Neste segundo volume da adaptação em quadrinhos da obra, O Livro do Cemitério, daremos continuidade a jornada de Nin, o menino que foi criado por fantasmas e por seu guardião vampiro, Silas.

Confira a resenha do primeiro volume.

Aqui podemos perceber grandes mudanças no comportamento de Nin, visto que agora ele não é apenas um garotinho. A leitura inicia com ele adolescente e a concluímos com ele como um jovem adulto. Deste modo, é até doloroso perceber os primeiros sinais de Nin como um “estranho” dentro do cemitério. Logo seus interesses são outros, as histórias dos velhos fantasmas já não o satisfazem mais e ele não vê mais sentido brincar com aquelas crianças, que sempre serão crianças.

Perceberemos esta vontade de Nin, cada vez mais ansioso para explorar o mundo e é assim que Neil Gaiman explora, mesmo dentro de uma história com elementos sobrenaturais, este sentimento que nos acompanha nesta fase da vida. Uma sensação de não se encaixar e de querer procurar o nosso lugar no mundo. Além disso, paralelamente, teremos o desfecho de todo o mistério que se inicia na primeira página do primeiro volume. Quem matou a família de Nin e ainda o procura até hoje?

Assim, esta segunda metade da história se mostra mais ágil, permeada de ação e conflitos. Confesso que esta parte é bem interessante e até engana o leitor em certo momento, mas apresenta uma reviravolta bem surpreendente. Queria saber mais sobre a organização de Jack’s, a relação com o velho conhecimento, assim como a profecia que sempre seguiram e os ligavam diretamente aos seres como Silas. O jeito agora é, quem sabe, esperar que Neil escreva mais sobre Nin e sua relação entre os vivos e os mortos, mas por enquanto ficará só na minha imaginação.

O elo que Nin tinha com o mundo vivo retorna nesta segunda parte também, porém ela é um tanto quanto decepcionante. Humana, mas decepcionante. Esperava mais de Scarlett, mas ao perceber que o mundo de Nin é tão diferente do dela, entendemos a conclusão que o autor dá para este núcleo. Algumas pessoas simplesmente preferem viver na ignorância.

As pessoas querem esquecer o impossível. Deixa o mundo delas mais seguro.

Eu me afeiçoei muito aos personagens, principalmente a Silas e a Sra. Lupescu, assim como a própria família adotiva de Nin. É um pouco difícil me despedir, pois o desfecho não é o mais feliz possível, mas é satisfatório. Fica aquele quentinho no coração que tornará Ninguém Owens alguém especial no mundo e que agora buscará ser alguém, finalmente.

A história seguiu sendo adaptada por P. Craig Russel e alguns ilustradores foram incluídos ao trabalho assim como outros permaneceram. Os ilustradores são David Lafuente, Scott Hampton, Kevin Nowlan e Galen Showman. Gostei muito desta troca de ilustrador a cada capítulo, isso meio que acompanha o crescimento de Nin ao longo da história, pois ele ganha características e perde outras enquanto o traço muda.

Em suma, gosto muito de tramas que abordam nossos conflitos existenciais, ainda mais quando, amarrado a isso, temos um universo amplo, rico e que explora diversos elementos mitológicos e folclóricos que se criou ao longo da nossa existência como contares de história. O Livro do Cemitério é digno de uma mente tão criativa como a de Neil Gaiman. Fantasmas nunca foram tão simpáticos e mais uma vez temos uma história onde veremos que monstros são apenas monstros e que o verdadeiro mal está entre os vivos.

  • The Graveyard Book, Volume 2
  • Autor: Neil Gaiman, P. Craig Russel
  • Tradução: Edmo Suassuna
  • Ano: 2019
  • Editora: Rocco
  • Páginas: 176
  • Amazon

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