Eu tenho um relacionamento complicado com a DC, uma hora eu adoro, outra eu já não sei mais o que sinto. Meu herói favorito deles sempre foi o Batman, apesar de ter adorado o filme da Mulher-Maravilha e simpatizar com o Superman, eu acho que os outros personagens são sempre deixados de lado e parecem sem importância dentro da indústria cinematográfica (já que nunca li hqs). Fora isso, vejo algo de muito curioso envolvendo os vilões de Gotham, eles são vários e são todos muito bem desenvolvidos. Por isso e pela minha estranha simpatia com essas pessoas do mal, eu queria muito ver esses “malvados” ganhando mais destaque dentro dos gêneros que consumo. Logo, fiquei muito feliz com o lançamento de um livro focado na Mulher-Gato.

Mulher-Gato: Ladra de Almas é o terceiro livro da série Lendas da DC e foi escrito por Sarah J. Mass (série Trono de Vidro e Corte de Espinhos e Rosas). Cada volume desta série conta a história de uma lenda da DC e é escrito por um(a) autor(a) diferente. O primeiro livro, Mulher-Maravilha: Sementes de Guerra foi escrito por Leigh Bardugo (trilogia Grisha e duologia Six of Crows) e o segundo, Batman: Criaturas da Noite foi publicado ano passado. O próximo e último volume da série vai ser Superman, por Matt de La Peña.


Selina Kyle vive com sua irmã mais nova desde que sua mãe saiu de casa e não voltou mais. Mas isso é um problema, pois as duas são adolescentes, inclusive Maggie sofre com fibrose cística, e por causa disso precisa de tratamento médico e remédios. Sem assistência familiar, Selina se vê na obrigação de cuidar da irmã, e para isso ela larga o colégio e começa a fazer pequenos roubos. Mas o inesperado acontece e Selina recebe uma proposta, irrecusável de uma mulher desconhecida, vendo como a vida da irmã ficaria melhor, ela aceita entregar a irmã a um casal e embarca com a mulher para longe da cidade.

Passado dois anos, a jovem volta para Gothan com a identidade de Holly Vanderhees. Já na cidade, ela se junta a Arlequina e a Hera Venenosa, para que juntas possam cometer roubos específicos e grandes. Só que nem tudo vai seguir conforme o planejado, Gothan está sem o Batman, mas Batwing está cuidando da cidade em sua ausência. E ele está determinado a acabar com o trio de gatunas. Além disso, seu vizinho de porta será uma pequena distração enquanto tenta seguir seu plano.

Todo bom criminoso de Gotham tem um nome de guerra. Acrescentemos mais um a essa bagunça. Mulher-Gato. Gostei da sonoridade.

Quando eu peguei Mulher-Gato para ler, eu estava preocupada em como a história desta “vilã” seria retratada. Sarah J. Maas assumiu a difícil missão de escrever sobre a única personagem que não é um herói dentro de uma série em que os outros protagonistas são. O lado bom é que a Mulher-Gato nunca foi um vilã total, ela nem sempre foi totalmente boa, nem totalmente má. Com isso temos aqui uma anti-heroína, o que é um prato cheio para a autora trabalhar a dualidade bom/mal que está intrínseco no ser humano. Mas isso me fez questionar também quem seria o inimigo de uma história focada em uma vilã? Com sorte a autora soube inserir um bom vilão para a narrativa.

Achei a escrita da Sarah J. Mass mais madura que a das autoras anteriores, ela também decidiu construir uma história mais adulta, o que deixou a trama mais séria no meu ponto de vista. A escrita dela é rápida e envolvente, o enredo bem elaborada e o fato de ela mostrar uma Mulher-Gato mais velha me ganhou, pois aqueles típicos problemas adolescentes ficaram de fora. Sarah surpreende ao trazer à história outros vilões de Gotham e construir um relacionamento de amizade entre a protagonista, a Hera Venenosa e a Harlequina. Através dessa curiosa “amizade”, a autora vai trabalhar feminismo, sororidade e relacionamento abusivo.


Além disso, a autora mostra que fez o tema de casa e construiu uma história retratando uma Gothan sombria, como deve ser. Além disso, o fato de inserir outros personagens conhecidos também enriquece a obra. Sem falar que mais para o fim da narrativa, ela insere um elemento que faz parte do universo da DC. Outro ponto positivo no livro é o modo como as cenas de ação são construídas, Sarah mostra que sabe fazer uma boa cena de luta, bem descritiva e convincente.

A narrativa dos capítulos é focada ora em Selina, ora em Luke e intercala o presente e o passado desses personagens. Originalmente essa personagem foi criada nas HQs para ser par romântico do Batman, contudo aqui não temos a presença do homem morcego, o que me agradou muito, pois acredito que Selina ficaria ofuscada por sua personalidade. Já Batwing, que é tipo um Robin, é baseado no personagem dos quadrinhos Asa Noturna. É claro que um romance entre eles não poderia ficar de fora, mas não foi nada que melasse muito a história. Selina Kyle é uma mulher determinada forte e também muito sensível, ela está focada em seu objetivo, então não deixa que seu rolo com Luke Fox atrapalhe suas ações. É na figura da Mulher-Gato que percebemos que até mesmo vilões possuem uma história de vida, com sentimentos e preocupações.

Mulher-Gato: Ladra de Almas é o melhor livro da série até agora. Ótimo para quem quer ver uma origem da Mulher-Gato diferente, para quem gosta de livros de super heróis e/ou vilões e tudo envolvendo o mundo do cavaleiro das sombras. Além disso, é claro, para quem curte muito uma protagonista girl power!

  • Catwoman: Soulstealer
  • Autor: Sarah J. Maas
  • Tradução: Mariana Serpa
  • Ano: 2019
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 352
  • Amazon

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