Entre Mulheres – Crítica – Estante Diagonal

Entre Mulheres é baseado no livro homônimo da autora Miriam Toews, escrito depois de eventos reais ocorridos na colônia de Manitoba, na Bolívia.

Na história acompanhamos mulheres de uma comunidade religiosa patriarcal, que acabam descobrindo um segredo desolador sobre os homens da colônia, elas descobrem que os homens usavam sedativos nas mulheres, adultas ou meninas, para estuprá-las durante a noite. Muitas pensavam ser fantasmas ou o próprio demônio que as visitavam a noite como punição pelos seus pecados e desta forma, a violência já durava anos.

Na religião Menomita, em sua maioria, é tradição só os homens receberem educação. Manter as mulheres longa da escolaridade tem como objetivo de mantê-las totalmente submissas aos membros masculinos da comunidade sem qualquer tipo de questionamento.

A adaptação escrita e dirigida por Sarah Polley é uma resposta selvagem da imaginação feminina a esses eventos. A trama segue através de uma reunião em um palheiro, onde oito mulheres decidirão que caminho devem seguir após essa descoberta.

Acompanhar todos as discussões reais e filosóficas acima da culpa dos homens dessa comunidade, através da perspectiva dessas mulheres, é visceral. Uma conversa aberta com traumas, empática e também desesperadora. Entre as mulheres há quem queira ficar, afinal, não conhecem nada além desse pedaço de terra, há quem quer vingança por proteção aos seus filhos e há quem busque um meio tempo.

É doloroso discutir um tema tão duro nas telas, mas desempenhado com maestria com a atuação tão fortes. No elenco temos Rooney Mara, Claire Foy e Jessie Buckley no centro dessa discussão, além de outros nomes renomados.

A condução dessa narrativa se destaque pelos seus detalhes. As protagonistas são as mulheres e além das crianças, apenas o personagem de Ben Whishaw tem tempo de fala. Todos os outros homens são mencionados, mas seus rostos não são revelados. Há também uma necessidade de escuta no diálogo dessas personagens, cada mulher tem seu tempo para expressar sua opinião e sua perspectiva sobre o futuro, fazendo um balanço entre seus traumas e desejos diante essa realidade.

Apesar de simples, Entre Mulheres tem um roteiro impactante e necessário. O peso de ser baseado em uma história real, termina de deixar o público hipnotizado, o que torna tudo ainda mais revoltante. Como tal coisa poderia ter acontecido? Segundo a Awards Watch, essa história “faz seu sangue ferver enquanto destrói o seu coração” eu não poderia concordar tanto.

Women Talking, no original, é um livro de escuta com diversos contrastes, agridoce, trágico, sensível. Sem dúvidas, uma história que todos deveriam assistir e se preciso, explicado aos homens, devido todas as camadas que essas personagens femininas possuem, histórias e cicatrizes que só mulheres são capazes de entender.

O filme está indicado como Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado e provavelmente ganhará nesta segunda categoria. E vocês já tiveram um tempinho de assistir?