Em 2004, Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo virou uma febre, todo mundo lia, amava e se apaixonava pelos personagens. Um tempo depois, o livro voltou a ser pauta, contudo dessa vez com uma carga negativa. Os leitores acusavam o autor de ter colocado no livro uma cena transfóbica. Na época gerou muitos debates e houve pronunciamento até do autor. Anos depois, em 2021, foi publicada uma continuação para a trama, Aristóteles e Dante Mergulham nas Águas do Mundo. Aqui, vamos ver o que aconteceu com esses personagens e ver eles compreendendo melhor a relação deles.

Começando praticamente no momento em que o primeiro livro acaba. Aqui Aristóteles e Dante estão apaixonados e dispostos a enfrentar os obstáculos que aparecerem para ficarem juntos. O último ano do ensino médio está chegando e com ele muitas decisões a serem tomadas. Mesmo que suas famílias tenham aceitado seu namoro, eles estão em uma sociedade tradicional e conservadora (anos 80) e os dois vão precisar lidar com muitas questões envolvendo-os diretamente, mas também outros assuntos pertinentes para época.

Li tanto o primeiro quanto o segundo esse ano, em sequência, por pura curiosidade sobre tudo que rola com essa trama. Confesso que meu problema com a leitura do primeiro livro nem foram os problemas apontados por outras pessoas, mas sim um dos protagonistas, Ari. Então, eu estava curiosa para ver como o autor apresentaria esse personagem numa continuação escrita depois de anos. Dessa vez meu problema aumentou, além de Ari, tive relações complicadas com alguns temas abordados neste livro.

A primeira coisa que fica claro com a leitura é que, levando em consideração tudo que acontece no primeiro, Benjamin Alire Sáenz escreve a trama como uma tentativa de consertar o que incomodou os leitores no primeiro livro. E acredito que foi nessa vontade do autor de mostrar que ele não tem “preconceitos” que ele se perdeu. Há muitos assuntos, todos importantes, claro, sendo debatidos entre os personagens. 

“Você é todas as ruas em que já andei. É a árvore em frente à janela, é um pardal em pleno voo. É o livro que estou lendo. É todos os poemas que já amei.”

Estamos nos anos 80, então sabemos que foi nessa época que a AIDS explodiu no mundo. A relação dela com os homossexuais, o preconceito e o tratamento de saúde que o governo deu a essa doença são apresentadas pelo autor. Achei importante ele trazer isso, pois está relacionado com esse momento, mas eu achei que ele poderia ter trabalhado isso de outra forma. Questões envolvendo preconceito com a comunidade LGBTQIA+, aparecem o tempo todo no livro e estão relacionadas com as incertezas e inseguranças dos protagonistas. Isso ajuda na identificação de muitas pessoas com a trama. 

Ele volta para os acontecimentos do primeiro livro, citando-os e tentando resolvê-los. Só que mais uma vez achei que o autor foi infeliz. Fiquei completamente frustrada em como ele resolve a relação de Ari com o irmão que está preso. Foi decepcionante pra mim. Além disso, há discussões feministas e raciais durante a narrativa, contudo achei esses momentos não naturais e superficiais. 

Eu pensei muito sobre várias questões, tentando compreender os motivos de meus olhares tortos durante a leitura. Cheguei a pensar que o problema está em eu não me identificar com a escrita do autor. Ele exagera um pouco na forma de expressar os sentimentos dos personagens e usa palavras mais poéticas em várias situações. Levando em consideração o público mais jovem, acho que não condiz muito com a realidade apresentada.

Eu compreendo agora todos os motivos das críticas negativas e positivas que essa duologia recebeu. Mesmo que eu não tenha me encantado devidamente por esses personagens, fica óbvio porque Ari e Dante conquistaram tantos leitores. A relação dos dois é muito bonita, mesmo com o Ari meio sufocante. A descoberta do amor e o nascimento da cumplicidade entre um casal sempre dá um quentinho no coração. Nesse livro, eles estão amadurecendo e aprendendo juntos também.

Aristóteles e Dante Mergulham nas Águas do Mundo vai apresentar um oceano de situações, nas quais é fácil para o público-alvo se identificar, além de fazer refletirmos sobre tudo que precisamos enfrentar nesse vasto e grande mundo.

  • Aristotle and Dante Dive into the Waters of the World
  • Autor: Benjamin Alire Sáenz
  • Tradução: Guilherme Miranda
  • Ano: 2021
  • Editora: Seguinte
  • Páginas: 445
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