James Joyce – irlandês nascido no ano de 1882 e autor da renomada obra Ulysses – teve sua produção literária elaborada e publicada entre os anos de 1907 e 1939. Embora a leitora que vos fala reconhecesse a existência do escritor e, como muitos devem saber, possui grande amor por obras e autores clássicos, até o momento em que me foi atribuída a oportunidade de realizar a leitura de Dublinenses, eu não possuía o menor conhecimento ou expectativa do que poderia me aguardar ao longo das páginas escritas por este autor.
Neste sentido, uma vez que estamos abordando um livro de contos e um primeiro contato entre a escrita de um autor consagrado e uma leitora que não sabia o que esperar de sua produção literária, considero importante ressaltar que esta não será uma resenha padrão. Minha intenção com este texto está muito mais voltada às impressões de leitura, aos pensamentos com relação ao estilo de escrita e aos pontos positivos desta obra do que relatar o que encontraremos em cada breve história criada pelo autor.
Por que será que palavras como essas me parecem tão apagadas e tão frias? Será porque não há palavra que seja terna o bastante para ser teu nome?
Classificado como um dos livros mais acessíveis de James Joyce, Dublinenses apresenta-se, verdadeiramente, como uma obra fácil de ser lida e compreendida. Sua escrita não exige do leitor uma interpretação absurda com o intuito de revelarem-se os significados ocultos por trás de cada palavra utilizada e narrativa criada, contudo, ainda que se destaque como um livro interessante para aqueles que planejam adentrar e conhecer a obra do autor, é necessário ter em mente que detalhes e contextos culturais e históricos podem perder-se ao longo do processo de leitura. Isso pelo simples e confuso motivo de que um leitor contemporâneo, e aqui não existe crítica nenhuma, não viveu na mesma época do autor e pode não reconhecer os desafios e aspectos que vieram a formar a sociedade irlandesa ao longo de sua trajetória.
Mesmo com toda e cada uma das preciosas notas deixadas pelo tradutor deste livro, a distância temporal entre leitor e período de origem da obra obscurecem características que somente um profundo entendedor da história irlandesa e desafios enfrentados ao longo da construção do país poderia apreender com facilidade. Deste modo, o processo de leitura integra muito mais do que o ato de acompanhar breves histórias sobre personagens específicos com seus problemas, dores, indecisões e conflitos, mas lança ao leitor um quebra cabeça de informações e nuances que, uma vez aceito, podem vir a destacar elementos interessantíssimos dos caminhos históricos da Irlanda.
É este quebra cabeça de informações, detalhes e nuances que mais me agradou e surpreendeu ao longo de todo o processo de leitura. Por não possuir qualquer aprofundamento relacionado ao processo de “colonização”, independência e construção do país que hoje reconhecemos por Irlanda, fiquei muitíssimo encantada ao receber pequenas pistas de suas conflituosas relações com a Inglaterra, dos problemas existentes entre protestantes e católicos – estes, possivelmente herdados da terrível e pouco abordada experiência inglesa – além de detalhes adoráveis sobre a vida cotidiana daqueles que dão nome ao livro.
Para fechar este texto e concluir meus pensamentos, considero relevante mencionar que toda e cada leitura de obras clássicas, ou mesmo tentativas de leitura, são válidas e deveriam ser realizadas por mais e mais leitores contemporâneos. Essas experiências nos mostram o que nos agrada, o que pode dificultar nosso entendimento, o que podemos melhorar em nossa relação com os livros, mas, acima de tudo, apresenta mundos novos, por vezes desafiantes, mas sempre únicos e repletos de um olhar que nunca encontraríamos caso optássemos por ler somente os mais vendidos do momento. Como Dublinenses ressalta tão bem, nem todo clássico é difícil, complexo ou desafiante, muitos podem tornar-se leituras agradáveis e nos ensinar mais sobre nós mesmos, enquanto leitores.
Neste sentido, a leitura desta obra demonstrou que tenho dificuldades de me conectar com personagens provenientes de histórias breves, cuja escrita se assemelha, mesmo com suas peculiaridades e alterações, ao estilo realista e, consequentemente, preocupe-se muito mais em relatar detalhes, características e informações do cotidiano, da vida real, tal qual vivenciada por dublinenses provenientes dos anos de 1910 ou 1930. As particularidades do realismo nunca foram meu forte e nunca conseguiram me convencer, seja pela sensação de que falta sentimento e emoção ao longo do processo de escrita, ou seja pela forma como muitos personagens e situações são trabalhadas, porém, se não conhecesse um pouco da corrente e nunca tivesse tido contato com algumas destas obras, não poderia efetivar a crítica de muitos livros como sou capaz de criticá-los hoje.
Assim, mesmo que Dublinenses não tenha se destacado por entre as melhores leituras do ano de 2018, ele contribuiu para a diversidade de minhas leituras, possibilitou o aprendizado de novas lições e me permitiu conhecer outro clássico. Agora, espero que estas palavras possam te instigar a buscar novos autores e, quem sabe, aprender algumas coisas sobre si mesmo enquanto leitor e sobre alguns dos clássicos da literatura.

  • Dubliners
  • Autor: James Joyce
  • Tradução: Caetano W. Galindo
  • Ano: 2018
  • Editora: Penguin Companhia
  • Páginas: 277
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