Ilonka (Iman Beson) é uma estudante brilhante, está terminando o ensino-médio, prestes a ingressar na faculdade, quando descobre um câncer terminal. Ela vê todos os seus planos desmoronarem quando pesquisando o seu tipo de câncer, e escutando sua médica, descobre que não lhe resta muito tempo de vida. Em uma dessas pesquisas ela chega ao caso de Julia Jayne (Larsen Thompson), uma jovem que anos atrás, teve o mesmo tipo de câncer, e após frequentar uma espécie de retiro para pacientes terminais, foi curiosamente curada. Ilonka decide que vale a pena frequentar o local e pesquisar mais a fundo a história, quem sabe haja uma gotinha de esperança para ela.

O Brightcliffe Hospice é um local de aparência deprimente e amedrontadora. Além de estar localizado em um antigo casarão, o fato de todos os jovens residentes serem portadores de doenças terminais, não ajuda muito. Ilonka não tem a pretensão de permanecer no local sem fazer nada, apenas esperando o momento da sua morte, e logo começa a busca por respostas. Porém, a primeira coisa que ela descobre, é o Clube da Meia-Noite. O clube é composto por todos os residentes do asilo, onde eles se encontram todos os dias – a meia-noite – para contarem histórias de terror. Além disso, eles fazem um pacto: o primeiro deles a morrer, deve entrar em contato com os demais, de forma clara e que não deixe dúvidas. Isto obviamente se o pós-morte não for um sono, e nada mais.

A cada episódio somos apresentados a uma das histórias de terror dos residentes, e logo fica claro que muito do passado, personalidade e sentimentos do interlocutor, faz parte da história. Flanagan foi brilhante neste ponto: Não conseguimos definir muito bem o que é apenas a história, e o que faz parte da realidade. Alguns personagens foram aprofundados enquanto outros foram tratados de forma mais superficial. Destes que foram aprofundados, observamos que cada tema foi escolhido com cuidado. Kevin (Igby Rigney) é o menino de ouro, com a família perfeita. Sandra (Annarah Cymone) é a jovem devota, que em tudo vê Deus. Spencer (Chris Sumpter) é homossexual e aidético, rejeitado pela família por este motivo, mesmo estando à beira da morte. E a minha favorita: Anya (Ruth Codd), uma jovem bailarina que teve a perna – e todo o seu futuro – amputada em decorrência de um câncer. Não podemos esquecer da nossa protagonista, Ilonka: a jovem brilhante – nerd – que tinha um futuro de sucesso profissional, e que viu tudo indo embora com a descoberta do câncer.

Os primeiros episódios são com composições mais tradicionais nos seriados/filmes de terror – tendo em vista o primeiro episódio, em que Flanagan adicionou os 21 jumpscares. Com o decorrer da série, logo reencontramos o jeitinho Flanagan de contar histórias, com aprofundamento em crises existenciais e profundas reflexões. Nem por isso a série passa a ser um dramalhão. Pelo contrário, os diretores e roteiristas conseguiram injetar nessas reflexões os nossos maiores medos, e todo o sentimento de esperança lançado nos primeiros episódios, foi se esvaindo, colocando os personagens – e nós mesmos – frente ao maior medo de todos: a morte.

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Alguns detalhes aleatórios que me chamaram a atenção e que merecem comentários: Mike Flanagan (e eu também) ama Stephen King! Ele já deu diversas entrevistas comentando isto, dirigiu Doutor Sono, e em um dos episódios – o que Spencer conta sua história de terror – o personagem passou boa parte segurando um livro do King na mão. Só que não era qualquer livro! É o meu livro favorito do King: A Zona Morta. Quase morri de emoção! Adorei também, ver atores que participaram de outras séries do Flanagan, fazendo uma palhinha nas histórias de terror. Meu favorito: Henry Thomas interpretando um músico sombrio pedindo carona no meio da noite.

Minha vontade era escrever um parágrafo por episódio, de tão animada que fiquei com essa série. Apesar de ter gostado muito, eu ainda considero A Maldição da Residência Hill a melhor, mas na sequência (na minha humilde opinião, obviamente) já vem O Clube da Meia-Noite. Quem ainda não assistiu, eu indico fortemente que assista. Os episódios passam rápido, e é tranquilamente possível maratonar a série em um ou dois dias. E quem já assistiu, me falem o que acharam. Preciso falar abertamente sem medo de dar spoilers!

  • The Midnight Club
  • Lançamento: 2022
  • Criado por: Mike Flanagan
  • Com: Igby Rigney, Annarah Cymone, Iman Benson
  • Gênero: Terror, Suspense
  • Duração: 45 minutos

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