Jake Livingston é um dos pouquíssimos garotos negros de sua escola, e sofre diariamente com racismo de seus colegas e professores. Como se isso não bastasse, o adolescente ainda sofre com outra situação, dita explicitamente no título do livro em sua tradução brasileira: Jake Livingston Vê Gente Morta. Ver diariamente fantasmas presos no momento de sua morte como em um looping e ghouls sugando as energias das pessoas vivas em sofrimento faz com que o garoto tenha dificuldade em lidar com tarefas tão banais como assistir aulas ou socializar.

Mesmo com essa dificuldade, o garoto tenta apenas ignorar o mundo dos mortos e seguir com sua vida. Isso se torna impossível, no entanto, quando Jake passa a ser perseguido por um fantasma sádico que está em uma busca implacável por vingança. Agora Jake terá que lidar com sua mediunidade ou sofrer com as consequências de não o fazer.

Em uma edição com capa maravilhosamente ilustrada, e que ainda brilha no escuro, Jake Livingston Vê Gente Morta é uma história ágil, com algumas cenas sangrentas e tensas, considerando o contexto de que é uma obra voltada para o público jovem adulto. Isto, somado ao fato de que este é um livro curto, faz com que esta seja uma leitura fluída e rápida de ser feita, perfeita para encaixar em uma maratona, por exemplo. 

Creio ser importante destacar que não há grandes mistérios na história. Esperava algum grande plot twist (uma inversão na narrativa), algo que mostrasse que o leitor estava sendo conduzido para compreensões errôneas, mas isso não ocorreu. Identificamos muito rapidamente na trama quem é o fantasma, assim como conhecemos muito claramente sua personalidade sádica. Isto a princípio me frustrou, até que entendi que este não era um livro de reviravoltas, e sim de desenvolvimento de personagens.

Este é um dos pontos altos desta narrativa, inclusive: o processo de mudança pelo qual o protagonista passa ao longo da história. Este processo propõe importantes reflexões para o leitor acerca do que ocorre quando alguém é vítima de algum tipo de violência, considerando o impacto que ela tem em quem a sofre, qual o acolhimento que as pessoas ao redor dão para a vítima, e como a pessoa pode reagir frente a essas situações. Neste sentido, o antagonista desta história também tem um desenvolvimento importante como um contraponto em relação a Jake, ampliando e expandindo os questionamentos e reflexões propostos.

Considerando o quanto esta história entretém ao mesmo tempo em que propõe discussões profundas e importantes, este foi um livro que gostei muito e que recomendo fortemente. Gostaria apenas que o autor Ryan Douglass tivesse se demorado um pouco mais em certas cenas, desenvolvido mais alguns personagens. Talvez o livro acabasse perdendo em fluidez, mas sem dúvidas ganharia ainda mais densidade ao trabalhar com maiores detalhes a história de outros personagens que não apenas protagonista e antagonista.

  • The taking of Jake Livingston
  • Autor: Ryan Douglass
  • Tradução: Adriana Fidalgo
  • Ano: 2022
  • Editora: Galera Record
  • Páginas: 272
  • Amazon

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